Opinião
O problema da competitividade
Nas economias mais desenvolvidas, os fatores tradicionais de competitividade – preço, custos de produção, capital, matérias-primas, mão de obra intensiva, localização geográfica, acessos, etc. – perderam peso, ao mesmo tempo que passaram a ser determinantes para o sucesso das empresas e dos seus bens/serviços fatores como a marca, a tecnologia, a inovação, a criatividade ou a diferenciação.
Portugal está ainda numa fase de transição para os fatores de competitividade da economia do conhecimento: já não consegue competir com base em baixos custos de produção, mas ainda tem dificuldade em subir na cadeia de valor. Muitos produtos portugueses apresentam qualidade, autenticidade, história, preço…. Mas faltam-lhe outras características, hoje muito valorizadas, como o design, a marca, a inovação, a tecnologia e a sustentabilidade, por exemplo.
Já as empresas demonstram capacidade de produção, facilidade em captar os sinais de mercado, flexibilidade logística e bom timing de entrega. Falta-lhes, contudo, maior produtividade, gestão moderna, capacidade de inovação e dimensão internacional, entre outros fatores críticos. Acresce a tudo isto duas condições muito comuns no tecido empresarial português: a escassez de capital disponível e o elevado nível de endividamento, circunstâncias que dificultam grandemente a capacidade de financiamento e investimento das empresas.
A baixa competitividade está na raiz do crescimento anémico das últimas duas décadas e do modelo de baixos salários que ainda vigora no tecido empresarial português. Nos últimos 20 anos, a economia nacional foi das que menos cresceu da zona euro (pior só Grécia e Itália) e Portugal está na iminência de ser ultrapassado por países recém entrados na União Europeia em termos de PIB per capita.
Há cinco fatores competitivos essenciais para o crescimento da economia portuguesa: produtividade, transição digital, inovação, sustentabilidade e branding. Mas, para que as empresas tenham condições para tirar partido destas vantagens competitivas, importa melhorar o ambiente de negócios em Portugal. Isto passa por uma política de execução dos novos fundos europeus (PRR e Portugal 2030) orientada para a atividade empresarial e a eliminação dos principais obstáculos ao investimento: custos de contexto elevados, burocracia administrativa, mau funcionamento da Justiça e carga fiscal pesada.
No ecossistema empreendedor português, os fatores de competitividade aqui elencados estão muito presentes e fazem a diferença. É nas startups portuguesas e PME inovadoras que, em grande medida, se criam empregos altamente qualificados, se realizam atividades de I&D, se desenvolvem tecnologias disruptivas e produtos de valor acrescentado, se registam patentes em áreas de ponta, se aplicam tecnologias digitais nos processos produtivos e se lançam marcas com potencial global.
No nosso ecossistema encontramos, de facto, os sinais mais consistentes de transformação da economia portuguesa a partir de um modelo de desenvolvimento inteligente, inovador e sustentável. Convém, por isso, continuar a apoiar a criação, aceleração e crescimento de empresas intensivas em conhecimento, quer dos setores tradicionais, onde Portugal continua a ser competitivo, quer dos sectores tecnológicos (software, internet das coisas, big data, realidade virtual ou aumentada, blockchain, cibersegurança, biotecnologias, etc.). É aí que reside o nosso potencial de competitividade; é daí que emerge o futuro da nossa economia.
*ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários