Iberdrola: maior projeto em território português está 50% concluído

O projeto da Iberdrola no Tâmega vai corresponder a 6% da potência instalada em Portugal e evitará a importação de mais de 160 mil toneladas de petróleo por ano.
34 mil milhões de euros. Este é o investimento global que, até 2022, a Iberdrola vai realizar para desenvolver o próprio negócio. Em Portugal, são 1.500 milhões de euros (300M€ para licenciamento) destinados ao maior projeto da multinacional espanhola em território luso: o sistema electroprodutor do Tâmega, que inclui a construção de três aproveitamentos hidroelétricos no Alto Tâmega, Daivões e Gouvães.
A nível global, a obra, que começou em 2014, já se encontra 45% terminada. A empresa prevê atingir o marco dos 50% no próximo mês e acabar a construção em 2023. O investimento no projeto vai a meio visto que, no final do ano passado, já tinham sido investidos 770 milhões de euros.
Saliente-se que, depois de finalizado, o projeto vai ter uma potência instalada de 1.158 megawatts – um número que equivale a 6% da carga instalada em Portugal. A energia “verde” aqui produzida evitará a importação anual de mais de 160 mil toneladas de petróleo e a emissão de mais de 1,2 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano.
As centrais
Destaque-se de igual forma que as barragens são a única tecnologia atual capaz de armazenar energia elétrica de forma eficiente e massiva.
A central hidroelétrica de Gouvães é a que possui maior capacidade de produção. No total, são 880 megawatts produzidos por quatro turbinas reversíveis, o suficiente para abastecer as necessidades energéticas da zona metropolitana do Porto durante um dia ou, como referiu Eduardo Gonzalez, responsável pela comunicação da multinacional espanhola, durante a visita às instalações, “o suficiente para carregar entre 150 mil e 200 mil Teslas com 500 quilómetros de autonomia”.
Atualmente, este aproveitamento hidroelétrico encontra-se 55% completo. Prevê-se que o início da operação comercial aconteça em dezembro de 2021.

A central de Gouvães é composta por uma caverna com perto de 350 metros de profundidade.
A poucos quilómetros de distância encontra-se a obra de Daivões. Aqui está a ser construída uma barragem com 77,5 metros de altura com uma potência de 118 megawatts. No geral, este ramo do sistema electroprodutor encontra-se completo em 40%. Ao Link To Leaders, Vitor Afonso, responsável da construção, explicou que já foi colocado 60% do volume de betão necessário para completar o projeto. Tal como na anterior, o arranque da operação comercial está previsto para dezembro de 2021.

Os circuitos hidráulicos da barragem de Daivões estão a ser revestidos de betão armado.
Já no Alto Tâmega, cujo início dos trabalhos se deu há precisamente dois anos, calcula-se que a conclusão dos trabalhos civis seja em 2021 e que esteja pronta para comercializar energia a partir de 2023. Espera-se que, no início desse ano, comecem os trabalhos de montagem das duas turbinas da central – que vai gerar 180 megawatts de potência. Apesar de só estar 30% concluída na sua globalidade, algumas das estruturas deste empreendimento já se encontram finalizados. Tal é o caso do túnel de desvio do rio (250 metros de comprimento) e do túnel de acesso à central (480 metros de comprimento).

Antevisão de como ficará a barragem do Alto Tâmega.
Impacto económico
Atualmente, são perto de 1.800 os funcionários que estão a trabalhar na construção do sistema electroprodutor, sendo que 370 são dos municípios próximos do projeto. Contudo, de acordo com os dados fornecidos aos jornalistas, calcula-se a criação de 13.500 novos postos de trabalho, diretos e indiretos, durante toda a construção.
Para além disso, são mais de 75 as empresas portuguesas – 30 locais – que estão a trabalhar, ou já trabalharam, na obra a contrato da Iberdrola. Um dos casos é a Painhas, uma empresa do Norte de Portugal que trabalha nas áreas de construção, manutenção e gestão de operações no mercado do setor energético e que está inserida no projeto do Tâmega desde o seu começo, tendo atualmente 100 pessoas no terreno, como contou ao Link To Leaders a líder executiva Helena Painhas.
Numa primeira fase, a organização portuguesa começou por construir uma linha de média tensão para alimentar um dos túneis. Depois, “concluímos a infraestrutura elétrica interna das centrais e a ligação à EDP numa empreitada de 8 milhões de euros e em que tínhamos a Siemens como aliada”, explicou.
Questionada sobre o impacto local, a responsável da Painhas adiantou que “estes projetos são muito importantes para dinamizar a economia destas zonas” e, acrescentou, que “o próprio cliente [Iberdrola] exige e valoriza que, sempre que possível, integremos mão de obra local”.
Atualmente, a Painhas está a desenvolver a construção de uma rede em parceria com a REN no valor de 2,5 milhões de euros e está a preparar propostas “para trabalhos que poderão chegar a alguns milhões [de euros]”.
Impacto ambiental
Dada a magnitude da obra, esperam-se alguns impactos ambientais na região. Por esta razão, a Iberdrola implementou algumas medidas de compensação socioeconómicas e patrimoniais. No âmbito desta última, vão ser investidos 50 milhões de euros em sete câmaras municipais para desenvolverem projetos locais. No caso do património, serão alocados 1,84 milhões de euros no Complexo Mineiro Romano de Tresminas e plantados 1,5 vezes mais sobreiros do que aqueles que foram destruídos com a obra, explicou o chefe de engenharia elétrica do projeto, José María Otero.