Opinião

Pessoas (certas) e o seu Talento: o melhor de todos os investimentos

Tomás Loureiro, Chief of Staff to CEO na Media Capital

Num contexto destes em que vivemos atualmente, em pleno clima de guerra, precedido de uma pandemia e com sinais cada vez mais evidentes de uma crise económica e humanitária a uma escala global, não faria sentido de falar de outra coisa senão de Pessoas.

E escrevo com “P” maiúsculo porque os sucessivos inexcedíveis exemplos de solidariedade, força, liderança, colaboração, superação, coragem, vontade a que temos assistido por parte de diversas Pessoas, mesmo face a dificuldades e adversidades, fazem refletir sobre a valorização que muitas vezes (não) lhes damos nos mais diferentes contextos, pessoais e profissionais.

Na verdade, é ao refletir sobre esta valorização que me (re)lembro daquele que é o investimento mais rentável e duradouro, não sujeito a variações das taxas de juro, que se pode fazer nas sociedades e nas empresas: as Pessoas e o seu Talento (também com “T” maiúsculo).

Mas foquemo-nos nas empresas: porque são as Pessoas o melhor de todos os investimentos?

Em primeiro lugar, porque cada vez mais as Pessoas (certas) representam reais vantagens competitivas nos mais diferentes mercados. Por mais e melhores ativos e tecnologia que tenhamos – que são absolutamente fundamentais – são necessárias as Pessoas certas para os transformar em negócio de forma sustentável e assegurar que as melhores decisões são tomadas nos momentos certos.

Em segundo lugar, porque Pessoas motivadas e felizes são fontes de produtividade e superação. São elas que são verdadeiros “motores” e asseguram que o negócio cresce e que continuamente a empresa se desafia a si própria a alcançar mais e melhor, ou a ultrapassar momentos de maior dificuldade. Relembrando a célebre frase de Paul Krugman, “a produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo”.

Em terceiro lugar, porque as Pessoas são a melhor (ou pior) campanha de marketing e montra que as empresas podem ter, e o primeiro driver de reputação e atração de Talento no mercado. Nenhuma campanha de marketing ou publicidade tem maior impacto na satisfação do consumidor/cliente do que interlocutores felizes e motivados.

Em quarto lugar, porque este investimento inicial e contínuo nas Pessoas é o que assegura a retenção do melhor Talento, permitindo que ele cresça com a empresa e potencie o crescimento de outros, contribuindo para a sustentabilidade do negócio e poupando custos de recomeço de todo esse processo.

E finalmente, e não menos importante, porque as culturas organizacionais (bem como as transformações), não se criam nem conseguem por decreto ou decisão, mas sim pelas Pessoas e pela dinâmica que elas imprimem no dia a dia. Cada vez mais essa cultura e respetivos modos de trabalhar são fatores decisivos para os mercados e para a competição pelo melhor Talento.

Mas se as Pessoas (certas) são de facto tão bom investimento, porque não vemos isso de forma evidente e transversal em todo o tecido empresarial?

Não vemos isso primeiramente porque muitas empresas ainda olham para as Pessoas e para o Talento como um custo e não como um investimento. No momento de contratar e decidir, grande parte das empresas não está disposta a gastar um pouco mais para assegurar a Pessoa certa, encarando-o como um custo extra ao invés de o encarar como um investimento que pode ter um retorno quase imediato.

Não vemos de igual forma porque por vezes as empresas não estão dispostas a sacrificar rentabilidade de curto prazo em prol do tal investimento em Pessoas que pode apenas ter retorno no médio prazo (ex, pagar melhores bónus para premiar o bom trabalho).

E finalmente, e provavelmente o mais importante, porque muitas vezes as empresas ainda estão “presas” à ideia de que o investimento em pessoas se consubstancia apenas em prémios e melhores salários, quando na verdade há tantas outras formas diferentes que são crescentemente valorizadas e decisivas na escolha de oportunidades profissionais e na retenção de Talento – flexibilidade no trabalho, cultura empresarial, eventos de equipa, comunicação, transparência, ou até, como já algumas empresas fazem, dedicar alguém cuja missão seja pensar em como melhorar continuamente a employee value propositon.

Mas então o que falta?

Falta acima de tudo estratégia na definição, identificação, projeção e acompanhamento daquilo que devem ser as Pessoas chave e o Talento ideal para as organizações, falta “centralidade no colaborador”, falta perceber que uma Pessoa certa tem mais impacto que várias Pessoas erradas, e falta perceber que sem investimento nas Pessoas dificilmente se consegue assegurar um crescimento continuado e sustentabilidade no negócio a longo prazo.

Juntando o “P” de Pessoas e o “T” de Talento – “PT” de Portugal – que não nos esqueçamos que há no nosso país muitas e boas Pessoas, com enorme Talento, pronto para ser potenciado e investido. Muitas empresas internacionais, especialmente start-ups, há tempo que já perceberam isso e têm continuamente e crescentemente vindo em busca deste Talento para nele investir. Quanto tempo demorarão muitas das empresas a perceber que se não investirem não conseguirão ter retorno, mesmo tratando-se do “melhor investimento do mundo”?

Quem não arrisca não petisca…

Comentários
Tomás Loureiro

Tomás Loureiro

Tomás Loureiro é Director of Global Intel & Strategic Projects na EDP. Anteriormente, ocupou o cargo de Head of Innovation Intel, sendo responsável por apoiar o CEO da EDP Inovação na definição da estratégia global de inovação e das apostas futuras do Grupo EDP. Também foi Chief of Staff to CEO / Advisor do Board no Grupo Media Capital, responsável por acelerar a implementação da visão estratégica e transformação do grupo, acompanhando também os temas ligados à inovação e customer... Ler Mais..

Artigos Relacionados