Opinião
SER Mulher

Para mim a melhor coisa que me podia ter acontecido foi ter nascido mulher. Adoro! Costumo dizer que nunca senti discriminação por ser mulher, e é verdade, nunca senti, porque nunca deixei!
Sempre me considerei igual a qualquer homem ou a qualquer outra mulher. Sei que esta não é uma realidade transversal à sociedade e que muitas mulheres se sentem discriminadas pelo simples facto de serem mulheres. Por isso, quero aproveitar esta oportunidade para partilhar aquelas que foram e são algumas das minhas escolhas, atitudes e compromissos como mulher, não com o pretensiosismo de ensinar ninguém, mas com a esperança que algumas das minhas opções se possam aplicar a outras mulheres e que isso as faça mudar a perspetiva com que olham para os mesmos temas e as torne mais felizes e vencedoras.
A primeira grande decisão que tomei na vida, e que hoje considero ter sido a melhor, foi que “nunca daria prioridade à minha carreira profissional em detrimento da minha vida familiar”, e desde muito cedo decidi que faria tudo em simultâneo. Para mim não há o “eu” profissional e o “eu” mãe, mulher, amiga, sou sempre a mesma pessoa.
Comecei a trabalhar aos 22 anos, após terminar a licenciatura, casei mal fiz 24 anos e aos 25 anos tive o meu primeiro filho. Dai até hoje tive 10 empregos e quatro filhos. Além disso, fiz duas pós-graduações, um mestrado e estou a fazer um Doutoramento. Dou aulas em universidades como professora convidada, sou coautora de um livro e terminámos hoje o segundo. Além dos meus quatro filhos tenho três enteados, tenho família, tenho amigos e sou realizada e feliz!
Neste percurso troquei de emprego três vezes grávida, isto porque o facto de estar grávida não foi para mim um impeditivo para ir a entrevistas de emprego. Nunca me sinto inferior por ser mulher, antes pelo contrário tenho imenso orgulho nisso. É também verdade que não tenho medo de recomeçar, nem do incerto e isso ajuda nas minhas decisões, mas tenho um truque que me dá confiança e que partilho. Antes de tomar uma decisão importante defino sempre aquilo que chamo um Plano Z, ou seja, defino o plano que responde à questão “O que vou fazer se tudo correr mal?”, e se esse plano for viável avanço com autoconfiança e sem medos.
Perguntam-me muitas vezes, “Como consegues fazer tudo?”
Em primeiro lugar, sendo apenas “uma” e otimizando o meu tempo diariamente. Pode acontecer ter que sair da agência (PHD) para ir a uma festa da escola, ou até para dar uma aula na universidade, mas também pode acontecer trabalhar à noite ou ao fim de semana. Para mim e para o Grupo Omnicom, onde trabalho, existe essa flexibilidade e isso é normal. E essa é uma das razões porque é o sítio onde vou trabalhar mais tempo, nos meus 25 anos de carreira profissional.
Em segundo lugar, a minha agenda é um puzzle, que construo semanalmente e ajusto diariamente. Este puzzle responde àquilo que são as prioridades que defino todos os anos, quer profissionalmente, quer pessoalmente e tento nunca perder tempo, ajustando sempre a agenda aos imprevistos. Sou muito adaptável, pois uma hora não aproveitada é uma hora perdida, que nunca mais se pode recuperar. Admito que sou dependente dos lembretes da agenda, para gerir da melhor forma o meu tempo. Outra forma de rentabilizar o tempo e, como passo algum tempo dentro do carro diariamente, é aproveitar esse tempo para “ler” através de áudio books e mais recentemente de podcasts.
E, em terceiro lugar, consigo fazer tudo com um marido espetacular que acredita na igualdade de género, e como já referi algumas vezes, “não sei se me compreende, ou simplesmente me apoia”; com uns filhos, que tive a sorte de serem muito desafiantes e me fazerem crescer como pessoa, com quem partilho as minhas escolhas e sei que têm orgulho em mim, tal como eu tenho neles, e ainda com uma pessoa de confiança que trata de uma área que não aprecio, a casa. Não sou, de todo, uma “fada do lar”.
E também falho, como toda a gente, homens e mulheres, e sempre que falho “guardo a lição” para aprender e aplicar. Falhar quer dizer que tomámos uma decisão, que tentámos e que com isso aprendemos. Já falhei tanto na vida e algumas das minhas falhas vieram a transformar-se nos meus maiores sucessos.
Em resumo, não deixo de fazer nada, do que quero e do que gosto, porque sou mulher ou porque não tenho tempo, pois acredito na igualdade de oportunidades entre géneros e também que se encontra sempre tempo para se fazer o que se gosta. É uma questão de escolhas, resiliência, esforço e organização.
Diretora Geral da PHD Media, do Omnicom Media Group. Tem 4 filhos. Tem 25 anos de experiência profissional nas áreas de marketing, comunicação, comercial, publicidade e media. Passou por várias empresas dentro destas áreas, tais como a Reckitt Benckiser, o Banco Espírito Santo e a F.Lima e por várias agências de publicidade: BBDO, DDB, Leo Burnett e Euro RSCG, e agência de media: Havas Media e PHD. É Mestre em Marketing pelo ISCTE, pós graduada em Marketing Digital pelo ISCTE Executive Education e licenciada em Economia pelo ISEG. É professora convidada no ISEG Executive Education e no ISCTE Executive Education, lecionando disciplinas na área do marketing digital. Integra a direção da APPM – Associação de Profissionais de Marketing e da Make a Wish (ONG). É co-autora do livro Ser Blogger