Opinião
A importância da felicidade

O conceito de felicidade é, como sabemos, difuso e impreciso. A sua definição varia em função das culturas e dos povos, havendo um ponto de vista ocidental e outro oriental. Não há, portanto, uma visão universal e rígida da felicidade. Mas sabemos que está associada a um sentimento de bem-estar, contentamento, equilíbrio e harmonia.
As pessoas passam muito tempo das suas vidas a trabalhar. E é no emprego que diariamente lidam com alegrias e tristezas, avanços e recuos, sucessos e frustrações, motivação e desânimo. Por isso, são necessárias lideranças que saibam promover a felicidade no trabalho e, assim, valorizar o maior ativo das organizações: as pessoas.
Se as pessoas não se sentirem felizes no seu ambiente laboral, certamente que não terão motivação para desempenhar as suas funções profissionais. Ora, a motivação é um fator crítico para o funcionamento e o sucesso das organizações. Não há organizações eficientes nem competitivas com trabalhadores desmotivados, descomprometidos ou apáticos.
Acontece que, segundo um estudo recente da consultora Gallup, 62% dos trabalhadores mundiais estão desmotivados e descomprometidos com a organização para a qual trabalham. Destes trabalhadores, 15% enquadra-se na categoria de “descomprometidos ativos”. Ou seja, são profissionais que conscientemente falham com as suas obrigações, devido a algum tipo de ressentimento em relação ao empregador. Estima-se que o impacto nas principais economias mundiais do desinteresse dos trabalhadores ronde os 8,6 biliões de euros por ano, o que corresponde a 9% do PIB mundial.
Embora acima da média europeia, só 19% dos trabalhadores portugueses se sentem verdadeiramente comprometidos com os objetivos da sua empresa. O mesmo estudo indica ainda que 44% dos nossos trabalhadores se dizem diariamente stressados e 22% admitem tristeza permanente.
Creio que as dificuldades que as nossas empresas têm para fixar e atrair talento e garantir trabalhadores motivados, comprometidos e produtivos estão para lá dos salários. Embora os salários em Portugal sejam muitas vezes injustos, quando não indignos, as pessoas procuram algo mais. Querem reconhecimento e oportunidades de carreira. Querem exercer funções adequadas ao seu nível de qualificações e às suas aptidões pessoais. Querem conciliação entre a vida familiar e a vida profissional. Querem modelos de trabalho adequados e horários ajustados aos ritmos de cada um. Querem chefias competentes e empáticas, e não apenas focadas nos resultados.
No fundo, as pessoas procuram um projeto de vida. Cabe, pois, às empresas assegurar um projeto de vida aos seus profissionais, que os deixe satisfeitos, motivados e realizados.
As lideranças devem saber lidar com os desafios da falta de motivação ou da ausência de compromisso dos trabalhadores. Para isso têm de desenvolver ou reinventar as organizações, de forma a garantir um ecossistema onde as pessoas crescem, prosperam e triunfam. É este tipo de ecossistema que potencia a produtividade e os resultados das empresas.
Em algumas empresas portuguesas existem já departamentos da felicidade, nos quais se implementa uma cultura organizacional de motivação, reconhecimento e valorização. A felicidade é de facto uma mais-valia, e não apenas para as organizações. É uma mais-valia antes de mais para os trabalhadores e para a sociedade, particularmente numa altura em que um certo desencanto, mal-estar ou ressentimento tende a deslaçar o tecido social dos países mais desenvolvidos.
*Presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários