Entrevista/ “Muitos projetos fracassam porque as pessoas desistem demasiado cedo”

“Muitos projetos fracassam porque as pessoas desistem demasiado cedo, não fazem tudo o que é preciso. É falta de disciplina para se manterem no caminho”. A afirmação é de Susana Torres, coach de alta performance, que no próximo dia 19 vai levar cerca de 6 mil pessoas ao Altice Arena para um evento motivacional, dirigido “a todos os que querem obter sucesso acima da média”.

Especializada em coach de treino mental, com foco no desenvolvimento de programas de coaching desportivo e coaching direcionado para empresas, Susana Torres viu o seu nome saltar para a ribalta por ocasião da conquista do Campeonato Europeu de Futebol, em 2016, altura em que era coach de Éder, jogador da Seleção Portuguesa de Futebol.

Desde então o seu percurso consolidou-se quer na área do desporto quer empresarial, e prepara-se agora para realizar o seu primeiro evento de Alta Performance, no Altice Arena, em Lisboa, no próximo sábado, dia 19 de fevereiro.

Em entrevista ao Link To Leaders, Susana Torres explica a importância de saber motivar equipas, do desenvolvimento de competências, da automotivação, da inteligência emocional, da disciplina ou da definição de estratégias para alcançar objetivos.

Quais as expetativas para o “Viver em Alta Performance”?
As pessoas vão saber como ter resultados acima da média de forma consistente e a longo prazo e elevar assim as suas vidas para o próximo nível. Será um evento muito dinâmico, com oradores de topo e exemplos de pessoas que alcançaram através da Alta Performance patamares diferenciados nas suas áreas de atuação. Neste dia, milhares de pessoas sentir-se-ão inspiradas a fazer as mudanças necessárias e adotar o comportamento certo para alcançarem os resultados que mais desejam.

O que podemos esperar da intervenção da Susana Torres no evento?
Em tudo o que faço dou 200%, procuro sempre entregar mais valor do que é esperado e surpreender quem está a trabalhar comigo. No dia 19, no Altice, o evento foi desenhado ao detalhe, com objetivo de criar impacto no público, não só presencial como no online. Entre muitos conteúdos, vou facultar o processo que permitirá a transformação de muitas vidas, rumo a uma vida com mais propósito e resultados extraordinários.

“O líder deve estar atento às necessidades da sua equipa e deve proporcionar os recursos para o máximo desempenho da sua equipa”.

O teletrabalho veio obrigar os líderes a repensarem a sua forma de liderar as equipas e de as manter motivadas. Quais os desafios que os líderes enfrentam hoje em dia?
O teletrabalho trouxe desafios e oportunidades. Requereu o reforço das competências do digital e permitiu outra flexibilidade no equilíbrio entre vida profissional versus vida pessoal. O principal desafio foi a adaptação da comunicação ao novo contexto. É fundamental transmitir confiança, comunicar regularmente e manter todos os colaboradores conectados com o propósito da equipa. O que os une? O que é esperado da equipa? Só teremos uma equipa motivada se estiver conectada.

O líder deve estar atento às necessidades da sua equipa e deve proporcionar os recursos para o máximo desempenho da sua equipa. Equipas motivadas precisam de: domínio das competências para fazer o que é solicitado; autonomia para fazer da melhor forma possível; e sentido de propósito, o sentimento de que o trabalho desempenhado é importante para um objetivo maior; e feedback constante e bem entregue.

Quais as competências de liderança que o coaching dos dias de hoje ajuda a desenvolver?
O coaching desafia-te a construir a tua melhor versão. Um líder de alta performance diferencia-se pela mentalidade e pela forma como encara os desafios. Perante um contexto em constante mudança e uma realidade complexa, o líder cria confiança para testar novas ideias e procura parcerias estratégicas, para encontrar soluções criativas.

As empresas que mais facilmente se adaptam à mudança empoderam os seus colaboradores, dotam-nos de competências e criam um ambiente favorável para que haja liberdade criativa e diversidade de perspetivas. Um líder precisa de pensar como trabalhar a melhor versão de cada colaborador e como mantê-lo motivado.

A principal competência diria que é a comunicação, é através da comunicação que o líder se conecta com a sua equipa, motiva e agrega vontades. Para além desta, é fundamental desenvolver a inteligência emocional e a empatia. O líder aprende, através do coaching de Alta Performance, a desenvolver competências nos seus liderados e a orientá-los na direção dos resultados.

“Muitos projetos fracassam porque as pessoas desistem demasiado cedo, não fazem tudo o que é preciso”.

Os empreendedores e empresários portugueses precisam de ser motivados?
Claro sim, é fundamental desenvolver o mindset certo. A motivação faz sempre parte da fase inicial de um projeto, porém há medida que avançamos vamos sempre encontrar imprevistos…. e é aí que é preciso trabalhar a auto motivação, a disciplina e resiliência. Muitos projetos fracassam porque as pessoas desistem demasiado cedo, não fazem tudo o que é preciso. É falta de disciplina para se manterem no caminho. Num contexto complexo, em constante mudança, é necessário desenvolver soluções criativas que acrescentem valor, ganhando especial relevância o recurso a parcerias estratégicas, joint ventures e ao associativismo.

A motivação é importante, mas ela só se torna necessária se as pessoas não estiverem altamente comprometidas com os processos e respetivos resultados. Pois como sabemos, a motivação não dura sempre e é precisamente por isso que, em Alta Performance, desenvolvemos competências intrínsecas para que as pessoas consigam ser automotivadas e não dependam de terceiros para alcançar este estado de ignição.

