Opinião

Quando o maior ativo das marcas são as pessoas

Pedro Celeste, diretor-geral da PC&A

Sabe-se pelas notícias recentes que as Big Tech acabam de despedir, em conjunto, cerca de 30.000 pessoas e prometem continuar esta estratégia em 2023. Com a recente tomada de poder no Twitter, Elon Musk tomou a dianteira neste domínio, seguindo-se-lhes o Facebook e Amazon como os mais expressivos na redução de ativos. Mas o rol continua se mencionarmos a HP, Netflix, Microsoft ou Shopify.

Este denominador comum é exatamente o mesmo que levou todas estas empresas a crescer desmesuradamente no número de colaboradores desde 2020, aproveitando o boom tecnológico decorrente da necessidade de optar pelas soluções digitais, por força da pandemia.

A necessidade de garantir um forte investimento publicitário que garantisse a sua competitividade, num momento particularmente oportuno, alimentou o reforço das equipas comerciais e de marketing. Ora, uma vez conquistadas posições invejáveis a nível mundial pela grande maioria destas empresas, assegurando um distanciamento significativo para os demais competidores, é altura de ler o mercado, interpretar os sinais tempestuosos que sopram de Leste e decifrar a inflação. A retração ao nível dos ativos de colaboradores foi a resposta mais à mão.

Como é simples de compreender, qualquer empresa aumenta resultados quando gere eficientemente uma de duas vias: reforço das receitas ou redução dos custos. Que foi precisamente o que aconteceu, a dois tempos, com as empresas já citadas. É que uma das principais vantagens competitivas que unem estas empresas que lideram o mundo digital, resulta precisamente da sua capacidade em crescer continuamente através de algoritmos cada vez mais aperfeiçoados, capazes de ler o mercado, antecipar necessidades e customizar a oferta e a comunicação.

Mas atenção: é a cultura de empresa, as suas pessoas e a forma como estas concretizam a estratégia em valor para o cliente, que as distingue das alternativas. É assim que, de forma incessante, se permitem perpetuar uma lógica de inovação, criando soluções para os consumidores e satisfazendo o ecossistema de parceiros, acionistas e colaboradores, com resultados grandiosos.

É por tudo isto que esta gestão de sinergias assente na redução de talentos (se o forem) pode constituir-se como um erro imperdoável. É que estamos perante profissionais que operam por equipas que se especializaram na máxima profundidade sobre o tema ou desafio do qual eram responsáveis e para o que tinham total autonomia (e responsabilidade) no que toca à tomada de decisão.

É neste sentido que estes talentos se sentem mais livres para despender mais tempo, testar, errar, testar e investir naquilo que realmente é a sua área de especialização, a par do seu crescimento profissional. Na verdade, esta agilidade confere-lhes a capacidade de desenvolver soluções de muita qualidade, a uma alta velocidade na tomada de decisão, a par de uma excelente execução, sempre com o princípio de servir melhor o cliente.

Se é destes profissionais que as Big Tech se estão a livrar, então há qualquer coisa de profundamente errado nesta estratégia. O Excel aceita de bom grado qualquer simulação que aumente resultados no curto prazo, mas diz a história das empresas que todos os que são talentosos (sobretudo os empreendedores) testarão a sua mais valia num vizinho próximo, com prejuízo de quem os abandonou. E não deixa de ser curioso que a história de vida de muitos destes empresários se construiu precisamente desta maneira.

É bom ter sempre presente que, independentemente do setor de atividade ou dimensão das empresas, o sucesso empresarial se constrói através das pessoas. São elas as protagonistas da força e distinção de qualquer marca. Sobretudo aquelas que estão comprometidas e são briosas, competentes, responsáveis e alinhadas com a cultura e valores da empresa. O insucesso ocorre quando não percebemos isso e os vemos brilhar do outro lado da rua.

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Pedro Celeste

Pedro Celeste

Doutorado em Gestão pela Universidade Complutense de Madrid. Diplomado pelo INSEAD, London Business School, Wharton School, University of Virginia, MIT Management Sloan Management School, Harvard Business School, Imperial College of London, Kellogg School of Management de Chicago e IESE Business School. Na Católica Lisbon School of Business & Economics é Diretor Académico dos Executive Master in Management e coordenador do Programa Avançado de Marketing para Executivos, do Programa de Gestão Comercial e Vendas, do Programa de Gestão em Marketing Digital... Ler Mais..

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