Entrevista/ “Procuramos projetos inovadores, sustentáveis e que criem trabalho”
Três amigos juntaram esforços em prol de uma região profundamente afetada pelos incêndios de 2017 e o resultado é criação de uma incubadora que promete dinamizar a economia da região de Pedrogão Grande. Feliciano Roldão, um dos mentores, explica em que consiste a iniciativa bem como os projetos associados.
Na sequência dos incêndios que afetaram a região de Pedrogão Grande no ano passado, mobilizaram-se os esforços nacionais para apoiar as populações em diferentes frentes. Foi o que também fizeram o grupo de amigos Feliciano Roldão, Sofia Carmo e Bruno Fernandes.
Depois de começarem por distribuir ajuda às populações afetadas, perceberam que faltavam apoios aos empresários locais e aos potenciais empreendedores. Puseram mãos à obra e apresentaram um projeto de apoio ao empreendedorismo que agora está a caminhar para a criação de uma incubadora.
Como surgiu a ideia de criar uma incubadora na região de Pedrogão?
Surgiu depois dos incêndios de há um ano, enquanto distribuíamos ajuda pelas populações afetadas pela tragédia. Reparámos que havia ajuda nos bens alimentares, em vestuário e movimentos de apoio para a reconstrução das casas. Mas faltava apoio em três grandes frentes muito importantes: aos empresários locais; aos empreendedores da região; e apoio para fixar ou atrair pessoas.
Foi por esse motivo que decidimos criar um projeto de apoio ao empreendedorismo sustentável na região. Arrancámos com uma conferência que foi um sucesso e depois com um concurso de start-ups, que foi muito gratificante trabalhar e ver a evolução de cada uma.
Que tipo de projetos gostariam de ver associadas à iniciativa?
Essencialmente, promovidos por pessoas com muita vontade de vencer e conectados com toda a comunidade local. Podem ser start-ups ligadas à floresta, ao turismo, à agricultura, mas também podem ser de serviços, tecnologia e até mesmo de apoio aos idosos ou associações. Acima de tudo acreditamos no talento das pessoas e queremos ajudar a proporcionar as condições para serem bem-sucedidas.
Quem são o grupo de amigos mentores do projeto?
O projeto nasceu entre três amigos da região que, inconformados, quiseram marcar a diferença e contribuir ativamente para o desenvolvimento da mesma. A estes três amigos juntaram-se a incubadora de Loures “A Ponte” e a Associação New Discoveries Portugal, que já conhecíamos e que tinham uma vontade enorme de ajudar, contribuindo com todo o seu “know-how” e rede de contactos.
Quem mais está convosco nesta “aventura”?
Além da incubadora “A Ponte” e a New Discoveries Portugal, temos contado com o apoio de várias pessoas, empresas e organizações, nomeadamente, patrocinadores da conferência; oradores da conferência; locais onde fizemos os eventos e formações; formadores e mentores do challenge; agência de comunicação; agência de publicidade; equipamentos de som; órgãos de comunicação social. Por último, mas muito importante, os voluntários que nos permitiram sempre operacionalizar todas as operações. A todas estas de dezenas de entidades e pessoas, o nosso muito obrigado!
Como vão pôr em prática a iniciativa? Que as etapas que se seguem?
Atualmente temos três grandes projetos em curso e que serão o nosso foco. O primeiro é o RE-NASCER SUMMIT que é o grande evento anual de empreendedorismo do interior, onde trazemos grandes empresários, investidores e organizações relevantes no ecossistema empreendedor nacional e internacional.
Com este evento queremos trazer todos os anos inspiração para os empreendedores locais, debater os principais desafios para o futuro e promover um grande momento de networking entre entidades locais e todos os nossos convidados. Este ano o RE-NASCER SUMMIT será no dia três de novembro, estejam atentos a mais novidades.
Depois temos o RE-NASCER CHALLENGE que é o grande concurso anual de start-ups no interior, onde iremos descobrir talentos, ideias, projetos e marcas, com o objetivo de darmos as condições para que possam crescer e transformar-se em projetos sustentáveis. Os concorrentes passam por um programa de aceleração, com formação e mentorização, para que, no final, consigam apresentar a sua ideia a potenciais investidores, bem como dar a conhecer a sua start-up ao público geral. Temos ainda, o RE-NASCER HUB A PONTE. A Ponte está a criar uma rede de espaços cowork e apoiará a iniciativa Re-Nascer para juntos estabelecerem um espaço que sirva de ponto de apoio permanente aos empreendedores. Nestes espaços de portas abertas, queremos trazer um ambiente de inspiração constante, com as formações e workshops que iremos promover. Teremos espaços de cowork e salas para que as empresas se possam instalar e num ambiente de colaboração consigam reunir sinergias e serem mais fortes. Estes espaços serão igualmente um ponto de atendimento, no apoio aos desempregados para desenvolverem os seus projetos de autoemprego.
A futura incubadora já tem localização? Como estão as negociações com as entidades oficiais?
