O que pode levar uma campanha de crowdfunding ao sucesso? Pesquisa da FGV deixa algumas pistas.

Investigadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Brasil, analisaram os fatores que influenciam o sucesso de uma campanha de crowdfunding. A análise contempla apenas o mercado brasileiro, mas deixa pistas para quem optar por esta forma de financiamento.
Uma investigação brasileira, concretamente da Fundação Getúlio Vargas, realizada na Universidade do Texas, em Austin (Estados Unidos), a cerca de 4 mil campanhas de crowdfunding, identificou alguns fatores que influenciam o sucesso das mesmas, entre os quais estão a cidade em que o projeto alvo da campanha é implementado, ou ainda as recompensas atribuídas a quem participa no crowdfunding. Ou seja, para que os projetos obtenham os resultados desejados, o estudo revela que nem só as características do projeto importam.
“Com a análise, pudemos perceber que, além das características do projeto, fatores como o grau de desigualdade, escolaridade e a faixa etária dos habitantes da cidade onde a campanha está a ser realizada, podem ser decisivos para o sucesso das mesmas. Foram conclusões curiosas e que tentamos explicar por que elas ocorrem”, explicou Wesley Mendes da Silva, professor da FGV e autor do artigo publicado no Journal of Business Research, citado pela Fapesp.
O professor refere que o financiamento coletivo tem-se revelado uma alternativa muito procurada por quem quer alavancar um novo projeto, sem ter de recorrer a empréstimos bancários. Regra geral, através de uma plataforma especializada, estipula-se um valor total para o projeto que se pretende financiar e, dependendo das doações, quem participa (os financiadores) ganham recompensas, que podem ir desde livros, a T-shirts, posters ou palestras online.
Todas as campanhas de crowdfunding têm um prazo de duração e se no final desse período o valor que se pretende atingir não for alcançado, as doações são devolvidas e o projeto não é iniciado.
Nesta perspetiva, o investigador da Fundação Getúlio Vargas lembra que o fator tempo é crucial para o sucesso da campanha. “A resposta surge logo no começo. O crescimento da angariação dá-se em L, ou seja, ocorre uma contribuição muito grande no começo, que vai caindo e se estabiliza com o passar dos dias. Isso para as campanhas bem-sucedidas. As que fracassam já começam com pouca captação de financiamento”, explicou.
Segundo Wesley Mendes da Silva, se a campanha não tem um boom de contribuições na primeira semana é um indicador forte de que dificilmente atingirá o seu objetivo financeiro.
Outro aspeto curioso da pesquisa reside na conclusão de que as campanhas que mais rapidamente alcançam o sucesso são as que estão localizadas predominantemente em cidades com maior desigualdade de rendimentos. “Isso porque muita gente faz a alocação de recursos para crowdfunding quando se identifica com a situação potencial de colaborar para reduzir a desigualdade”, afirmou o investigador.
A par disto, o estudo identificou ainda que os objetivos financeiros muito elevados também tendem a influenciar negativamente o sucesso da campanha e que, por isso, o ideal é o promotor da mesma repartir o valor que pretende captar em duas ou mais campanhas.
O número de recompensas para os doadores também pode ser determinante. Quanto maior a variedade de brindes oferecidos como agradecimento aos colaboradores, mais reduzido é o tempo para se obter sucesso na campanha.
O estudo da FGV recorreu a um modelo de análise designado de sobrevivência, um método típico da medicina, explicou o investigador, utilizado, por exemplo, para determinar o tempo de sobrevivência depois que um paciente tem um enfarte. Essa e outras situações podem ser calculadas a partir de variáveis do paciente como idade, peso, altura, fator genético”, explicou.
“Esclareceu que no trabalho que desenvolvem usam as características da campanha como as variáveis desse modelo. Assim, medem informações como valor do investimento, nível de arrecadação, a variedade de recompensas oferecidas em troca de um aporte de capital”.
Os resultados deste estudo vão ter aplicabilidade prática, ou seja, Wesley Mendes da Silva revelou que já está a realizar outro projeto, em parceria com o Departamento de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no Brasil, para desenvolver um algoritmo que facilite o desenho das campanhas. “Estamos a desenvolver um modelo de previsão de sucesso utilizando metodologia de inteligência artificial. Com isso, esperamos oferecer aos donos das plataformas de crowdfunding um algoritmo que possa ajudá-los, antes mesmo que a campanha possa ser iniciada, a ter uma estimativa do quanto ela pode ser bem-sucedida ou não. Isso é positivo para todos: para a plataforma, para o projeto que procura financiamento e para os próprios financiadores”, acrescentou.