Opinião

Portugal, porto seguro ou farol da Europa?

Carlos Sezões, presidente da Plataforma Portugal Agora

Europa em 2025? Já quase todos os comentários e diagnósticos foram escritos. O ano de 2024, pleno de presságios de mudança, terminou com uma sensação generalizada de pessimismo.

As crises (políticas e/ ou económicas) das principais potências europeias, as guerras (uma na Europa, outra à nossa porta), o retrato cru do report Draghi sobre a nossa (in)capacidade de inovar e competir, as questões migratórias, o crescimento dos extremismos e, principalmente, o regresso anunciado de Trump, colocaram tons negros em todas as análises prospectivas para o velho continente.

Em Portugal, com a nossa habitual pacatez, anestesiados pelo bom tempo, por uma vida política de entretenimento e fait-divers e por uma economia (por enquanto) razoável, estes temas estão longe do debate político e, sejamos honestos, das grandes preocupações da sociedade – compreensivelmente mais atenta ao custo de vida actual ou ao impacto das greves que emergem como cogumelos. Mas, lamento dizê-lo, precisamos urgentemente de acordar. De um forte wake-up call, na mais directa expressão anglo-saxónica.

O “nosso mundo”, como o conhecemos nas últimas décadas, entrará numa transformação acelerada, a 3 níveis, todos interligados. Que a Europa e, por inerência, também Portugal, deverão enfrentar. Primeiro, na dimensão geopolítica e de defesa. A Europa terá de aprender a ser autónoma dos EUA (não por escolha, mas por inevitabilidade), nas parcerias e na cooperação à escala global. Assumindo-se como um gigante, não só económico e mas também político. E pugnando pela sua própria defesa, algo que lhe exigirá investimentos de, pelo menos, 3 ou 4% do PIB. Questões para Portugal: a nossa diplomacia à escala global poderá contribuir e ser relevante? E estaremos preparados para investir nas forças armadas e nas indústrias de defesa cerca do dobro do que temos feito? E teremos líderes que falem de forma corajosa para uma opinião pública que necessita de clareza?

Depois, na economia. Com o regresso da questão das dívidas nacionais/ públicas na Europa, estaremos preparados para quebras nas compras dos nossos principais clientes (europeus)? E para a vaga tarifária que se adivinha no nosso quarto maior cliente (norte-americano)? Conseguiremos alavancar sectores de maior valor acrescentado, mitigando o impacto das indústrias em declínio (ex. automóvel) e diversificando as nossas geografias de exportação?

Para terminar, nas migrações. Conseguirá a Europa estabilizar um modelo de imigração que equilibre necessidades demográficas/ económicas com as (incontornáveis) questões sociais, culturais e de segurança? Fruto da instabilidade de Magrebe, Sahel e Médio Oriente é de antecipar pressões migratórias não inferiores aos últimos anos – para além de outras origens já tradicionais de imigrantes. E sim, nós, como muitos outros, continuaremos a depender da imigração e seremos cada vez mais multiculturais.

Qual deve ser o nosso papel? Já várias personalidades propuseram para Portugal o posicionamento de “porto seguro”. Faz sentido. Numa fase de instabilidade global, uma sociedade pacífica e tolerante como a nossa, pode ser um abrigo para quem queira investir, empreender, trabalhar ou residir. Permitam-me propor um nível superior de ambição e ir mais além: sermos o “farol da Europa” neste novo tempo. Um farol assente num modelo de sucesso sustentável, que inspire outros países.

Um modelo que assente numa sociedade aberta, cosmopolita e tolerante – que, perante quem chega, acolha bem e integre ainda melhor; um país que trabalhe bem a sua reputação e rede global de influência; que maximize factores de atracção e minimize custos de contexto para atrair empresas, investimentos e talento – seja ao nível da fiscalidade, da justiça, dos licenciamentos, do custo da energia; que reforme os sistemas de aprendizagem e assuma como causa a adoção e literacia digital, preparando a sociedade para a disrupção tecnológica dos próximos 5 – 10 anos.

A nossa escala, que é gerível, permite que os actuais 10,6 milhões de habitantes de Portugal abracem esta visão, de modo mais consensual, como o melhor modelo para enfrentar o próximo ano e os seguintes.  A “coesão” nunca deve ser um fim em si própria… mas será essencial para a Europa e para Portugal nos próximos anos.

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Carlos Sezões

Carlos Sezões

Carlos Sezões é atualmente Managing Partner da Darefy – Leadership & Change Builders, startup focada na transformação organizacional/ cultural e no desenvolvimento do capital de liderança das empresas. Foi durante 10 anos Partner em Portugal da Stanton Chase, uma das 10 maiores multinacionais de Executive Search. Começou a sua carreira no Banco BPI em 1999. Assumiu depois, em 2001, funções de Account Manager do portal de e-recruitment e gestão de carreiras www.expressoemprego.pt (Grupo Impresa). Entrou em 2004 na área da... Ler Mais..

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