Como é que com uma carreira estável na banca, dedicou-se à sua paixão de influenciar pessoas a transformarem as suas vidas?
Estava no topo da minha carreira, era subdiretora na banca, economicamente tinha uma vida confortável, mas alimentava o desejo de criar uma vida com maior realização e poder transformar vidas, levando as pessoas a desenvolver o seu máximo potencial e a construir a sua melhor versão. Um dia, cheguei a casa e disse ao Paulo que queria ser coach, nessa altura já tinha os meus três filhos …. Com o apoio do Paulo, saí da banca e investi todas as nossas poupanças em formação, para desenvolver novas competências junto dos melhores do mundo. Viajei muito, desenvolvi-me e adquiri todas as competências que naquela altura considerei necessárias para me tornar na pessoa que sou hoje.

Posso dizer que continuo a sonhar, mas o impacto que gerei em tantas vidas ultrapassou largamente aquilo que algum dia sonhei.

“Tanto no desporto como nas empresas, trabalhamos a construção da equipa, o discurso motivacional, o desenvolvimento da confiança (…)”.

É mais desafiante desenvolver programas de coaching para a área do desporto ou para a área empresarial?
Tanto no desporto como nas empresas, trabalhamos a construção da equipa, o discurso motivacional, o desenvolvimento da confiança, as estratégias para alcançar objetivos e a conquista de resultados. Porém, existem diferentes timings. No futebol, os campeonatos permitem treinar uma semana, ir a jogo, analisar os resultados e afinar a estratégia. No mundo empresarial, vamos a jogo todos os dias, pelo que é crucial cultivar um mindset de auto motivação diariamente, que permita ultrapassar os desafios e ajustar a estratégia on going.

Por outro lado, a exposição no mundo do desporto é muito desafiante e os atletas lidam com uma pressão externa gigantesca. São trabalhos diferentes, mas ambos são incríveis.

O que mais a atrai no método que Brendon Burchard utiliza com atletas da NBA e NFL, bem como personalidades como a Oprah Winfrey e Barack Obama?
A metodologia simples e prática, que gera resultados em 100% das pessoas que a aplicam.

“O Sérgio Conceição foi o treinador que gerou maior desafio, pela sua exigência, ambição e disciplina. O Éder foi o jogador que gerou o maior desafio(…)”.

A Susana acompanha vários futebolistas e treinadores nas principais ligas europeias e no seu currículo conta já com grandes resultados no seu trabalho com equipas de primeira liga. Qual foi o futebolista ou treinador que mais desafios lhe trouxe?
O Sérgio Conceição foi o treinador que gerou maior desafio, pela sua exigência, ambição e disciplina. O Éder foi o jogador que gerou o maior desafio, pois quando aceitei trabalhar com ele ninguém acreditava que os objetivos pudessem ser alcançados. Na verdade, nem o próprio. Senti-me muitas vezes a única que achava isso possível.

E o empresário?
Um empresário que me disse que as suas pessoas eram todas incompetentes e só queriam saber do ordenado no final do mês. Pediu-me que as motivasse…. Eu respondi: Para que quer pessoas incompetentes altamente motivadas? Não chegou a ser um desafio porque no final optei por não efetuar o trabalho.

Quais as áreas empresariais que mais solicitam a sua colaboração?
São os CEO e os departamentos de RH, com o intuito de trabalhar a liderança e a performance das equipas.

Tecnologia e humanização. Na sua ótica qual a receita ideal para combinar estas duas vertentes no seio de uma organização?
A tecnologia apresentou um sem fim de oportunidades, permite quebrar a barreira do espaço e chegar a um público mais abrangente. Porém, a tecnologia é só um canal através do qual é comunicada a mensagem. É preciso trabalhar a conexão, os valores, perceber o que motiva as pessoas.
O que conecta os colaboradores à empresa é saber porque a empresa faz o que faz, a convergência entre os valores individuais e da organização. Equipas com maior compromisso e envolvimento são equipas mais felizes e com maior produtividade.

Tal como em todos os desafios, gosto de propor que olhemos para eles sob uma ótica de integração, questionando por exemplo: Como podemos ter ambas as coisas?; Como uma coisa pode beneficiar a outra?; Como tirar partido desta combinação?.

Qual foi o melhor conselho que recebeu e o que deu?
O que recebi: Se tens algo que pode transformar a vida das pessoas, tens OBRIGAÇÃO de disponibilizar isso no mercado.

O que dei: As pessoas só se arrependem daquilo que não fazem. Não deixes de fazer, seja aquilo que for, por achares que não és essa pessoa, que não sabes como e não tens os recursos necessários. Se não é essa pessoa, torna-te! Se não sabes, aprende! Se não tens os recursos, cria ou usa os recursos de outras pessoas!

O que gostaria de fazer e ainda não teve oportunidade?
Sou uma pessoa de resultados e de implementação, sempre que tenho uma ideia, registo-a, analiso o seu impacto e se for para avançar, desenvolvo a estratégia, rodeio-me das pessoas certas e só descanso quando alcanço. Estou prestes a realizar o maior evento de Alta Performance da Europa, um marco incrível nesta área e o concretizar de um sonho.

Muito em breve, vou arrancar com o projeto Academia de coaches de Alta Performance, onde serão formados 76 coaches, seguindo a metodologia que desenvolvi e que já testei, o que me vai permitir alavancar o coaching de Alta Performance e levá-lo além-fronteiras, uma vez que o faremos em três idiomas.
Não tenho nada em mente que não tenha feito por falta de oportunidade, eu crio as oportunidades.

Respostas rápidas:
O maior risco: Fazer o evento no Altice Arena para mais de 10 mil pessoas no meio de uma pandemia.
A maior lição: O momento em que alguém trocou a sua vida pela minha num tiroteio em África. A vida é uma grande oportunidade!
A maior conquista: A pessoa em quem me tornei (e ainda em construção).