Opinião
Pessoas (certas) e o seu Talento: o melhor de todos os investimentos

Num contexto destes em que vivemos atualmente, em pleno clima de guerra, precedido de uma pandemia e com sinais cada vez mais evidentes de uma crise económica e humanitária a uma escala global, não faria sentido de falar de outra coisa senão de Pessoas.
E escrevo com “P” maiúsculo porque os sucessivos inexcedíveis exemplos de solidariedade, força, liderança, colaboração, superação, coragem, vontade a que temos assistido por parte de diversas Pessoas, mesmo face a dificuldades e adversidades, fazem refletir sobre a valorização que muitas vezes (não) lhes damos nos mais diferentes contextos, pessoais e profissionais.
Na verdade, é ao refletir sobre esta valorização que me (re)lembro daquele que é o investimento mais rentável e duradouro, não sujeito a variações das taxas de juro, que se pode fazer nas sociedades e nas empresas: as Pessoas e o seu Talento (também com “T” maiúsculo).
Mas foquemo-nos nas empresas: porque são as Pessoas o melhor de todos os investimentos?
Em primeiro lugar, porque cada vez mais as Pessoas (certas) representam reais vantagens competitivas nos mais diferentes mercados. Por mais e melhores ativos e tecnologia que tenhamos – que são absolutamente fundamentais – são necessárias as Pessoas certas para os transformar em negócio de forma sustentável e assegurar que as melhores decisões são tomadas nos momentos certos.
Em segundo lugar, porque Pessoas motivadas e felizes são fontes de produtividade e superação. São elas que são verdadeiros “motores” e asseguram que o negócio cresce e que continuamente a empresa se desafia a si própria a alcançar mais e melhor, ou a ultrapassar momentos de maior dificuldade. Relembrando a célebre frase de Paul Krugman, “a produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo”.
Em terceiro lugar, porque as Pessoas são a melhor (ou pior) campanha de marketing e montra que as empresas podem ter, e o primeiro driver de reputação e atração de Talento no mercado. Nenhuma campanha de marketing ou publicidade tem maior impacto na satisfação do consumidor/cliente do que interlocutores felizes e motivados.
Em quarto lugar, porque este investimento inicial e contínuo nas Pessoas é o que assegura a retenção do melhor Talento, permitindo que ele cresça com a empresa e potencie o crescimento de outros, contribuindo para a sustentabilidade do negócio e poupando custos de recomeço de todo esse processo.
E finalmente, e não menos importante, porque as culturas organizacionais (bem como as transformações), não se criam nem conseguem por decreto ou decisão, mas sim pelas Pessoas e pela dinâmica que elas imprimem no dia a dia. Cada vez mais essa cultura e respetivos modos de trabalhar são fatores decisivos para os mercados e para a competição pelo melhor Talento.
Mas se as Pessoas (certas) são de facto tão bom investimento, porque não vemos isso de forma evidente e transversal em todo o tecido empresarial?
Não vemos isso primeiramente porque muitas empresas ainda olham para as Pessoas e para o Talento como um custo e não como um investimento. No momento de contratar e decidir, grande parte das empresas não está disposta a gastar um pouco mais para assegurar a Pessoa certa, encarando-o como um custo extra ao invés de o encarar como um investimento que pode ter um retorno quase imediato.
Não vemos de igual forma porque por vezes as empresas não estão dispostas a sacrificar rentabilidade de curto prazo em prol do tal investimento em Pessoas que pode apenas ter retorno no médio prazo (ex, pagar melhores bónus para premiar o bom trabalho).
E finalmente, e provavelmente o mais importante, porque muitas vezes as empresas ainda estão “presas” à ideia de que o investimento em pessoas se consubstancia apenas em prémios e melhores salários, quando na verdade há tantas outras formas diferentes que são crescentemente valorizadas e decisivas na escolha de oportunidades profissionais e na retenção de Talento – flexibilidade no trabalho, cultura empresarial, eventos de equipa, comunicação, transparência, ou até, como já algumas empresas fazem, dedicar alguém cuja missão seja pensar em como melhorar continuamente a employee value propositon.
Mas então o que falta?
Falta acima de tudo estratégia na definição, identificação, projeção e acompanhamento daquilo que devem ser as Pessoas chave e o Talento ideal para as organizações, falta “centralidade no colaborador”, falta perceber que uma Pessoa certa tem mais impacto que várias Pessoas erradas, e falta perceber que sem investimento nas Pessoas dificilmente se consegue assegurar um crescimento continuado e sustentabilidade no negócio a longo prazo.
Juntando o “P” de Pessoas e o “T” de Talento – “PT” de Portugal – que não nos esqueçamos que há no nosso país muitas e boas Pessoas, com enorme Talento, pronto para ser potenciado e investido. Muitas empresas internacionais, especialmente start-ups, há tempo que já perceberam isso e têm continuamente e crescentemente vindo em busca deste Talento para nele investir. Quanto tempo demorarão muitas das empresas a perceber que se não investirem não conseguirão ter retorno, mesmo tratando-se do “melhor investimento do mundo”?
Quem não arrisca não petisca…