Entrevista/ “Em quatro meses e sem distribuidor, vendi mais de metade da produção”

Rita Conim, enóloga e produtora do vinho Minoc

Conim é nome de família único em Portugal. Ao nome, Rita juntou a vontade de fazer um vinho único. A partir deste sonho, criou o Minoc que hoje é provado e aprovado.

Alentejana, a jovem enóloga foi estudar para a Escola Superior Agrária de Santarém e deixou-se ficar por terras ribatejanas. Apaixonada pelo vinho, deu a conhecer ao mundo o seu primeiro produto, o Minoc, em agosto passado, numa homenagem à sua família Conim, única em Portugal.

O Minoc nasceu no Ribatejo, mas assume-se como multiregional, numa aposta a curto-prazo pela duplicação da produção e pelo alargamento da produção do Minoc a outras zonas do país. Para nascer o Minoc Douro, o Minoc Dão, entre outros, Rita Conim só precisa do investidor certo.

O Link To Leaders conversou com a jovem empreendedora que, em quatro meses e sem distribuidor, vendeu mais de metade dos 5500 litros produzidos.

Porque escolheu frequentar uma licenciatura em Engenharia Agroalimentar e especializar-se na área da tecnologia do vinho?
Escolhi licenciar-me nesta área, porque os meus avós já estavam ligados à área alimentar, não na produção, mas na comercialização. Sempre estive muito ligada à parte alimentar, desde muito jovem. Quando cheguei à faculdade, tinha três opções: hortofrutícolas, carnes e vinho. Ao vir de uma cidade com grande património vinícola, como é Estremoz, com vinhas lindíssimas e muitas adegas, o vinho pareceu-me ser a opção que faria mais sentido e em que me iria sentir realizada. É uma área fascinante, porque agarra a matéria-prima, transforma-a numa garrafa que é partilhada à mesa com alguém, proporcionando bons momentos e alegria, o que é maravilhoso.

Sempre gostou de vinho ou foi um interesse que se foi aprimorando com a formação?
Sempre gostei. No entanto, foi com o curso que me especializei. Antes, era mais no sentido social, mas com o curso tornou-se mais profissional. Neste momento, ao pertencer à Câmara de Provadores da Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, a comissão que certifica os vinhos da região, tenho a oportunidade de provar vários vinhos, o que é ótimo. São provas cegas.

O que é determinante para si na produção de um vinho?
A qualidade da matéria-prima, que começa na vinha. Eu acompanho, vou à vinha. O facto de não ter uma vinha própria dá-me oportunidade de perceber na região quais são as castas melhores para fazer determinados produtos. O Minoc surge neste sentido. Sou provadora num concurso anual dos produtores da região de Alcanhões, em que me fui apercebendo dos que tinham as melhores castas. Contactei-os e comecei a envolver-me no processo. Isto dá-me a oportunidade de fazer o acompanhamento na vinha. O facto de não ter a minha vinha, se calhar, acaba por ser melhor, neste momento. A partir do momento em que tiver uma vinha, ficarei condicionada àquelas castas e não poderei variar.

Como surgiu o Minoc?
O Minoc é um sonho tornado realidade, a soma de anos de experiência a trabalhar na área de produção de vinho, embora sem vinhas próprias.
Lancei o Minoc a 20 de agosto de 2016. Gostar de um dia lançar no mercado o meu próprio vinho era um projeto em fase embrionária há muito, muito tempo. É a minha alma que está dentro daquela garrafa. É um pouco de mim que tento dar às outras pessoas, a oportunidade de conhecer. É o fruto de experiências adquiridas desde a minha formação até este momento.

Que apoio procurou no início do lançamento do Minoc?
Eu queria lançar um vinho. Se não tenho vinha, tinha de arranjar matéria-prima junto de pessoas que já conhecia e cuja qualidade da uva é boa.  Como não tinha adega, procurei fazer um protocolo com uma adega, onde tenho alguma influência. Estabeleci uma parceria com a única adega cooperativa do distrito de Santarém, a Adega de Alcanhões, também para desmistificar a ideia que existe à volta das adegas cooperativas. Neste momento, as adegas cooperativas já estão equipadas com a tecnologia necessária e com recursos humanos que permitem fazer bons vinhos. Tentei candidatar-me ao 2020, mas o volume de investimento tinha de ser superior ao que era na realidade e ponderei a parte de promoção e divulgação. Tive de pedir crédito, mas consegui fazer tudo por minha conta. Mas não digo que não o faça no futuro. Felizmente, o investimento que fiz, à volta de 11 mil euros, já está pago.

