Opinião
Perante a disrupção comercial, é preciso redefinir caminhos

O mundo tem assistido, expectante e apreensivamente, às decisões de política tarifária da atual Administração norte-americana liderada por Donald Trump. A volatilidade é muita, até porque o presidente norte-americano tem avançado e recuado, num curto espaço de tempo, em relação às suas decisões. Isto cria uma imprevisibilidade muito significativa, que torna o mercado dos EUA um alvo instável para as empresas portuguesas.
As consequências deste pacote de tarifas que tem sido anunciado por Washington estão ainda por medir, mas a disrupção da arquitetura comercial global que conhecemos até aqui parece evidente. A incerteza e o receio são inimigos perigosos das empresas e as políticas americanas têm contribuído para o reforço destes sentimentos.
Se olharmos para o tecido empresarial português, vemos uma grande maioria de pequenas e médias empresas que, naturalmente, e caso a decisão se mantenha, serão as mais afetadas pelas consequências que eventualmente vierem a surgir desta guerra comercial. Desde logo, podem sentir-se retraídas a iniciar quaisquer planos de internacionalização, fundamentais para o seu desenvolvimento e crescimento.
Mas há formas de continuar a expandir, mesmo com a possibilidade de degradação das relações comerciais com um antigo e grande parceiro comercial. O próprio Governo português, no chamado “Programa Reforçar”, apresentado recentemente, e que tem como objetivo apoiar as empresas portuguesas nesta tempestade, alocou cerca de 1200 milhões de euros para incentivar uma maior diversificação de mercados.
E a diversificação de mercados tem sido, precisamente, uma das preocupações que a Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP) há muitos anos expressa concretamente nos seus planos de missões internacionais que elabora anualmente.
A internacionalização e a construção de marcas fortes que levem o nome de Portugal além-fronteiras deve ser uma prioridade das nossas empresas. Só assim conseguirão crescer e alavancar a economia nacional e europeia. Mas isto também deverá servir de base para as estratégias económicas nacionais. O momento em que vivemos não deve servir – nunca! – de travão a esta ambição. Apenas nos deverá levar a acertar agulhas e a rever as prioridades geográficas. E é aqui que entra a diversificação dos mercados que servem de destino das nossas empresas.
Ásia, América Latina, África ou a própria Europa são destinos com um potencial imensurável ainda por explorar. É neste contexto que a CCIP vai também organizar a edição deste ano do Growth Forum – o principal evento do calendário anual – inteiramente dedicado a África. É preciso começar a apoiar as empresas no acerto da sua bússola, apresentando alternativas e abrindo portas que talvez desconheçam. Mudanças abruptas podem assustar, mas não devem paralisar. Se o mundo está a mudar, devemos concentrar esforços para que essa mudança nos beneficie.
*Diretora do Departamento ACEF (Associados, Comunicação, Eventos e Formação) da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa-CCIP