Opinião

Na corda bamba!

Susana Duro, Senior Marketing Manager na Coca-Cola Europacific Partners

Não estás na empresa para fazer amigos! Não tragas o trabalho para casa! Trabalho é trabalho, conhaque é conhaque!

Quantas vezes ao longo da nossa vida ouvimos estas afirmações? Com maior ou menor profundidade elas fazem parte do nosso crescimento “profissional”.

Muitas pessoas continuam a tentar viver duas vidas diferentes, uma profissional e uma pessoal ou então a tentar dividir a sua vida em duas metades. Mas isto é sequer possível?

Existe alguém que consiga separar completamente estas duas realidades? Vou tentar descrever o que seria um dia a fazer esta separação: A Maria é casada, tem dois filhos e trabalha num banco. De manhã sai de casa e vai ao ginásio, leva na mala o telemóvel pessoal e o profissional. Quando está a sair do ginásio recebe uma mensagem no telemóvel da empresa, vai ver do que se trata… erro, já está a misturar a vida profissional com a pessoal.

Chega à empresa e um colega pergunta pelos filhos e a Maria (já em modo profissional) responde…erro, já está a misturar a vida pessoal com a profissional. A meio da manhã recebe mensagem de uma amiga no Whatsapp e responde… erro, novamente a misturar a vida pessoal com a profissional. Mais tarde recebe o telefonema do marido a pedir para tratarem da inscrição de uma atividade do filho e a Maria vai fazer … erro… E durante o resto do dia sucedem-se mais umas quantas situações.

À noite chega a casa e está a fazer os trabalhos com o filho, mas em simultâneo responde a uns emails urgentes …erro, já está a misturar a vida profissional com a pessoal. Depois desabafa com o marido sobre uma questão que teve com um colega de trabalho…erro… e poderia descrever mais um sem número de situações.

O que quero demonstrar é que esta separação é uma utopia e nem a pessoa mais perfeccionista seria capaz de a executar. As pessoas não são projetadas para separar o trabalho da vida pessoal. E porquê? Porque o trabalho faz parte da vida e se formos uma uma das muitas pessoas que dedicam metade dela (ou mais) ao trabalho, então metade da nossa vida é trabalho.

Acho que está na hora de pararmos de fingir que temos caixas bem definidas para experiências profissionais e não profissionais. É psicologicamente falso e pode ser muito prejudicial quando forçado, gerando muito stress e até burnout.

Nós somos um único ser, mas multifacetado que assume muitos papéis sociais ao mesmo tempo. Além do nosso trabalho, também somos filhos, irmãos, vizinhos, amigos, mentores, alunos, pais, namorados, maridos, mulheres…

Esses papéis não estão divididos em caixas no nosso cérebro e um não anula o outro quando começa. Eu não deixo de ser mãe para o meu filho quando estou no trabalho. Sou 100% mãe. Eu não deixo de ser colaboradora da empresa quando estou com o meu filho.

A primeira grande conclusão é que a procura pelo tão cobiçado estado de separação perfeita entre os dois mundos é apenas uma fonte absurda de stress e frustração. Essa separação nunca poderá ser alcançada. É apenas um estado mental que se atinge, justamente, quando não se tem a necessidade de separar os dois mundos.

Mas depois de resolvida a separação que afinal não existem surge a questão do equilíbrio.

Desde há décadas que o equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal é um tópico de discussão. Com o desenvolvimento da tecnologia esta discussão adquiriu muito mais intensidade, porque agora temos ferramentas que nos permitem estar sempre conectados, em todo o lado, a qualquer hora.

Mas afinal o que é o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional?

Para alguns, o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal significa poder gerir a sua vida pessoal durante o dia de trabalho, sem dar justificações a outras pessoas, nomeadamente chefias. Outra definição comum de equilíbrio entre vida profissional e pessoal é “tempo igual ou prioridade para atividades pessoais e profissionais”.

“Equilíbrio” não significa “tempo igual para tudo”, mesmo porque o conceito de equilíbrio varia de pessoa para pessoa de acordo com as prioridades e as expetativas de cada um. Há quem dê prioridade ao tempo em família e necessite de mais tempo para estar com eles, outros gostam de ficar na empresa até tarde e dedicam muito mais tempo a este papel.

A verdade é que a falta de equilíbrio é inevitável. Existem imensas prioridades que combinadas com altas expetativas são uma mistura explosiva. Nessa situação, procurar o equilíbrio só nos faz sentir culpados e frustrados. O melhor mesmo é aceitar o desequilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Todos vemos as nossas redes sociais no trabalho e lemos os e-mails de trabalho em casa. Isto é apenas uma mistura de trabalho e vida. Nós somos seres sociais e fomos educados para encontrar significado no nosso trabalho. Uma das primeiras perguntas que a maioria das pessoas faz quando conhece alguém é: “O que faz?” Isso porque as pessoas querem saber qual é o seu papel social para saber a melhor forma de interagir. O nosso trabalho é a forma como agregamos valor ao mundo. Vida pessoal e vida profissional são duas faces da mesma moeda e não devemos tentar quantificar, dividir, avaliar, equilibrar… Na minha opinião o segredo é fazer com que o tempo em cada um destes papéis seja significativo. Não é possível ter uma carreira feliz sem ter uma vida pessoal feliz e vice-versa.

No final, todos nós só vivemos uma vida. E a nossa vida está interligada com muitas pessoas. O objetivo é preencher a nossa vida com pessoas de quem gostemos e fazer coisas de que gostemos. Quanto ao equilíbrio, será o que quisermos que seja!

 


Susana Duro tem mais de 20 anos de experiência no desenvolvimento e implementação de estratégias de marketing para marcas líderes de mercado e um sólido percurso profissional construído em empresas nacionais e multinacionais de referência dentro do mercado de FMCG.

É licenciada em Marketing e Publicidade pelo IADE, pós-graduada em Retail Management e em Direção Comercial no Indeg/Iscte e mestre em Marketing pela mesma instituição. Iniciou a sua carreira de marketing na Henkel Ibérica como gestora de produto, passando depois para brand manager na Dan Cake. Em 2004 entrou para a Nestlé onde esteve durante 11 anos. Aqui desempenhou a função de brand manager da categoria de Culinários, de trade marketing manager na categoria de chocolates e de head of trade marketing na categoria de Cereais de pequeno-almoço. Em 2017 entrou para a Coca Cola Europacific Partners como responsável pela equipa de Customer Development do Canal Alimentar. Em 2022 foi convidada para assumir a função de National Account manager ficando com a responsabilidade de várias contas no canal Horeca Organizado.

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