Opinião
Investimento imobiliário e inovação
Fruto da minha atividade profissional tenho acompanhado com muita atenção a evolução nacional e internacional a nível do investimento imobiliário, evolução de mercados, tipos e formas de investimento, eventuais ameaças e riscos causados pelas ocorrências mundiais (e.g. pandemia, guerra na Europa, entre outros).
Acima de tudo, tenho prestado especial atenção à forma como os investidores, privados ou públicos, pequenos ou de maior dimensão, têm procurado contornar as dificuldades e adaptar-se a um mercado que evolui rapidamente, acrescentando novas dificuldades a um ritmo quase diário, mas também abrindo novas oportunidades e perspetivas para aqueles que conseguem ter a visão e a sagacidade para, mais do que reagir aos desafios, antecipar os mesmos e colocarem-se na linha da frente da inovação tecnológica, geográfica ou mesmo comercial dentro deste setor tão competitivo.
Não é segredo para ninguém que o investimento, desenvolvimento e promoção imobiliária são um dos motores fundamentais da economia portuguesa, alavancando milhares de postos de trabalho a nível nacional, direta e indiretamente, e captando para dentro das nossas fronteiras uma quantidade muito considerável de recursos (e neste ponto não falamos apenas de dinheiro, mas também de recursos humanos talentosos, novas tecnologias, etc.) que apoiam e suportam as nossas finanças nos momentos mais difíceis.
Veja-se, por exemplo, que durante os tempos mais críticos da pandemia de Covid-19, o setor imobiliário conseguiu ainda assim ser dos mais ativos e um dos que melhor sustentou a continuação do funcionamento de várias empresas nos mais diversos setores, garantido a manutenção de inúmeros postos de trabalho – e consequentemente de diversas famílias -, ao mesmo tempo que procurou inovar, introduzindo no mercado uma oferta em muitos casos diferenciadora e que procurava atingir o novo mercado que se desenvolvia.
Com efeito, e reiterando este ponto específico, a pandemia veio forçar o desenvolvimento de novas formas de trabalhar – e consequentemente de viver -, potenciando os nómadas digitais e, graças às ótimas condições naturais que o nosso país oferece, atrair diversos clientes internacionais em busca da nossa tranquilidade e espaços abertos, cada vez mais fora das grandes metrópoles.
Este fenómeno que foi possível verificar em vários países, com uma fuga generalizada das empresas e empresários das cidades mais populosas – e como tal mais sujeitas a serem afetadas pelos picos da pandemia – teve como consequência também a abertura de um mercado mais internacional a nível do trabalho – e residência – à distância. Portugal, como é bem sabido, estaria sempre na linha da frente para receber estas novas vagas, especialmente quando consideramos todos os artigos internacionais que nos colocam no topo das preferências internacionais enquanto best place to live e afins.
O que, porém, mais me prende nesta análise que vou fazendo não tem diretamente que ver com as condições que o nosso país oferece. Sabemos que no que diz respeito a sol, praias e amabilidade estamos muito bem, mas não podemos nunca escamotear as dificuldades que ainda assim verificamos a nível de investimento estrangeiro, mormente pela ainda excessiva burocracia, atrasos nos processos de licenciamento, dificuldade em otimizar o sistema tributário e torná-lo mais competitivo, etc.. Esse é um trabalho em curso que, a médio e longo prazo, poderá trazer ainda mais frutos, sendo certo que diversas ameaças como a intenção clara de cessar o célebre regime dos golden visa, os constantes atrasos na aprovação de veículos de investimento imobiliário adaptados a não-residentes, entre outros, poderão ser um constante travão no aproveitamento das oportunidades que, por bem ou por mal, vão colocando Portugal na mira dos investidores internacionais.
Quero sim realçar que, existindo estas oportunidades, tem sido com extremo agrado que me foi possível verificar a proatividade de vários dos empresários residentes no nosso país em adaptar a oferta e investimento que fazem àquilo que são as preocupações e intenções crescentes dos clientes e investidores internacionais. É frequente vermos anunciados projetos imobiliários de cariz sustentável – alguns verdadeiramente originais pela forma como comunicam e se posicionam no mercado -, projetos diferenciados a nível da sua localização, evitando as grandes cidades e, pese embora ainda não abrangendo como seria desejável as zonas do interior do país, posicionado cidades “secundárias” no mapa internacional ou, entre outros casos, oferecendo conceitos verdadeiramente extraordinários, seja pela sua inovação tecnológica ou, em alguns casos, pela simplicidade das premissas que contém.
Costumo pensar que há muitos a fazerem muitas coisas. Mas não há assim tantos a pensarem como deverão fazer as coisas de amanhã, para onde queremos ir. Os mercados são tendencialmente reativos às necessidades dos clientes e é uma lufada de ar fresco poder constatar que no mercado imobiliário, onde é sempre mais seguro oferecer o que o mercado pede e não inventar muito, há ainda bastantes empresários que olham para o futuro, criam a sua visão e, por mais que o mercado atual lhes diga o contrário, persistem, evoluem e, com um pouco de savoir faire, estarão seguramente na “crista da onda” quando o mercado lhes vier a dar razão quanto à visão que tiveram. Parabéns a esses que constroem o nosso futuro de forma audaz e navegam as intempéries da desconfiança!