Entrevista/ “O conjunto dos setores onde se inserem os 10 clusters geram 30 mil milhões de euros de exportações”

Nuno Mangas, presidente do IAPMEI

O Ministério da Economia e 10 clusters nacionais de competitividade, reconhecidos pelo IAPMEI, assinaram recentemente um conjunto de Pactos Setoriais para a Competitividade e Internacionalização. Nuno Mangas, presidente do IAPMEI explicou ao Link To Leaders o objetivo da iniciativa e de que forma esta irá contribuir para a dinamização empresarial nacional.

Depois de nos meses de março e abril deste ano terem sido celebrados os primeiros pactos setoriais com seis clusters de competitividade, no dia 11 deste mês, o Governo formalizou a assinatura de mais 10 pactos com novos clusters. Reforçar os níveis de competitividade e internacionalização das empresas é um dos muitos objetivos deste projeto, explicado ao Link To Leaders pelo presidente do IAPMEI, uma das entidades envolvidas na iniciativa.

Qual o impacto esperado dos novos Pactos Setoriais para a Competitividade e Internacionalização nos setores de atividade visados e na economia nacional?
Esta iniciativa assenta numa estratégia e missão comuns associadas às dinâmicas de trabalho em rede e ações colaborativas orientadas para níveis crescentes de competitividade empresarial. A concretização destes Pactos Setoriais trará impactos positivos na internacionalização dos associados dos clusters e, pelo efeito de arrastamento, nas empresas dos setores que estes clusters representam na economia nacional. Estamos perante um conjunto de entidades e setores que representam dinâmicas diferenciadas, muito competitivas e de elevado valor para a economia portuguesa.

Tendo em conta que os Pactos Setoriais têm como objetivo a implementação de um conjunto  de medidas e ações setoriais, que vão desde a economia circular a uma eficaz transição energética e ecológica e, ainda, a melhoria da envolvente regulamentar e legal das empresas, constituem-se como instrumentos que visam incrementar os níveis de competitividade, de inovação e internacionalização das empresas portugueses e por inerência, toda a economia nacional sairá beneficiada.

Os impactos esperados estão centrados nos desafios que hoje se colocam às empresas, sejam de natureza económica, social, ambiental ou tecnológica, exigindo dos vários intervenientes uma elevada capacidade de adaptação que importa antecipar e preparar, como forma de contribuir para os níveis de competitividade e internacionalização das empresas.

Porquê estes clusters e estes setores de atividade? São os que têm mais peso na economia nacional, os que têm maior potencial de crescimento?
Em 2017, na sequência de um processo que decorreu sob a responsabilidade do IAPMEI, o Ministério da Economia reconheceu um conjunto de clusters de vários setores. Em março e abril deste ano foram celebrados os primeiros pactos setoriais com seis clusters de competitividade reconhecidos[1], tendo sido agora possível formalizar a assinatura de mais dez pactos setoriais com os clusters[2]. Com a formalização destes Pactos, preparados e desenhados em estreita articulação com os clusters, passamos a dispor de instrumentos relevantes para o alinhamento de estratégias e objetivos, mas também para impulsionar os resultados esperados.

“As medidas, trabalhadas com cada um dos clusters, corporizam ações conjuntas orientadas para seis áreas chave (…)”

Em termos práticos, de que forma se vai materializar o apoio a estes clusters? Que tipo de iniciativas estão previstas?
Estes Pactos corporizam todo um conjunto de medidas e ações a desenvolver, contribuindo também para a mobilização dos atores relevantes de interesse para essas dinâmicas, seja de natureza pública, seja privada.
O estabelecimento destes acordos/compromissos mútuos entre o Governo e os clusters engloba também outras entidades privadas e públicas relevantes para os setores, com vista à implementação de políticas que beneficiem o desenvolvimento e internacionalização das empresas e, consequentemente contribuam para o crescimento da economia nacional.

As medidas, trabalhadas com cada um dos clusters, corporizam ações conjuntas orientadas para seis áreas chave, designadamente, formação e retenção e atração de talento, aumento do valor acrescentado dos produtos e promoção da economia circular, inovação e I&D, promoção da internacionalização e atração de investimento estrangeiro, dinamização do ecossistema de start-ups nacionais e o acesso ao financiamento.

Os apoios públicos a utilizar, dentro dos mecanismos disponíveis no atual Quadro Comunitário, podem ser no âmbito de apoios a ações coletivas, capacitação individual ou de atuação em rede, como, por exemplo, nas áreas da Qualificação, Internacionalização, Transferência do Conhecimento e Programas Mobilizadores.
O StartUP Visa, o Tech Visa, o Fundo Valor 2, os programas relacionados com a melhoria da oferta formativa e, ainda, o conjunto de instrumentos de apoio a nível europeu no âmbito do Horizonte 2020 e COSME, são outros instrumentos a considerar para apoio às várias iniciativas previstas.

“(…) o conjunto dos setores onde se inserem os 10 clusters que celebraram pactos setoriais no passado dia 11 de setembro, geram 30 mil milhões de euros de exportações e são responsáveis por mais de meio milhão de postos de trabalho”.

O que prevê que estes clusters possam fazer pelas exportações nacionais e pela criação de emprego?
Os pactos setoriais têm inscrito um eixo específico vocacionado para a internacionalização e outro para a valorização do capital humano. Nestes eixos estão previstas medidas e ações que visam, por um lado, incentivar níveis crescentes de internacionalização e, por outro, contribuir para dotar os vários setores de atividade com profissionais que convirjam com as necessidades das empresas, incluindo ao nível das competências.

