Opinião

O impacto do trabalho em modo híbrido (casa e escritório)

Carlos Carvalho, presidente da ADP França, Suíça e Tunísia

Houve um aumento acentuado na proporção de trabalhadores que afirmam poder aproveitar as vantagens do trabalho em modo híbrido nas suas empresas: atualmente, mais de dois terços (67%) acham-se nessa posição, contra pouco mais de um quarto (26%) antes da pandemia.

Além disso, quase a metade (47%) afirma que os seus dirigentes permitem uma flexibilidade ainda maior nesse aspeto do que mesmo as políticas das suas empresas estabelecem. Mas pode ser cedo demais para dizer que este é o momento em que o trabalho flexível conquista aceitação total, pois o estigma persiste, e cerca de três em cada cinco pessoas (59%) sentem-se julgadas por trabalharem de maneira flexível ou híbrida.

Mais de três quartos (76%) afirmam que as suas empresas estão a adotar as medidas apropriadas de saúde e segurança no trabalho para proteger a sua equipa da pandemia, seja com acordos de trabalho adaptados, implementação de distanciamento físico ou fornecimento de equipamento de proteção individual. Mais de seis em cada dez (63%) concordam que os seus empregadores forneceram o equipamento necessário para que pudessem trabalhar remotamente, mas, entre as pessoas que trabalham exclusivamente em casa, o número sobe apenas para 69%. Alguns aspetos ainda podem ser melhorados, já que a segurança e a eficiência dos trabalhadores são colocadas à prova e há maior risco de violações de segurança quando a equipa usa equipamento pessoal menos seguro e compatível para desempenhar o seu trabalho.

Os empregadores estão bem cientes de que suas responsabilidades são grandes nesta matéria e que as suas empresas só têm a ganhar ao apoiar os seus colaboradores de outras maneiras. Isto inclui apoio à saúde mental (o que dois terços ou 65% dos trabalhadores afirmam que seus empregadores estão a fazer), assistência no bem-estar financeiro (que três em cada cinco, ou 59%, afirmam estar a ser feito) e reconhecimento pelas suas contribuições (que dois terços, ou 67%, afirmam que os empregadores estão a fazer).

Mesmo com todo o progresso obtido na promoção e estruturação do trabalho flexível e remoto durante a pandemia, há ainda vários obstáculos a superar, um deles sendo como os empregadores monitorizam e organizam as equipas que estão a trabalhar em lugares e horários diferentes. Mais de seis em cada dez trabalhadores (62%) afirmam que seus empregadores estão a controlar as horas e assiduidade mais rigidamente do que nunca, o que pode gerar questionamentos por parte dos colaboradores quanto à perceção deles de justiça, dado o número de horas não remuneradas, mas na realidade trabalhadas.

Saber lidar com essas contradições e ajudando às mudanças na configuração do trabalho pode-se mostrar uma área essencial para dirigentes e equipas de RH no futuro próximo.

A evolução da organização de trabalho é inevitável e está a acontecer a uma velocidade inédita. As questões sobre a perda de produtividade no trajeto casa-trabalho-casa no histórico “9to5”, a organização da vida pessoal em mais de um ano de modo “pandemia” criou-nos afinal novos hábitos e novos equilíbrios sem perder de vista a performance individual, a satisfação do cliente final e cumprimento de objetivos.

Este novo modo de trabalho produzirá impactos sobre a remuneração, e sobre outros “benefits” históricos? Talvez, se nos debruçarmos sobre por exemplo a utilidade do veículo de função, a evolução do subsídio de almoço, ou as despesas de representação. Reflexões para os próximos artigos, “Stay tunned”.

*Ainda no seguimento do grande inquérito realizado pela ADP sobre o mundo do trabalho neste período de pandemia que aqui já referi em artigos anteriores, e como trouxe muita matéria para reflexão no mundo RH das empresas, continuo a partilhar algumas das principais conclusões, e aqui concentro a atenção sobre “O impacto do trabalho em modo híbrido (casa e escritório)”.

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Carlos Carvalho

Carlos Carvalho

Licenciado pelo ISEG em Gestão, em 1994, Carlos Carvalho começou a carreira nos escritórios da KPMG em Lisboa. Após um ano como auditor financeiro na KPMG, coordenou a equipa de desenvolvimento comercial B2B da empresa espanhola FAGOR Eletrodomésticos, onde desenvolveu o conceito em Portugal das cozinhas encastradas e o mercado da construção civil com cozinhas equipadas. Em 1997, a head hunter AMROP convida-o para o grande projeto da sua carreira: a direção operacional da maior rent-a-car a operar em Portugal,... Ler Mais..

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