Entrevista/ “O desafio está em criar as condições certas para que start-ups locais consigam escalar globalmente”

“Procuramos empresas de serviços tecnológicos, especialmente aquelas que tiram partido de tecnologias como low-code e inteligência artificial para acelerar o desenvolvimento de soluções inovadoras”, explicou João Prior, partner da Growset, que quer ser mais do que uma empresa investidora.
Não ser apenas mais um investidor. É este o propósito da Growset que foi criada por três jovens para ajudar os empreendedores a fazer crescer os seus negócios na área tecnológica, especialmente em low-code (desenvolvimento de software de baixo código) e inteligência artificial, tanto a nível nacional como internacional.
João Prior liderou na Deloitte, nos últimos anos, estratégias de crescimento de empresas através da integração inovadora entre tecnologia e experiência do utilizador. Frederico Mangas dedica-se ao investimento e desenvolvimento de outras empresas tecnológicas, tendo ele próprio fundado, em 2014, a Indigo, uma empresa de referência em serviços especializados em low-code. Já Nelson Rodrigues é fundador da Mediaweb, uma empresa focada em experiências digitais e soluções low-code, complementadas por tecnologias tradicionais e inteligência artificial.
“A nossa missão é apoiar empresas e fundadores, fornecendo não só capital, mas também a experiência e o conhecimento necessários para que possam inovar, crescer e alcançar mercados internacionais”, explica João Prior, referindo que “adquirimos participações nas empresas, mas não na sua totalidade, pois acreditamos que o alinhamento de interesses é essencial para o sucesso do negócio”.
10 milhões de euros é quanto querem investir em dois anos, para ajudar as tecnológicas, na fase pré-seed ao scaleup, a acelerar o seu crescimento. Mas não ficam por aqui. Querem também investir em inovação através do Growset Labs, “um espaço dedicado à aceleração de ideias e negócios disruptivos”. O seu principal objetivo é “complementar o nosso portfólio, fomentar a inovação e criar soluções diferenciadoras que respondam às exigências do mercado. É uma plataforma desenhada para transformar ideias em negócios sustentáveis”, revela o partner da Growset, que visiona a Growset como um “farol global no ecossistema de inovação”.
Como surgiu a ideia de criar a Growset?
A ideia nasceu da nossa experiência como empreendedores no setor tecnológico. Sentimos que existia um espaço para criar um projeto que, além de investir, partilhasse conhecimentos práticos e suporte direto aos fundadores. Queríamos ajudar outros empreendedores a ultrapassar os desafios que também enfrentámos, criando um ecossistema mais colaborativo e orientado para o crescimento sustentável.
Qual é a missão da Growset?
A nossa missão é apoiar empresas e fundadores, fornecendo não só capital, mas também a experiência e o conhecimento necessários para que possam inovar, crescer e alcançar mercados internacionais. Queremos ser parceiros estratégicos que potenciam o sucesso a longo prazo.
“Trazemos competências complementares às dos fundadores, combinando a nossa experiência em áreas como estratégia, finanças ou go-to-market”.
De que forma a experiência dos três fundadores tem sido importante para a Growset?
Trazemos competências complementares às dos fundadores, combinando a nossa experiência em áreas como estratégia, finanças ou go-to-market. Já passámos por desafios semelhantes aos que os fundadores enfrentam, o que nos permite compreender as suas necessidades e dores. Trabalhamos como uma equipa, lado a lado com os fundadores, colocamo-nos nos seus pés e oferecemos suporte prático e orientado para resultados. Esta abordagem permite-nos ajudar de forma mais eficaz e personalizada, contribuindo para o sucesso dos projetos que apoiamos.
Quantos ativos já têm no portefólio e como os caracteriza?
Atualmente, gerimos um portfólio diversificado que abrange áreas como desenvolvimento de software, experiência do utilizador (UX/UI), formação e serviços de consultoria tecnológica. Os nossos ativos complementam-se, criando um ecossistema integrado e sinérgico.
Que tipo de empresas procuram e apenas da área tecnológica?
Procuramos empresas de serviços tecnológicos, especialmente aquelas que tiram partido de tecnologias como low-code e inteligência artificial para acelerar o desenvolvimento de soluções inovadoras. A nossa prioridade são negócios com um crescimento sustentável e que se possam desenvolver em contextos internacionais, potenciando uma oferta integrada.
“Embora o nosso foco atual esteja em low-code e inteligência artificial, estamos sempre atentos a oportunidades que complementem o nosso portfólio e gerem impacto”.
Poderão alargar o portfólio a outras áreas? Qual é a grande aposta para o futuro?
Embora o nosso foco atual esteja em low-code e inteligência artificial, estamos sempre atentos a oportunidades que complementem o nosso portfólio e gerem impacto. A nossa aposta de futuro continua a ser o cruzamento dessas tecnologias para responder às crescentes exigências do mercado.
Qual é a vossa abordagem de investimento?
A nossa abordagem de investimento é centrada na criação de parcerias genuínas e estratégicas com os fundadores. Adquirimos participações nas empresas, mas não na sua totalidade, pois acreditamos que o alinhamento de interesses é essencial para o sucesso do negócio. Queremos que os fundadores mantenham uma forte motivação e protagonismo, enquanto os apoiamos com capital, conhecimento e experiência prática.
