Podem os bootcamps ajudar a colmatar a falta de talentos especializados?

Os bootcamps são cursos intensivos que ajudam a desenvolver competências e que podem ser uma oportunidade para encontrar talentos especializados.
As diferenças entre uma licenciatura na área da informática e um curso intensivo de programação são evidentes, quer no tipo de formação lecionada, quer nos custos que envolvem e na empregabilidade e rendimentos que podem proporcionar a quem os frequenta. Contudo, os segundos começam a ser vistos como uma alternativa para preencher as lacunas do mercado de trabalho na área tecnológica.
Um artigo recentemente publicado no El País lembra, por exemplo, as diferenças de investimento necessário para cada uma das opções nos Estados Unidos, onde um bootcamp ronda os 11 mil dólares (cerca de 10 mil euros) e uma licenciatura pode custar cerca de 170 mil dólares (153 mil euros).
Os números foram fornecidos pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que preparou um relatório que pretende dar uma nova visão sobre novos estilos de ensino totalmente focados no mercado de trabalho, uma tendência mundial já que são muitas as empresas que não conseguem encontrar talentos devido à falta de qualificação.
Mas será que existe uma grande diferença no desempenho entre um recém licenciado e alguém que faz um curso intensivo? Numa pesquisa realizada junto de mil gestores de empresas nos Estados Unidos, e citada pelo El País, mostrou que num primeiro trabalho a diferença é pouca. Os gestores Quando questionados sobre o desempenho de ambos, 72% dos gestores revelaram que não perceberam diferença, enquanto 12% disseram que os segundos eram melhores.
Um bootcamp não tem pré-requisitos, nem necessita de formação académica anterior na área. O acesso é feito através de entrevistas que analisam o potencial do futuro aluno e sua motivação, mais do que o conhecimento técnico, já que este será ensinado ao longo do curso. Isto proporciona um conjunto de possibilidades que muitos alunos não pensariam antes. Embora o investimento possa ser muito elevado para muitos potenciais alunos, não é um investimento a longo prazo quando comparado com uma universidade, pois em pouco tempo o aluno pode estar concorrer a posições atraentes no mercado.
Por outro lado, também existem muitos bootcamps, principalmente em países em desenvolvimento, que oferecem bolsas de estudos ou um pagamento condicionado ao emprego que vierem a conseguir. É o que sucede por exemplo com a Laboratoria, uma start-up de origem peruana que forma exclusivamente mulheres para serem programadoras. Após seis meses de formação intensa, com quase mil horas de aulas maioritariamente práticas, 75% dessas mulheres arranjam trabalho, com um salário médio três vezes superior ao que recebiam nas ocupações anteriores. Se não conseguirem arranjar emprego, não pagam a formação.
Na Colômbia, a Bogota Dev também tem um programa de formação para jovens programadores, para tentar colmatar a escassez de mão-de-obra necessária no mercado. Refere que as empresas querem funcionários locais que não conseguem encontrar, o que os obriga a contratar noutros países como China ou Índia onde têm de enfrentar a barreira cultural, linguística e horária.
Este tipo de cursos não são novos, mas a sua expansão é recente. Em 2018, de acordo com estimativas do LinkedIn e do SwitchUp, existiam 300 bootcamps em todo o mundo. Este problema de falta de recursos, em especial no campo da programação, é mundial. Naomi Krieger, do departamento de inovação do Governo de Israel, referiu ao El País que para que os programas de formação intensiva sejam eficazes é necessário ter em conta as necessidades locais dos diferentes mercados/países. Ou seja, é fundamental avaliar aspetos como os empregos disponíveis na área de tecnologia, o balanço entre a oferta e a procura, ou o número de licenciados em áreas mais técnicas. Além disso, esta modalidade de ensino intensiva pode ir além da programação, e abordar outras áreas como o marketing digital.
O relatório do BID conclui que os bootcamps digitais podem contribuir significativamente para solucionar os desafios de upgrade de conhecimentos e a melhoria de competências digitais de forma eficiente e económica.