Opinião

Não entrei na universidade… e o mundo não acabou!

Anabela Possidónio, fundadora da Shape Your Future

Os meses de julho e agosto foram intensos para todos aqueles que se estavam a candidatar à universidade.

Entre os resultados dos exames, a decisão de se candidatarem à 2ª época, a definição de estratégia de candidatura e o conhecimento do resultado, estamos a falar de pouco mais de 1 mês. Isto é bom? Sem dúvida que sim! Por um lado, há uma diminuição da ansiedade e, por outro, para aqueles que vão tentar a sua sorte nas épocas seguintes, não perdem demasiadas aulas.

Esta foi a primeira vez que houve um esforço em tentar diminuir o calendário e isso é  de louvar. Se perguntarem aos alunos que estavam à espera de saber se tinham atingido os seus objetivos, e entrado no curso que queriam, este foi, provavelmente, o verão mais longo de sempre.

Passada esta fase de ansiedade, os candidatos colocados preparam agora a sua nova vida. Para alguns, significa mudarem para uma nova cidade, começarem a viver sozinhos e perceberem o que é que é isto do ensino universitário.

Algo que digo sempre aos participantes dos programas da Shape Your Future  é para não desanimarem no primeiro ano. Trata-se do ano das bases, as disciplinas são normalmente pouco interessantes e os resultados a que eles vinham habituados também vão deixar de aparecer. Partilho muitas vezes com eles, que no primeiro teste de estatística do meu primeiro ano de faculdade, 90% dos alunos tiveram negativa. Ainda me lembro de ter ficado triste com o meu 10,5. Tristeza que rapidamente passou quando percebi o contexto em que me encontrava.

Todas estas mudanças fazem parte de uma nova fase de vida, não só para os que entraram, mas também para aqueles que ficaram de fora. E para os que ficaram de fora o sentimento de tristeza dá-se em dose dupla. Não só não conseguiram atingir os seus objetivos, como veem muitos dos seus amigos iniciarem uma nova aventura, e acabam por se sentirem perdidos, sem perceberem muito bem qual é o seu lugar.

Tal como no caso do empreendedorismo, também se fala pouco daqueles que “falharam”. Os jornais encheram-se de notícias dos bons alunos que entraram nos cursos mais altos, mas ficaram esquecidos alguns bons alunos que tinham uma excelente média do secundário, e que foram traídos pela nota do exame.

Esse foi o caso da Joana que, tendo tido uma média de secundário acima de 18, a nota do exame de Matemática não lhe permitiu ter nota para entrar em Arquitetura em 2022. Foi também o caso do Francisco, cuja nota de Físico-Química o deixou de fora do curso de Engenharia Mecânica nesse mesmo ano.

Infelizmente isto não aconteceu somente com a Joana e o Francisco. Aconteceu a bastantes mais jovens. A razão porque me foco nestes dois, é por terem assumido que correu mal e que, ao contrário de muitos outros, não “forçaram” a entrada na universidade num curso que não era o que efetivamente queriam. Sem o terem planeado, acabaram por ter o seu Gap Year. Hoje quando falo com eles, dizem que foi altamente libertador, e provavelmente o melhor que lhes podia ter acontecido.

A Joana dedicou-se ao seu hobby de sempre, a música. Começou por pensar que era um conforto e acabou por perceber que era a sua vocação. Já o Francisco decidiu fazer voluntariado internacional. Introvertido por natureza, viajar sozinho permitiu-lhe descobrir competências que não imaginava que tinha. Para os dois, 2022 foi um ano de descoberta.

Este ano, o Francisco repetiu o exame de Matemática e entrou em Engenharia Mecânica. A grande diferença é que agora sabe claramente o que vai fazer com o curso que vai tirar! Já a Joana, dedicou-se a fazer audições em universidades europeias e vai estudar música para a Holanda.

Estes são apenas dois casos que souberam aproveitar a oportunidade que “falhar” lhes trouxe. Que sirva de inspiração a todos os jovens que este ano estão na mesma situação. Não desistam! Olhem para os desafios como oportunidades! Desafiem-se! Empreendam! Façam, errem e aprendam!

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Anabela Possidónio

Anabela Possidónio

Anabela Possidónio é fundadora e diretora-geral da Shape Your Future, que tem como missão ajudar jovens e adultos a tomarem as melhores decisões académicas e profissionais. Assume também o cargo de diretora-geral da Operação Nariz Vermelho. Tem uma vasta carreira corporativa de mais de 25 anos, onde assumiu posições de liderança em diversos setores (Saúde - CUF; Educação - The Lisbon MBA; Retalho - Jerónimo Martins e Energia - BP), em diferentes países (Inglaterra, México, Espanha e Portugal) e empresas... Ler Mais..

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