Opinião

Portugal: um hub europeu de Talento?

Carlos Sezões, presidente da Plataforma Portugal Agora

A luta global pelo talento não começou hoje. Tem décadas e acentuou-se com a globalização, a massificação das soluções de transporte e mobilidade e o incremento exponencial das tecnologias digitais.

Esta sociedade do conhecimento torna o tema cada vez mais crítico. Clarificando o meu conceito… Não existe uma definição única de talento em contexto profissional ou o que se podem considerar como “altas qualificações” – e tais premissas serão, também, evolutivas. Mas é relativamente consensual a primazia atual de perfis de liderança, gestão empresarial executiva, empreendedorismo, investigação académica/ científica, das indústrias criativas e das ditas competências STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics).

Como estamos a nível global? É claro para todos que sociedades abertas à diversidade, com orientação à inovação e ao mérito, e com robusto acesso a capital, estão regularmente na linha da frente: dos EUA, Canadá, Austrália, passando por alguns países europeus, como Reino Unido, Suécia ou Alemanha, até a geografias asiáticas como Singapura ou Coreia do Sul, todos eles apresentam bons posicionamentos e track-record nesta matéria.

Quais os factores críticos para se ser bem-sucedido? Para além dos explicitados atrás, existem outros que podem fazer a diferença:  as políticas de vistos/ gestão das migrações, de acolhimento e integração, o envolvimento das diásporas e as políticas fiscais são exemplos concretos.

Como estamos em Portugal? Segundo o Global Talent Competitiveness Index (GTCI) de 2023 do INSEAD, estamos em 27º lugar, com uma tendência positiva na última década. Tal não deve ser surpreendente. Nos últimos anos, gerou-se em Portugal um ecossistema bastante positivo no que concerne à atracção de talento internacional. Desde logo, o estabelecimento de vários centros de competências, inovação e excelência (digital e não só), que geraram milhares de postos de trabalho e trouxeram muitas das competências mencionadas atrás. Muitas grandes empresas têm preferido Portugal para a criação de projectos que possam testar e desenvolver as soluções do futuro, bem como prestar serviços tecnológicos com foco global. Das tecnologias de informação ao automotive, das ciências da vida aos serviços financeiros, da indústria à engenharia, muitos são os exemplos. E, depois, a emergência da designada gig economy (freelancers e nómadas digitais), acelerada pela pandemia. Com efeito, muitos têm escolhido o nosso país como base – trabalhando daqui para o mundo.

Que factores contribuíram para esta evolução? A nossa localização geográfica, apropriada para o nearshoring, as nossas crescentes competências técnicas (jovens qualificados em engenharias e tecnologias) e linguísticas, o nosso contexto de acolhimento (qualidade de vida, segurança, custo de vida, povo aprazível e adaptável, que convive bem com a diversidade) foram afirmando a primazia de Portugal perante os seus concorrentes mais directos.

Que fazer para ir ainda mais longe, e afirmarmo-nos como um hub europeu de talento? Há que trabalhar em várias linhas de acção: a “marca” e reputação de Portugal; desenvolver um ecossistema mais sólido que reúna multinacionais, startups, universidades e centros de investigação e financiamento (private equity e capital de risc, com operações de levantamento de capital mais favoráveis para os projectos early-stage); ter um ensino superior virado para o mundo, atraindo mais estudantes internacionais; investimentos massivos em conectividade (em todo o território); apostar em R&D (investigação e desenvolvimento), nomeadamente em projectos que nos confiram vantagens competitivas em determinadas áreas (ex. biotecnologia, blockchain ou nanotecnologia); uma nova legislação laboral, mais flexível, e previsibilidade fiscal que facilitem a atracção de profissionais qualificados; e, não menos importante, simplificar e agilizar processos para migrantes profissionais.

Sim, podemos e devemos ser competitivos para atrair talento – com escala e de forma sustentável – e criar inovação e valor, neste contexto de transformação das nossas sociedades.

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Carlos Sezões

Carlos Sezões

Carlos Sezões é atualmente Managing Partner da Darefy – Leadership & Change Builders, startup focada na transformação organizacional/ cultural e no desenvolvimento do capital de liderança das empresas. Foi durante 10 anos Partner em Portugal da Stanton Chase, uma das 10 maiores multinacionais de Executive Search. Começou a sua carreira no Banco BPI em 1999. Assumiu depois, em 2001, funções de Account Manager do portal de e-recruitment e gestão de carreiras www.expressoemprego.pt (Grupo Impresa). Entrou em 2004 na área da... Ler Mais..

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