Infelizmente as negociações com as entidades locais não têm sido fáceis e pensamos que se deve a vários motivos. Para grande parte das entidades, o empreendedorismo é um tema desconhecido e, como tal, não sabem muito bem como lidar com este desafio e consequentemente acaba por haver pouca coragem para arriscar em apoiar os empreendedores. Pensamos igualmente que as entidades ainda estão a lidar com os impactos da catástrofe. Não estavam de todo preparadas para tamanho problema e a situação agudizou-se por ser num ano de eleições. Por este motivo ainda estão muito em modo reação e não dedicaram o tempo suficiente, para pensar e planear estrategicamente.
Tudo isto faz com que tudo seja muito lento e não haja ações, com o ritmo que nós achamos necessário e que a região precisa. A boa noticia que temos para dar, é que finalmente temos luz verde para avançar com um 1.º espaço em Castanheira de Pêra, que será a base onde vamos arrancar as nossas operações. No entanto, não queremos ficar por aqui, acreditamos na região como um todo e queremos integrar futuramente outros espaços nesta e noutras vilas.
Arrancam com a incubadora até ao final do ano?
É nosso objetivo arrancar ainda no verão deste ano.
Que expetativas têm quanto à real dinamização dos negócios na região de Pedrogão?
As nossas expetativas são elevadas. Como é óbvio sabemos que nestes processos não há uma taxa de sucesso de 100% na concretização dos projetos, mas acima de tudo gostávamos de a médio/longo prazo ter a seguinte realidade: um mix de empresas criadas na região, que na sua maioria serão certamente micro e pequenas empresas sustentáveis, mas complementadas por um conjunto de outras que cresceram a um bom ritmo e operam a partir da região, não só para todo o território nacional, mas também exportando para outras geografias; que este mix de empresas crie postos de trabalho permanentes, reduzindo a dependência do emprego criado pelas autarquias ou associações locais; e que toda a dinâmica sustentável que é criada, permita reter pessoas e atrair outras, nomeadamente aqueles que tiveram que sair para procurar melhores condições fora.
De que forma espera inspirar as pessoas a seguir em frente com novos projetos e ideias?
No nosso ponto de vista a inspiração passa por trabalhar em várias frentes. Formar as pessoas porque é preciso conhecimento; apresentar casos práticos; estimular o trabalho em parceria e em rede, porque juntos somos mais fortes; e proporcionar momentos de networking para que consigam chegar mais longe nos contactos que possam desencadear.
A vossa primeira iniciativa para dinamizar a zona foi o concurso de ideias Renascer Challenge? Em que fase está esse projeto?
A 1ª edição do RE-NASCER CHALLENGE teve a grande final no passado dia 5 maio e os objetivos foram concretizados. Acima de tudo queríamos provar que há talento e ideias na região e conseguimos. Queríamos dar um sinal à comunidade local que é possível arriscar, e conseguimo. E também conseguimos dar um “empurrão” a estes nove empreendedores para começarem a andar sozinhos.
A maior prova que temos do sucesso deste projeto, foi o facto de grande maioria das notícias positivas lançadas um ano após o incêndio, estarem relacionadas com os empreendedores do RE-NASCER CHALLENGE.
Atualmente, estamos a tentar apoiar os nossos empreendedores nas seguintes áreas: instalações para poderem arrancar; divulgação dos projetos; incentivos para obtenção de recursos para arrancarem.
Quais as etapas seguintes do Renascer Challenge? Como se vai interligar com a futura incubadora?
A nossa ideia é que estes empreendedores ocupem o nosso espaço ainda este verão e façam dele a sua casa. Queremos igualmente envolvê-los nas nossas iniciativas futuras, pois são a “1.ª fornada” e na sua maioria abraçaram a nossa causa e têm o nosso ADN.
Estão também a preparar o “Renascer Summit”. O que vai ser esta conferência de empreendedorismo?
Sim, neste momento estamos a trabalhar na edição do RE-NASCER SUMMIT que vai ser no dia 3 de Novembro. Queremos crescer, aumentar o número de participantes, fazer mais debates, proporcionar mais oportunidades e deixar marcas positivas para a região. Levantando um bocadinho o véu, este ano esperamos ter dois palcos, queremos ter uma feira de negócios e queremos debater os grandes temas para a região.
O RE-NASCER SUMMIT 2018 vai ser sobre “marca e tendências para a região”. Acreditamos que pode ser o ano de transição de um pequeno evento, para um grande evento!
Que objetivo pretendem alcançar com este projeto?
Acima de tudo queremos que a região seja mais sustentável, jovem, resiliente e que respire uma energia positiva. Não queremos desertificação, não queremos abandono, não queremos desperdício e não queremos perder esta oportunidade. Tem que ser agora, tem que ser já!
Mas algumas iniciativas /projetos em agenda para este ano?
Temos três grandes projetos, que, como se costuma dizer, “já nos dão pano para mangas” e onde estamos a investir muito, mas que estamos a fazer com muita paixão e que nos está a dar um prazer tremendo concretizar!