Quando lançou o projeto, o que foi mais difícil para si?
Os fornecedores, a confiança neles. Fui muito defraudada, mas aprendi muito.

Desde o conceito de criar o vinho até ao produto final, quanto tempo demorou todo o processo?
Comecei por definir toda a estratégia. Não tendo matéria-prima, tinha de a arranjar junto de viticultores, que sei que têm boa matéria-prima e que estão dispostos a vendê-la. Depois, foi encontrar o local, a Adega de Alcanhões, e estabelecer uma boa parceria. Talvez tenha começado no início de janeiro de 2016. Depois, passou por registar a marca no INPI, tratar da questão das uvas e de vinificar o vinho na adega. Depois, foi tratar de tudo: design da marca, logotipos… Há um fio condutor em toda a imagem. A história do Minoc é a árvore da vida que está no topo da cápsula da garrafa, como homenagem à minha família. Na caixa do vinho, tenho o nome dos meus familiares até à quinta geração do apelido Conim. Só existe uma família em Portugal com este apelido.

Como caracteriza o vinho Minoc?
Neste momento, o Minoc assume-se como um vinho de autor, de assinatura, porque é exclusivo. Temos vinho branco e tinto. O PVP do vinho branco está em 4,30 euros e do vinho tinto em 5,60 euros.

Quantos litros já produziu até agora?
De tinto, produzimos 3500 e de branco 2000, ou seja, um total de 5500 litros de Minoc produzidos. De branco, já só tenho cerca de 600 garrafas. Em quatro meses e sem distribuidor, vendi mais de metade da produção. Acho que, neste momento, olham para mim e dizem: esta rapariga teve uma ideia e conseguiu concretizá-la, e está aqui a dar cartas. Por isso, vamos apoiá-la.

Onde podemos encontrar o Minoc?
Temos o site em construção. O facto de me ter inscrito numa cadeira de social media ajudou-me a definir a estratégia para a minha marca. Quando iniciei o projeto, não lancei logo o site, por uma questão de prioridades financeiras e optei por uma estratégia do passa a palavra. Neste curso, já consigo perceber o que quero para divulgar a marca e tenho mais sentido crítico. Por isso, comecei por disponibilizar o vinho em algumas lojas em Alpiarça, Almeirim, Santarém e comecei a colocar na Garrafeira de Alvalade e na Sabores do Chiado.  O Minoc esteve em dezembro como o vinho do mês num restaurante em Vila Franca de Xira.

Uma palavra para descrever o Minoc?
Concretização.

Como vê o Minoc daqui a um ano?
Neste momento, tenho o desafio de delinear a estratégia comercial para 2017. Possivelmente, passa por aumentar a produção e arranjar distribuidores. Em relação à produção, quero duplicar. Quero passar para 4 mil de branco e 7 mil de tinto. Já estive a acompanhar a vinha no Alentejo com um viticultor e, possivelmente, sairá um Minoc Reserva Alentejo. O Minoc tem esta particularidade: é multirregional. O facto de não ter vinhas permite-me fazer um Minoc no Douro, no Alentejo, no Dão… Porque não fazer um vinho nestas regiões?

É uma mulher que está à frente de um produto muito associado ao mundo masculino. Sente alguma discriminação?
Não sinto discriminação nenhuma. Costumo dizer que é a Rita entre muitos senhores e sou muito respeitada. Julgo que essa ideia já foi ultrapassada.

O melhor prato para combinar com o Minoc Tinto e o Minoc branco?
Carne de média confeção. Lombo, um magret de pato. O branco tem a particularidade de poder ser degustado como digestivo ou com comida.

Para além do Minoc, que outros sonhos quer concretizar?
Um deles é conseguir criar um espaço, em Santarém, dedicado ao culto do vinho. O vinho anda de mãos dadas com a comida e a música, numa experiência que vai além de uma garrafa de vinho e de um queijo.

Um conselho para quem está a lançar um projeto…
Acreditar e apoiar-se na sua rede de contactos, porque o A pode levar ao B e o B pode levar ao C e, assim, conseguirmos ter confiança no que fazemos.

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