Entrevista/ “Portugal atualmente já está no mapa da produção de videojogos”

Marco Bettencourt, fundador e CEO da Redcatpig

“Quando estamos a falar de um estúdio de videojogos, desde o dia zero a internacionalização é uma prioridade e um ponto obrigatório”, explica Marco Bettencourt, fundador e CEO da Redcatpig, estúdio que “leva muito a sério o desenvolvimento de videojogos” e que já tem o seu primeiro jogo KEO em mais de 120 países.

Cinco anos depois de ter entrado no mercado dos videojogos, a açoriana Redcatpig já chegou à Madeira e a Lisboa e tem uma equipa de 45 colaboradores. Mas mais do que isso, já está a dar cartas no plano internacional e a somar prémios ao seu portefólio. Em entrevista ao Link to Leaders, Marco Bettencourt, fundador e CEO da Redcatpig faz o balanço do percurso do projeto até aqui, e fala do futuro e das oportunidades de expansão, com destaque para regiões como Ásia e o Médio Oriente.

Atualmente, confidenciou, está “a trabalhar para o financiamento de quatro novos jogos e se tudo correr como o planeado, em breve estaremos a anunciar pelo menos um deles”.

Como está a Redcatpig de 2024 face à que começou a dar os primeiros passos em 2017?

Em 2017 foi quando começou a surgir um bichinho de criar um estúdio de videojogos. Mas oficialmente, a Redcatpig é fundada mesmo apenas em 2019, altura em que o estúdio tinha apenas três elementos. Hoje em dia temos cerca de 45 colaboradores espalhados por diversos projetos e contamos com três localizações: Açores, Madeira e Lisboa.

“A Redcatpig (…) possui, para além da produção dos seus próprios jogos, uma vertente muito forte de co-development (…)”.

Numa análise aos últimos anos, e ao percurso que a Redcatpig tem vindo a trilhar, quais as etapas mais impactantes na vida do projeto?

Diria que o lançamento do KEO em early access na Steam, o nosso primeiro jogo, foi sem dúvida marcante e determinante para definirmos o caminho a trilhar e que nos transformou naquilo que somos hoje. O lançamento em causa teve diversos aspetos positivos e negativos que foram igualmente cruciais em termos de aprendizagem, validação e visão.
A Redcatpig hoje em dia possui, para além da produção dos seus próprios jogos, uma vertente muito forte de co-development que nos tem permitido solidificar as nossas expertises em diversas tecnologias e plataformas para videojogos. Tudo isto graças a oportunidades criadas aquando do lançamento do KEO.

Qual o vosso jogo estrela neste momento?

Neste momento estamos a trabalhar no nosso segundo jogo, o HoverShock no qual depositamos muitas esperanças e aprendizagens passadas. Confesso que para além deste, temos elementos a trabalhar em diversos jogos externos que nos enchem de orgulho devido à sua dimensão, mas que, infelizmente, não posso mencioná-los ainda.

“(…) a Web Summit tem um lugar especial no nosso coração por ter sido lá (…) conhecemos alguns dos nossos primeiros Businness Angels”.

Este ano regressaram à Web Summit como Beta. Foi produtiva a participação?

Costumo dizer que a Web Summit tem um lugar especial no nosso coração por ter sido lá, em 2018 como Startup Alpha que conhecemos alguns dos nossos primeiros Businness Angels. Voltar em 2024 como Beta foi algo realmente especial e deveras produtivo. Felizmente temos sabido aproveitar bem estas oportunidades e é sempre bom estarmos presentes em eventos que não sejam focados em videojogos, indo ao encontro do nosso mindset de que criar videojogos é ciência e como tal, tem lugar nos mais diversos eventos relacionados com tecnologias diversas.

Depois dos Açores, onde nasceu, a Redcatpig já chegou à Madeira e a Lisboa. Quais as próximas etapas de expansão geográfica?

Se colocarmos um pin no mapa em cada região em que temos colaboradores a trabalhar connosco remotamente, poderia dizer que já estamos em praticamente todos os continentes. Quanto à localizações geográficas, existem duas regiões que por razões distintas apresentam muitas oportunidades e estamos a explorá-las com muita atenção, são elas a Ásia e o Médio Oriente.