A este título importa referir que o conjunto dos setores onde se inserem os 10 clusters que celebraram pactos setoriais no passado dia 11 de setembro, geram 30 mil milhões de euros de exportações e são responsáveis por mais de meio milhão de postos de trabalho. São valores expressivos e de grande relevância, que importa incrementar, sendo que a expetativa é que estes pactos setoriais para a competitividade e internacionalização possam ter um forte contributo.

Aliás, o reforço da competitividade da economia portuguesa deve assentar na inserção e ascensão das empresas em cadeias de valor internacionais e os clusters podem constituir-se como os grandes dinamizadores da estratégia de fomento de medidas e ações que permitam alavancar a presença do tecido empresarial nacional noutras geografias estratégicas, nas quais haja o reconhecimento das características inovadoras, de flexibilidade e eficiência das empresas dos setores que os clusters representam.

“O reconhecimento dos clusters de competitividade em 2017 veio reafirmar o papel central que estas estruturas devem assumir na política industrial e na economia nacional (…)”

Podem ser mais um fator de atratividade no domínio externo e até de I&D?
Importa, de facto, consolidar os fatores de atratividade externa e melhorar as condições para o investimento, tanto nacional como estrangeiro, de modo a garantir a captação de projetos estruturantes para Portugal, estimulando, nomeadamente, a aposta em investigação e desenvolvimento tecnológico.

O reconhecimento dos clusters de competitividade em 2017 veio reafirmar o papel central que estas estruturas devem assumir na política industrial e na economia nacional, pelo que considero que podem ser instrumentais para conduzir as mudanças necessárias para melhorar vários aspetos da envolvente empresarial, através das dinâmicas colaborativas que preconizam e, assim, melhorar a atratividade do país, por exemplo, com medidas de adaptação regulamentar e de redução de custos de contexto.

Contribuir para a transição energética e ecológica, reduzir as emissões poluentes na indústria, incentivar o desenvolvimento de uma economia circular nos processos produtivos e manter a aposta na investigação e desenvolvimento, são igualmente preocupações para as quais a grande maioria dos clusters apontou iniciativas a desenvolver de forma concertada.

(…) a escassez de recursos humanos qualificados é uma condicionante critica ao desenvolvimento e modernização das empresas (…)”.

Que balanço faz dos acordos assinados em março e abril deste ano? Estão a alcançar os resultados previstos?
Como referi, os pactos setoriais definem um conjunto de medidas e ações estratégicas, sendo que algumas, comuns aos vários clusters, se consideram como prioritárias. Destaco, neste particular, as medidas respeitantes à capacitação dos recursos humanos e à captação e retenção de recursos humanos qualificados, que já começámos a trabalhar com as entidades competentes nestas áreas, visando o desenvolvimento de respostas adequadas às necessidades que os clusters identificaram.

Esta matéria reveste-se de particular relevância uma vez que a escassez de recursos humanos qualificados é uma condicionante critica ao desenvolvimento e modernização das empresas, considerando, por exemplo, o processo de digitalização em curso.

Apesar do curto espaço de tempo desde a assinatura dos primeiros pactos setoriais, traduzido em cerca de quatro meses, faço um balanço positivo, desde logo pela reflexão que todos nós, entidades públicas e privadas, tivemos que efetuar para dar corpo a um conjunto de iniciativas e projetos de trabalho que venham a corresponder às prioridades estratégicas dos clusters.

Que outras iniciativas tem o IAPMEI previstas que visem apoiar a competitividade e internacionalização das empresas nos próximos anos?
Destaco apenas algumas. Na área dos sistemas de incentivos do PT 2020, o apoio à inovação produtiva, à qualificação empresarial e ao I&D. Na área da capacitação empresarial, através das ações desenvolvidas pela nossa Academia PME. Na área o financiamento às empresas, no apoio ao desenvolvimento de instrumentos de crédito e capital. Na assistência empresarial, através da nossa rede de proximidade presente no território. Ao nível do empreendedorismo, os programas StartUp Voucher,  StartUp Visa ou TeCH Visa.

Quais são, neste momento, as áreas prioritárias de trabalho do IAPMEI?
Enquanto agência de apoio para a competitividade e inovação empresarial, assentamos as nossas prioridades em quatro vetores chave: primeiro, estimular o empreendedorismo qualificado e inovador, intervindo para a promoção do empreendedorismo inovador e suportado em conhecimento, dinamização do ecossistema e apoio a projetos nas suas diversas fases desde a conceção à aproximação ao mercado. Segundo, aumentar e consolidar a dimensão crítica das empresas nacionais, desenvolvendo iniciativas orientadas para o investimento, para o financiamento e para as estratégias de eficiência coletiva. Terceiro, capacitar as empresas, os seus RH e as suas lideranças, promovendo o reforço de competências, em temas relevantes e emergentes para a inovação e para a competitividade empresarial. E quarto, atuar em proximidade e reduzir custos de contexto, contribuindo para melhorar o desempenho competitivo das empresas.

 

Notas:
[1] Cluster Automóvel; Health Cluster Portugal; Portuguese Agrofood Cluster; Cluster AEC – Arquitetura, Engenharia e Construção; Produtech – Cluster das Tecnologias de Produção; Engineering and Tooling Cluster.

[2] AED Cluster Portugal; Cluster da Plataforma Ferroviária Portuguesa; Cluster da Petroquímica, Química Industrial e Refinação; Cluster do Calçado e Moda; Cluster do Mar Português; Cluster dos Recursos Minerais de Portugal; Cluster Habitat Sustentável; Cluster das Smart Cities Portugal; Cluster Têxtil: Tecnologia e Moda; Cluster TICE.PT.

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