Entrevista/ “Quanto mais rapidamente o dinheiro circular, mais os business angels poderão ajudar os empreendedores”

Janne Jormalainen, presidente da European Business Angels Network

“A EBAN representa um setor com investimentos estimados em 11,4 mil milhões de euros por ano e desempenha um papel vital no futuro da Europa”. É desta forma que Janne Jormalainen, presidente da European Business Angels Network (EBAN), explica em entrevista ao Link To Leaders a missão da organização que preside, ao mesmo tempo que fala das expetativas positivas que tem para o ecossistema europeu de start-ups.

Desde 1999, ano em que foi criada com a colaboração da Comissão Europeia, que a European Business Angels Network (EBAN) tem contribuído para ajudar a criar o ecossistema europeu de start-ups através dos financiamentos da sua comunidade de investidores.

O finlandês Janne Jormalainen é desde outubro de 2020 o presidente da EBAN e em entrevista ao Link To Leaders destacou a atividade da network para “ajudar os business angels a serem mais bem-sucedidos e profissionais nos seus negócios” e do papel dos empreendedores na procura de soluções para muitos dos problemas da sociedade. Ele próprio um empreendedor em série e business angel, Janne Jormalainen é também presidente do conselho de administração em várias empresas e presidente emérito da Finnish Business Angel Network (FiBAN).  

Quantos membros tem atualmente a EBAN e qual é o país mais representativo?
A EBAN é o representante pan-europeu da comunidade de investidores em fase inicial que hoje reúne 149 organizações membros em mais de 50 países. O país mais representativo é a Espanha, com 16 membros, seguida da Suíça com 10 membros.

Estamos continuamente a expandir a nossa rede com novos membros a juntarem-se regularmente. A EBAN representa um setor com investimentos estimados em 11,4 mil milhões de euros por ano e desempenha um papel vital no futuro da Europa, nomeadamente no financiamento das PME.

“Queremos ajudar os business angels a serem mais bem-sucedidos e profissionais nos seus negócios”.

Qual é a estratégia da EBAN para o próximo ano?
A EBAN é a voz dos business angels na Europa. Queremos ajudar os business angels a serem mais bem-sucedidos e profissionais nos seus negócios. Fazemo-lo através da formação e da partilha de boas práticas, eventos de classe mundial e de trabalho com a União Europeia e outras instituições europeias e globais que são importantes para o ecossistema dos BA.

O que o preocupa como presidente da EBAN?
Nós, humanos, estamos a enfrentar questões muito difíceis neste momento; seja a pandemia, as alterações climáticas ou os sistemas educativos ultrapassados. Penso que os empreendedores desempenham um papel crucial na procura de soluções para estes problemas e os business angels devem poder apoiá-los não só com meios financeiros, mas também com conhecimentos especializados e contactos.

O que ainda gostaria de fazer como presidente da EBAN?
Penso que temos de construir ainda mais profissionalismo no ecossistema europeu early-stage, bem como ter mais liquidez no mercado. Pessoalmente, estou interessado em trabalhar para atingir esses objetivos.

Como se tornou um investidor?
Sempre fui muito empreendedor. Comecei a minha primeira empresa quando tinha 19 anos. Penso que é um caminho de desenvolvimento natural que se comece a ajudar colegas empreendedores e a investir nas suas empresas. Isto foi o que me aconteceu.

Há alguma coisa em particular que procure nas empresas a que faz pitchs? Alguma coisa que possa aconselhar aos empreendedores para se concentrarem naquilo que acha que é atrativo?
Olho para as mesmas coisas que qualquer investidor olharia; produto, equipa, escalabilidade e assim por diante. Mas para mim o mais importante é ser capaz de mostrar tração. Mesmo que a empresa esteja numa fase muito inicial, é preciso testar a ideia ou o produto e só o mercado será capaz de dizer se é bom ou mau.

Quais são os maiores desafios para os business angels neste momento?
Embora o mercado de exits seja atualmente muito bom, o tempo de detenção dos investimentos de business angels é muito longo. Isto não é novidade, mas quanto mais rapidamente o dinheiro circular, mais os business angels poderão ajudar os empreendedores.

“A Europa está a produzir grandes start-ups”.

Um relatório da CBNBC diz que os grandes investidores tecnológicos dos EUA estão a avançar para a Europa em número crescente? É uma boa novidade para as start-ups europeias?
É fantástico. A Europa está a produzir grandes start-ups e elas precisarão de fortes apoiantes para se tornarem líderes mundiais.

Foi presidente do conselho de administração da Finnish Business Angels Network (FiBAN). Quais são as diferenças no processo de investimento e as preocupações nesse mercado?
A FiBAN é uma rede business angels muito grande com quase 700 membros e os seus membros investem mais de 50 milhões de euros por ano. Os business angels estão a trabalhar em estreita colaboração e têm recursos fortes devido à grande adesão.

Em muitos países e regiões europeias, as networks de business angels são muito mais pequenas, pelo que têm menos recursos para apoiar os seus membros. Embora os sindicatos sejam formados caso a caso no FiBAN, o processo de investimento é bem padronizado e transparente para business angels e empreendedores.

Quais são os seus principais campos de interesse e mercados para investir neste momento?
Invisto principalmente nos nórdicos e agora invisto muito em educação e na tecnologia da educação. Tradicionalmente, os meus investimentos têm sido principalmente em start-ups de software.

A que países devem business angels e as venture capital estar mais atentos às oportunidades de negócio que representam nos próximos meses?
Existem grandes oportunidades em todos os países da União Europeia. A Europa está a produzir start-ups de classe mundial de uma forma financeiramente eficiente.

Conhece o ecossistema empreendedor em Portugal?
Não posso dizer que seja perito, mas sim, conheço um pouco.

Que conselho daria a todos os fundadores?
O meu conselho aos empreendedores em Portugal seria o mesmo que a todos os outros países da União Europeia: mostre a sua ideia aos clientes assim que puder – prove a sua tração e os investidores vão adorar a sua empresa.

Respostas rápidas
O maior risco
: não fazer bem o trabalho de casa.
O grande erro: o meu primeiro investimento.
A melhor ideia: não importa, só a implementação importa.
A lição mais importante: aprender com os mais experientes.
A maior conquista: cada Exit com mais de 10x.

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