Opinião
Quando os filhos estão bem, os pais também

Aqueles que, tal como eu, são sensíveis à falta de sol, agraciamos a chegada dos dias longos e do aumento das horas de luz.
Os dias cinzentos parecem ficar para trás e a energia como que se redobra. Dito isto, a verdade é que, todos os que têm filhos em idade escolar, chegam a esta fase esgotados. Enquanto os filhos iniciam o 3.º período, há pais que começam a ver a luz ao fim do túnel, e outros para quem este momento representa um aumento de preocupações.
Os que têm os filhos no 9.º ano debatem-se com a escolha da área de estudo do secundário. Já os pais de alunos no 11.º ano preocupam-se com os exames nacionais e com o impacto das notas no futuro acesso à universidade. E temos finalmente os que testemunham a chegada do final do 12.º ano, com mais exames e com a concretização de uma candidatura ao ensino superior.
Falar com cada um destes pais é entrar em mundos bem distintos e ao mesmo tempo algo semelhantes. Vejamos o caso do Luís. A filha está no 9.º ano, foi sempre excelente aluna e sempre deu a entender que ia para Ciências e Tecnologia. Nos últimos tempos começou a sentir-se muito confusa e não consegue tomar uma decisão. Os colegas vão todos para ciências socioeconómicas e ela está com vontade de fazer o mesmo. A opinião dos pais parece ser pouco importante nesta decisão, o que faz com que o Luís fique extremamente preocupado.
Já a Sofia, que tem a filha no 11.º ano, está mais preocupada com a saúde mental do filho, do que com os resultados escolares. Decidiu que quer ir para um dos cursos de engenharia com uma das médias mais altas, e nos últimos tempos a única coisa que faz é estudar. Deixou de sair com os amigos, quase não sai do quarto e já avisou que até aos exames vai suspender todas as atividades extra-curriculares em que estava inscrito.
A Marta, por sua vez, tem a filha no 12.º ano e assiste com preocupação a chegada do dia das candidaturas à universidade. A Francisca parece não ter nenhuma pista sobre o curso a que se vai candidatar, nem consegue projetar aquilo que poderá ser a futura profissão.
Temos finalmente o Duarte. O filho decidiu que ia estudar Engenharia Informática e, depois do 1.º semestre, descobre que afinal não gosta do curso. O pai tenta perceber como o pode ajudar, mas as respostas de tão evasivas que são, não lhe permitem ajudá-lo. A resposta à pergunta “o que estás a pensar fazer?” limita-se a um “não sei!”.
Estas histórias ilustram apenas alguns exemplos dos muitos que ouço diariamente. Entre a enorme ansiedade dos pais e a falta de autoconhecimento dos filhos, acabamos por encontrar adolescentes perdidos e pais desorientados.
Ajudar os adolescentes a encontrar a sua vocação e propósito é algo que me deixa muito feliz e realizada, mas conseguir trazer alguma tranquilidade aos pais, também faz parte do processo!
Embora não seja um tema muito estudado, segundo um estudo realizado nos EUA com mais de 2.000 pais e mães, e desenvolvido pela empresa britânica de sondagens OnePoll, os pais passam uma média diária de 5 horas e 18 minutos a pensar no bem-estar dos filhos.
Esta preocupação tem um enorme impacto ao nível do sono, mas também ao nível da produtividade e da capacidade de foco. Sendo que, em momentos mais decisivos da vida dos filhos, como são os exemplos que ilustrei acima, é expectável que a preocupação aumente exponencialmente.
Muita desta preocupação advém do facto de os pais não sentirem que têm o conhecimento suficiente para poder ajudar os seus filhos. Para além de que os próprios filhos tomam decisões parcelares, sem terem a noção do todo.
A verdade é que o sistema educativo é complexo e nem sempre fácil de navegar. As primeiras escolhas são importantes e podem condicionar o acesso a alguns cursos e facilitar a entrada noutros. Por outro lado, existem algumas opções que podem ser exploradas, que não foram inicialmente consideradas. Temos também a facilidade ou dificuldade que Bolonha trouxe ao processo, já para não falar da manutenção de mestrados integrados em algumas áreas.
Na Shape Your Future percebemos que este é um caminho que temos que percorrer. Não basta ajudar os filhos, é também importante dar formação aos pais. Felizmente, tal como nós, algumas empresas perceberam a importância deste tema para o bem-estar dos seus colaboradores, e quiseram fazer o caminho connosco, contribuindo assim para o aumento da literacia educativa em Portugal.