“Realço que a importância deste projeto [eGames Lab] para a indústria nacional de videojogos é imensa”.

E como está a correr o consórcio Madeira eGames Lab? Que impulso está a trazer à Redcatpig?

O consórcio eGames Lab, na vertente de realização de resultados está a correr bem e temos vindo a cumprir com o que foi proposto inicialmente por nós. Infelizmente a realização não tem sido melhor devido a diversos atrasos verificados no que toca ao reembolso das despesas dos membros, mas esperemos que melhore em breve.

Realço que a importância deste projeto para a indústria nacional de videojogos é imensa. Graças ao eGames Lab tivemos a primeira presença oficial de Portugal nos maiores eventos de videojogos à escala global, nomeadamente na Game Developers Conference em São Francisco (EUA), na Gamescom em Colónia (Alemanha) e Tokyo Game Show (Japão).

Estão a concretizar as vossas ambições internacionais? Em que mercados estão presentes atualmente?

Quando estamos a falar de um estúdio de videojogos, desde o dia zero a internacionalização é uma prioridade e um ponto obrigatório. Temos o KEO ainda em early access na Steam em mais de 120 países e membros a trabalhar em diversos projetos que já estão, ou estarão disponíveis, em praticamente todos os mercados.

Como estão de criatividade? Quais os novos jogos em carteira? Quais as apostas para os próximos tempos?

Apesar de termos equipas em diversos projetos externos, continuamos a ter diversas ideias para projetos internos. Posso adiantar que neste momento estamos a trabalhar para o financiamento de quatro novos jogos e se tudo correr como o planeado, em breve estaremos a anunciar pelo menos um deles.

É fácil captar investidores para este projeto?

Hoje em dia não é fácil atrair investimento para qualquer projeto. Devido à conjuntura global, o dinheiro está muito caro, no entanto, a indústria de videojogos é extremamente apelativa devido aos mais diversos casos de sucesso que são de conhecimento de todos e pelo fato de durante a pandemia ter dado provas claras de ser uma indústria que resiste a adversidades globais.

No que toca à Redcatpig especificamente, fatores como sermos profitable, termos tido um crescimento consistente e termos a idoneidade SIFIDE, faz com que sejamos algo apelativos para a alocação de investimento.

Que mais-valias lhes traz essa distinção atribuída pela ANI?

Como disse o selo faz com que sejamos elegíveis a receber investimento de fundos SIFIDE, o que temos explorado. Para além disso serve de validação ao tal “mindset” que já mencionei. Levamos muito a sério o desenvolvimento de videojogos através de metodologias específicas e criação de tecnologia in-house facilitadora da produção de videojogos. A idoneidade SIFIDE também faz com que, caso entidades nacionais necessitem dos nossos serviços, possam ter acesso de forma indireta a certos benefícios fiscais o que é sempre uma mais-valia.

Com está a indústria dos videojogos em Portugal? Bem e recomenda-se ou nem por isso?

Está bem sem dúvida nenhuma. Portugal atualmente já está no mapa da produção de videojogos graças a iniciativas como o eGames Lab e a uma associação forte e dinâmica como a APVP (Associação de Produtores de Videojogos Portugueses) a qual a Redcatpig é membro fundador.
Há que realçar também a presença em território nacional de diversos estúdios internacionais e a qualidade da nossa formação que possibilita criar a massa crítica que tanto é necessária para um ecossistema completo.

O que ainda é preciso fazer para que este setor de atividade seja valorizado enquanto uma “indústria” de peso na economia nacional?

Têm havido diversos esforços para que entidades governamentais compreendam a dimensão e o potencial desta indústria. Se olharmos para exemplos de países como a Finlândia e a Polónia, vemos como os países conseguem capitalizar esta indústria ao criar modelos específicos de desenvolvimento, seja através de benefícios fiscais ou através da criação de modelos de cofinanciamento mais adequados às necessidades reais da produção de videojogos.
Acredito que estamos cada vez mais próximos de conscientizar os nossos governantes de tamanha potencialidade e no que toca à Redcatpig, temos tentado até a nível regional que esta indústria seja mais “compreendida”. Vamos chegar lá.

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