Opinião
Olhar longe para pensar global

Na semana passada encerraram as candidaturas para o Free Electrons, um programa de aceleração verdadeiramente global, no campo da Energia, cujo objectivo é promover o contacto com start-ups que desenvolvam soluções na área da mobilidade, energia limpa e eficiência energética.
O programa recebeu um total de 515 candidaturas, de 65 países diferentes. De entre o universo alargado de candidatos, os Estados Unidos, com um total de 84 start-ups, Brasil, com 30, e a Índia, com 29, são os países mais representados, mas nações como a Austrália (24), Espanha (23), Reino Unido (23), Alemanha (23) ou Portugal (14) estão igualmente em destaque.
Quando sublinho que o programa tem um alcance global é porque este acelerador integra ao todo nove elétricas, de várias geografias, que tiveram a visão de ver mais valor ao trabalharem juntas do que ao competirem isoladas. Os membros fundadores do Free Electrons são American Electric Power (USA), Ausnet Services (Austrália), DEWA (Dubai), EDP (Portugal), ESB (Irlanda), Innogy (Alemanha), Origin Energy (Austrália), SP Group (Singapura) e Tokyo Electric Power (Japão), com todo o programa a ter o apoio e gestão da Beta-i.
A verdade é que está a acontecer uma pequena revolução na produção, distribuição e uso da energia que vai tocar em tudo, e é para nós muito interessante ver como as top players da energia aprendem umas das outras.
Por outro lado, isto dá-nos oportunidade de olhar mais longe, pois o campo de recrutamento foi muito alargado… Um olhar mais atento às candidaturas, permite descobrir que 22% delas são dedicadas ao campo das Energias Limpas, 15% estão focadas em IoT & Digitização, 12% estão a olhar para a área da Eficiência Energética e 7% chegam-nos do universo das Redes Inteligentes.
Se analisarmos as candidaturas por tipologia de investimento, vemos que o maior bloco, com 17%, é o das start-ups que estão em fase Seed. 2% estão em Série B, seguindo-se as que estão na fase Série A (14%) e Pre-A (13%).
Outro dado que permite um leitura interessante é a origem deste financiamento: 56% dos candidatos chegam com fundos próprios, 31% recorre a Bolsas, tendo Amigos & Família sido o recurso de financiamento para 29% dos inscritos. A ajuda de um Business Angel foi necessária em 24% dos casos, sendo o Venture Capital responsável pelos restantes 17%.
Também constatámos que mais de 70% das empresas se candidata porque procura justamente fazer crescer o seu negócio, e não apenas porque estão à procura de investidores. Isto mostra que o Free Electrons é reconhecido globalmente como uma oportunidade chave de scale-up para as start-ups que trabalham neste sector.
Esta amálgama de números e dados diz-nos uma coisa: de facto este programa assenta na lógica da captura de potencial e da geração de inovação, e esta fase de candidaturas é o primeiro passo nesse sentido. Juntar utilities de nove geografias diferentes, que uniram esforços para criar algo único, vai-nos permitir ter acesso à energia peculiar que as start-ups já estão a ajudar a gerar, em várias outras indústrias, em diferentes pontos do globo.
E essa informação não seria possível captar num momento específico, e numa geografia isolada, até porque é preciso olhar cada vez mais longe para pensar global. Por isso, os pilares centrais do Free Electrons serão os três módulos internacionais, que terão lugar em diferentes países. Ao longo do programa, os participantes vão trabalhar de perto com as utilities, mentores e outros atores locais, de forma a acelerar o crescimento dos seus negócios.
Depois desta primeira etapa, a semana de Bootcamp terá lugar em Lisboa, de 3 a 6 de abril. Segue-se o 1.º módulo, repartido entre Sydney e Melbourne (Austrália). O 2.º módulo arranca depois em Silicon Valley (EUA), com o encerramento marcado para Berlim (Alemanha), em outubro, onde será revelado o vencedor.
Acreditamos que este é um formato perfeito para sublinhar que a inovação pode ser resultado da parceria entre start-ups e grandes empresas e de como isso será, cada vez mais, o “novo normal”.