Opinião

O elogio da oportunidade

Eugénio Viassa Monteiro, professor da AESE-Business School

Aparecem solicitações para resolver problemas adormecidos ou adiados, porque não havia urgência ou talvez recursos, podendo esperar. Muitos dos problemas respeitantes à educação e à saúde, não devem esperar, mas mobilizar o país para generalizar o ensino básico, erradicar uma doença: pode ser a tuberculose, o HIV, a raiva transmitida pela mordedura de um cão, a poliomielite, etc.

As pessoas com responsabilidades devem ter presente o sofrimento dos que são afetados, para não adiar soluções. Há alguns anos, vi grande satisfação com a erradicação da poliomielite da Índia e, para não haver transmissão de vírus, todas as fronteiras tinham um serviço de vacinação. Um número considerável de agentes de saúde estava mobilizado quer para a aplicação das vacinas a todas as crianças, quer na criação de estruturas de ação nas fronteiras. Hoje ainda se encontram muitas pessoas que não podem andar, por terem tido a polio. Ficou-lhes a marca para a toda vida.

A tuberculose parece não ser erradicada de vez, pois pode reaparecer, o que exige um esforço continuado de deteção de novos casos e tratamento a seguir.

Há, por exemplo, no país muito cão à solta, lembro-me particularmente em Goa. Acariciar os cães não é mau, mas convém não os ter em roda livre, correndo e atacando quem quiserem. Muitas pessoas caíram da bicicleta ou da motocicleta pela correria e aparente ataque de um cão sem coleira, com resultados desastrosos.

Os cães devem ter o seu dono e não serem deixados à solta, para não molestarem um pacato cidadão. Cão sem dono deveria ser recolhido e posto em exílio. Os que têm dono devem ter uma coleira de identificação e andar sempre acompanhados, para não amedrontarem os transeuntes.

Falo de oportunidades, para os problemas que saltam à vista e procuram uma correcção. Mas há outras ideias com grande potencial pela geografia ou localização que só alguns pessoas com grande intuição e descobrem e são capazes de as realizar. Alguns amigos referem às Ilhas Maldivas, de águas límpidas e areia branca. E essa estância turística fez-se porque alguém se lembrou de imaginar a alta qualidade do local e de investir para criar um resort, onde os turistas fossem descansar.

Há muitas outras ilhas paradisíacas, na Índia e ao redor, que não tiveram ninguém para lhes dar atenção, pois havia muitas outras coisas para fazer, não sobrando meios para investir em outros centros de turismo ou lazer. E ficaram perdidas as ilhas Lakshedweep, na costa ocidental e as ilhas Nicobar e Adaman, na costa Oriental. Todos falam da sua beleza como as outras ilhas todas cercadas de mar e de uma vegetação refrescante. As ilhas Lakshadweep são um arquipélago de doze atóis, três recifes e cinco bancos submersos. É um território da União com 32 Km2 e tem 10 ilhas habitadas. O total da população é 64,500 habitantes.

Transformar uma ilha num mini paraíso, não se faz num dia, mas constrói-se ao longo do tempo, quando uma mente determinada quer encontrar soluções para a tornar atrativa, congregando operadores de turismo, donos de hotéis e outros, capazes de impulsionar o desenvolvimento de um local onde muitos poderão ganhar o seu pão e outros poderão descansar.

Empreendedores ativos sempre encontram oportunidades para aplicar o capital e criar alternativas valiosas para o lazer: infra estruturas hoteleiras, restaurantes, ideias para a prática de algum desporto ou exploração paisagística das redondezas, comunicações e transportes, que fazem parte dos meios para se utilizar tais locais de repouso. Há que criar boas ligações por ar e água, para facilitar a acessibilidade às ilhas que queremos visitar.

Nas redondezas, poderá ser importante fazer passar circuitos de cruzeiros beneficiando os locais, como fazendo com que o pessoal dos cruzeiros tenha oportunidade de parar para apreciar os silêncios e as belezas dos lugares onde atracam.

Nas ilhas que rodeiam a Índia há necessidade de barcos de ligação com os barcos de cruzeiros e outros para levar pessoas de uma ilha para a outra, e para as cidades do Continente, donde provêm.

Não será complicado instalar dezenas de edifícios prefabricados com restaurantes e supermercados para as necessidades imediatas dos que lá vivem ou dos turistas. Daqui por uns anos já se verão edifícios de pedra e cal, definitivos.

Tudo se cria com rapidez, sem perder o sentido pioneiro de abrir uma nova porta para possibilidades de descanso para muitos e de empregos para outros. Todas as obras a fazer deverão cuidar o ambiente: sem destruir os corais, nem a vegetação singular.

Atletas e treinadores poderão pensar nos desportos próprios das ilhas e criar escolas de scuba diving, snorkeling, reef walking, cannoing, kayaking, e sailing yachts, de preparação física e de yoga, tanto para indianos como para os visitantes.

O sentido de quem vai iniciar um tipo de atividade que antes não existia é um estímulo para quem mesmo indeciso se lance à aventura, nem que seja para ver como é. Importante é fazer o exercício de descobrir novas oportunidades que são quase sempre formas de criar riqueza e trabalho.

 

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Eugénio Viassa Monteiro

Eugénio Viassa Monteiro

Eugénio Viassa Monteiro, cofundador e professor da AESE, é Visiting Professor da IESE-Universidad de Navarra, Espanha, do Instituto Internacional San Telmo, Seville, Espanha, e do Instituto Internacional Bravo Murillo, Ilhas Canárias, Espanha. É autor do livro “O Despertar da India”, publicado em português, espanhol e inglês. Foi diretor-geral e vice-presidente da AESE (1980 – 1997), onde teve diversas responsabilidades. Foi presidente da AAPI-Associação de Amizade Portugal-India e faz parte da atual administração. É editor do ‘Newsletter’ sobre temas da Índia,... Ler Mais..

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