Opinião
Apanhados na curva…..
A minha geração apenas assistiu à guerra à distância. Alguns, mais velhos, ainda combateram na guerra colonial e assisti ao drama das minhas tias avós a verem partir os filhos sem saber se regressariam.
Os meus pais e avós falavam do racionamento no tempo da segunda guerra mundial e das fiscalizações das autoridades para descobrir talhas de azeite e cereais que as famílias escondiam para se precaverem.
Depois disso todas as guerras foram à distancia e vistas no conforto do sofá da sala de estar. Mesmo a guerra fria era uma ameaça permanente, mas distante apesar do relógio nuclear que, de forma alarmista, anunciava que faltavam apenas dois minutos para a destruição total.
Esta paz gerou gerações sucessivas que descuidaram a importância da defesa e da capacidade militar e que passar a considerar todos os outros pelos seus padrões de valores.
Ora o drama é que existe a geopolítica desde que o homem se organizou em sociedade e os interesses geoestratégicos das várias potências e blocos são diferentes e, se necessário, utilizam a guerra como meio de atingir os seus objetivos. Como dizia, um estratego alemão do século XIX, Clausewitz, a guerra é o prolongamento da política por outros meios. Infelizmente os líderes europeus e a opinião pública dominante esqueceram-se dessa máxima.
A política europeia, e, em larga medida ocidental, das duas últimas décadas passou por:
- Reduzir a capacidade de defesa do Ocidente: em toda a Europa, os estados da UE optaram por não investir em defesa;
- Crescente dependência energética de países com objetivos não coincidentes: a dependência do gás russo e do Magreb para responder aos lobby’s ambientalistas – quiçá, como agora se começa a discutir, financiados pela Rússia – com encerramento de centrais nucleares, fecho de centrais a carvão na ilusão que as fontes de energia intermitente se poderiam substituir na íntegra com o recurso a combustíveis de origem fóssil.
As potências ocidentais foram, assim, apanhadas na curva ao não se prepararem para uma ameaça que, pelo menos desde 2014, era evidente. Outras ameaças existem, porventura bem mais graves: o expansionismo chinês é muito mais agressivo e consistente que o russo e a dependência ocidental da China é suicidária, como a pandemia veio a expor.
Felizmente que os povos se erguem sempre mais alto que os seus dirigentes e a reação geral à invasão russa da Ucrânia leva-nos a ter confiança que os tiranos e as ditaduras terão sempre um fim garantido. Infelizmente a não prevenção por parte das democracias, a ingenuidade dos líderes, torna por vezes essa certeza de que as ditaduras não prevalecerão, muita cara em destruição de vidas humanas e bens, de garantir.
Esperemos que, mais uma vez, a civilização sobreviva à barbárie e a vontade dos povos prevaleça sobre a vontade dos tiranos.