Opinião

Os três tipos de inovação e como posicionar o seu negócio

Pedro Fonseca, responsável pelo Cloud Center of Excellence global na Saint-Gobain

A inovação é essencial para o crescimento, sustentabilidade e relevância de qualquer empresa, mas nem todas as empresas inovam da mesma forma.

Clayton Christensen, autor da obra “The Innovator’s Dilemma”, apresenta três tipos principais de inovação: Sustaining Innovation, Low-End Disruptive Innovation e New-Market Disruptive Innovation. Compreender estas categorias ajuda as empresas a definir as suas estratégias de crescimento e a evitar ameaças inesperadas.

  1. Sustaining Innovation: melhoria contínua

A Sustaining Innovation acontece quando as empresas melhoram produtos ou serviços existentes para melhor servir os clientes mais exigentes. Estes avanços podem ser incrementais ou radicais, mas mantêm-se dentro da mesma trajetória de melhoria valorizada pelos clientes atuais.

Normalmente, as empresas líderes são as vencedoras neste tipo de inovação, pois já possuem as capacidades técnicas, canais de distribuição, marcas consolidadas e clientes fiéis. Estas inovações tendem a reforçar posições estabelecidas e favorecer quem já domina o mercado.

Por exemplos, os abricantes de smartphones, como a Samsung ou a Apple, lançam novas versões anuais com câmaras mais avançadas, baterias de maior duração e processadores mais potentes.

  1. Low-End Disruptive Innovation: simplicidade e preço mais baixo

A Low-End Disruptive Innovation surge quando empresas oferecem uma solução mais simples, com um desempenho “suficiente” e a um preço mais baixo, dirigida a clientes indiferentes às características de alta performance das ofertas tradicionais.

O público-alvo são clientes que valorizam o preço e a simplicidade mais do que o alto desempenho. Estas soluções disruptivas ganham terreno na base do mercado, conquistando consumidores negligenciados pelos incumbentes.

Como exemplo, a Ryanair e a EasyJet revolucionaram o transporte aéreo europeu ao oferecerem voos de baixo custo, eliminando serviços não essenciais e democratizando o acesso a viagens aéreas. Este modelo “no frills” sacrificou luxos, mas abriu um novo mercado de consumidores sensíveis ao preço.

Empresas que seguem esta estratégia precisam de um modelo de negócio capaz de operar de forma rentável com margens unitárias mais baixas e processos simplificados.

  1. New-Market Disruptive Innovation: criar um novo mercado

A New-Market Disruptive Innovation acontece quando uma empresa cria um produto ou serviço que permite a consumidores, até então excluídos, aceder a soluções que antes estavam fora do seu alcance – por preço, complexidade ou acesso físico. Em vez de competir diretamente com os incumbentes, cria-se um novo mercado.

Estes clientes são não-consumidores, indivíduos ou organizações que não compravam as ofertas tradicionais. Ao criar uma solução mais simples, acessível e adaptada, a empresa gera uma nova procura e abre oportunidades antes inexploradas.

Por exemplo, o surgimento dos primeiros computadores pessoais democratizou o acesso à informática, permitindo que pequenos negócios, escolas e famílias adquirissem tecnologia antes exclusiva de grandes empresas.

Como identificar qual inovação seguir?

A escolha da estratégia de inovação depende de uma análise rigorosa do mercado, da proposta de valor e das capacidades da empresa.

Além disso, é importante avaliar se a organização possui recursos, processos e uma fórmula de lucro compatíveis com a inovação pretendida. Muitas vezes, perseguir uma inovação disruptiva requer criar uma unidade autónoma para evitar conflitos com o negócio principal.

Compreender os três tipos de inovação propostos permite identificar oportunidades de crescimento, proteger-se contra disrupções e criar novas fontes de valor. Seja ao melhorar produtos existentes, oferecer soluções mais acessíveis ou criar novos mercados, a escolha da estratégia deve alinhar-se aos recursos, processos e modelo de negócio da organização.

Num mundo em constante mudança, a capacidade de distinguir qual estratégia seguir e de adaptar a estrutura da empresa, pode ser o fator decisivo entre a estagnação e o crescimento sustentável.


Pedro Fonseca é um executivo de transformação com mais de 20 anos de experiência em planeamento e direção de tecnologia. Com uma carreira focada na liderança de equipas globais e na implementação de estratégias de transformação digital, especializou-se em arquitetura empresarial, gestão de serviços de TI e inovação tecnológica.

Atualmente, lidera o Cloud Center of Excellence global na Saint-Gobain, onde impulsiona a adoção de tecnologias cloud, gestão de produtos e sucesso do cliente. Anteriormente, desempenhou funções de destaque em empresas como Feedzai, Nokia, Fidelidade, Oney Bank e Caixa Geral de Depósitos, conduzindo iniciativas estratégicas de inovação, otimização de processos e transformação digital.

Com percurso académico em Engenharia Informática e formação em Sociologia pelo ISCTE, além de uma especialização em Gestão e Inovação Digital pela Católica Lisbon School of Business and Economics, é também certificado em Gestão de Projetos e Gestão de Serviços de TI e Tecnologias. Além da sua experiência corporativa, conta com vários anos de consultoria estratégica, apoiando organizações na definição e execução de estratégias tecnológicas e operacionais.

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