Entrevista/ “Os portugueses são bons em tudo. Menos em acreditar neles próprios.”

A poucos dias de voltar a vestir as cores de Portugal no Mandela Legends Cup, uma iniciativa inserida no SA Legends Tour to Portugal, Vasco Uva falou ao Link To Leaders dos valores que o rugby lhe transmitiu e que podem ser aplicados às empresas.
Estreou-se na Seleção Nacional de Rugby a 16 de fevereiro de 2003, tendo assumido o cargo de capitão três anos depois. A presença no Mundial de Rugby 2007, em França, foi o ponto mais alto da sua carreira desportiva que continua a ser reconhecida além-fronteiras.
O ex-capital dos “lobos” foi recentemente entronizado membro do grupo Rugby Centurions, um clube de elite que reúne jogadores com mais de 100 internacionalizações pelos respetivos países.
Esteve no mundial de 2007, representou a seleção nacional 101 vezes, vestiu a camisola do Grupo Desportivo de Direito e mais recentemente passou a ser membro dos Rugby Centurions. Que valores o rugby lhe incutiu ao longo dos anos?
Sou da opinião que todos os desportos ensinam valores importantes. Mas nenhum outro os ensina tão bem como o rugby. Valores como Trabalho em Equipa, Respeito, Espírito de Sacrifício, Coragem, Ambição, Compromisso, Liderança estão sempre presentes num campo de rugby e nunca nos devemos esquecer deles.
Nos últimos 10 anos tem dedicado também parte do seu tempo a dar palestras sobre liderança e espírito de equipa para muitas empresas nacionais e multinacionais. O que tenta transmitir às empresas?
Tento transmitir que os princípios que levam uma equipa de rugby a ter sucesso são os mesmos que devem ser utilizados pelas empresas.
O que há em comum ente o rugby e o mundo empresarial?
Muita coisa. Mas principalmente os tais princípios base para se ter sucesso. A regra número um no rugby é que não se pode passar para a frente. Agora pergunto: como se pode cumprir o objetivo de chegar à área de ensaio rival que está 50 metros à nossa frente, tendo 15 adversários que nos querem roubar a bola, se não trabalharmos em equipa? O mesmo se passa no mundo empresarial. Como conseguimos cumprir os nossos objetivos que são os mesmos da nossa concorrência, se não trabalharmos em equipa, seja no concretizar das decisões importantes, seja no apoio para quem as toma.
Um jogador de rugby é sempre um bom líder no mundo dos negócios? Tem algum exemplo que o inspire?
Um jogador de rugby está habituado a situações difíceis e a conviver com pressão. Isso deixa-o com prática para as decisões do dia a dia que se têm de tomar no mundo dos negócios. Existem alguns casos no mundo de bons jogadores de rugby que deram ótimos empresários. Em Portugal temos o caso do engenheiro Raul Martins que foi capitão da Seleção Nacional de Rugby, presidente da Federação Portuguesa e que hoje em dia é um grande homem de negócios.
Quais as qualidades mais importantes num líder? O que um bom gestor deve aprender com o rugby?
Existem vários tipos de líderes e cada liderança tem as suas qualidades. O tipo de liderança que mais gosto e que pretendo seguir, é a liderança pelo exemplo. Acredito que a forma mais fácil de fazer ver que o caminho que devemos seguir é que é o correto é dar o primeiro passo e depois procurar que a equipa nos siga.
Os portugueses são bons líderes?
Os portugueses são bons em tudo. Menos em acreditar neles próprios.
O que falta para que o rugby deixe de ser uma modalidade amadora em Portugal?
Falta visibilidade. Só com mais visibilidade conseguiremos ter mais jogadores, mais patrocínios e logo mais dinheiro. Mas eu sou da opinião de que o rugby em Portugal não deve ser 100% profissional, mas sim semiprofissional. Devemos conseguir fazer com que os jogadores estudem/trabalhem e joguem ao mesmo tempo. É possível conciliar, basta querer e organizar melhor.
Já escreveu um livro (“Hoje é por Portugal”) sobre a participação da Seleção Nacional no mundial de 2007. O que mais o marcou nesse ano?
2007 foi um grande ano. O que mais me marcou foi a experiência de viver como profissional de rugby e poder representar Portugal num campeonato do mundo contra as melhores equipas do mundo.
Qual foi o momento mais alto da sua carreira?
Todo o mundial foi importante. Mas a o apoio de tantos portugueses no estádio no jogo contra a Escócia e durante o jogo contra a Nova Zelândia estão no topo da lista.
Diz sempre que o rugby lhe deu muito. De que forma ou como pode devolver ao râguebi aquilo que a modalidade lhe deu?
Quero tentar continuar a ajudar o rugby português a estar no sítio onde merece e onde sei que pode estar. Vou continuar a procurar dar palestras em empresas, a explicar os bons aspetos que o rugby lhes pode ensinar. Tenho também um projeto que procura chamar equipas internacionais de rugby a virem conhecer o nosso país e o nosso rugby. Por último, gostava de ajudar a facilitar a vida dos jogadores da Seleção nas relações com as faculdades e trabalhos. Não podemos ter jogadores prejudicados por estarem a representar Portugal.
O que ainda lhe falta realizar?
Muita coisa. Mas ainda sou novo…
Que conselho dá aos jovens atletas que jogam rugby? E aos empresários dos nossos dias?
Para os jogadores, o conselho é que nunca desistam daquilo que querem. Por exemplo, na altura de entrada nas faculdades quando se confrontam com a dificuldade em conciliar o rugby e a vida académica. Não optem pela via mais fácil de dizer que é impossível conciliar. Que vão à procura de soluções e que lutem para as conseguir. Para os empresários, que apostem no trabalho em equipa, porque “se queremos ir rápido, devemos ir sozinhos, mas se queremos ir longe, temos de ir acompanhados” (provérbio africano).
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