Além disso, trabalhamos com parceiros financeiros que complementam a nossa visão, permitindo-nos equilibrar o crescimento sustentável com momentos de aceleração estratégica. O nosso modelo é flexível e focado em resultados, assegurando um acompanhamento personalizado que vai muito além do investimento financeiro. Pretendemos ser aliados de confiança que ajudam os fundadores a enfrentar desafios e a atingir todo o potencial das suas empresas.
Quais são os planos de investimento da Growset para este e o próximo ano?
Em parceria com os nossos parceiros financeiros, planeamos investir um total de 10 milhões de euros nos próximos dois anos. Este capital será direcionado a negócios e ideias tecnologicamente disruptivas, com foco no crescimento estratégico e sustentável.
Qual é o objetivo para este ano?
O nosso principal objetivo para este ano é fortalecer o portfólio atual e complementar a oferta, apoiando os nossos fundadores no crescimento das suas empresas. Queremos consolidar a Growset como um parceiro estratégico de referência no setor tecnológico.
“(…) é fundamental superar barreiras estruturais como o acesso a financiamento nas fases críticas de crescimento e a implementação de políticas públicas que estimulem a inovação e reduzam burocracias”.
Como avalia o mercado de venture capital em Portugal?
O mercado de venture capital em Portugal tem evoluído de forma notável nos últimos anos, revelando uma crescente capacidade de atrair startups e investimentos internacionais. O talento existente no país, aliado à criatividade e à resiliência dos empreendedores, tem permitido consolidar a posição de Portugal como um hub emergente de inovação. No entanto, para desbloquear todo o potencial do ecossistema, é crucial fomentar ainda mais histórias de sucesso. Estes casos não só inspiram outros empreendedores a sonharem maior, mas também ajudam a fortalecer a perceção de Portugal como um destino atrativo para investidores globais.
Além disso, é fundamental superar barreiras estruturais como o acesso a financiamento nas fases críticas de crescimento e a implementação de políticas públicas que estimulem a inovação e reduzam burocracias. O desafio está em criar as condições certas para que start-ups locais consigam escalar globalmente, transformando Portugal num epicentro de empreendedorismo de classe mundial.
Quais são os maiores erros dos empreendedores?
Um dos maiores erros é subestimar a importância de uma boa execução. Num mundo de grande disrupção, em que a inteligência artificial veio criar ciclos de mudança acelerados, a capacidade de executar bem é o que separa ideias promissoras de histórias de sucesso. Além disso, é fundamental abraçar a ideia de “falhar rápido” – identificar rapidamente o que não funciona, ajustar a solução ou o produto e continuar a iterar. Esta mentalidade ágil pode fazer toda a diferença no caminho para o sucesso.
O que falta a Portugal?
Portugal tem um ecossistema tecnológico promissor e tem conseguido atrair empresas para se fixarem cá, graças à qualidade do talento que temos e ao contexto competitivo do país. No entanto, esta vantagem também se torna num desafio para as empresas que estão a nascer, especialmente pela necessidade de crescerem rapidamente e de se posicionarem no contexto internacional para serem competitivas.
É essencial criar condições para que, nestas fases críticas, as empresas não sejam estranguladas por processos e políticas, de forma a que se possam focar no crescimento e no seu desenvolvimento. Isso inclui facilitar o acesso a financiamento, implementar políticas públicas ágeis e criar um ambiente que valorize e retenha talento, garantindo que startups e scale-ups prosperem.
O Growset Labs é outro dos projetos da empresa. Em que consiste?
O Growset Labs é um espaço dedicado à aceleração de ideias e negócios disruptivos. O seu principal objetivo é complementar o nosso portfólio, fomentar a inovação e criar soluções diferenciadoras que respondam às exigências do mercado. É uma plataforma desenhada para transformar ideias em negócios sustentáveis.
“Mais do que um portfólio robusto, queremos ser lembrados como agentes de transformação – aqueles que acreditaram, investiram e ajudaram a moldar um ecossistema tecnológico vibrante e globalmente competitivo.”.
Como vê a Growset daqui a cinco anos?
Daqui a cinco anos, visionamos a Growset como um farol global no ecossistema de inovação, reconhecida por impulsionar empresas tecnológicas que definem tendências e criam impacto real no mundo. Queremos ser não apenas um parceiro estratégico, mas também uma referência de confiança para fundadores que aspiram a transformar ideias em histórias de sucesso global. Mais do que um portfólio robusto, queremos ser lembrados como agentes de transformação – aqueles que acreditaram, investiram e ajudaram a moldar um ecossistema tecnológico vibrante e globalmente competitivo.
Respostas rápidas:
Maior risco: O risco de não inovar e perder a oportunidade de crescer.
Maior erro: Não alinhar visão, estratégia e execução desde o início.
Maior lição: A consistência é chave para alcançar resultados.
Maior conquista: Transformar falhas em aprendizagens, criar impacto positivo e partilhar valor com os outros.