Quando a moda se torna inclusiva e adaptada a portadores de deficiência

São muitas as marcas de roupa nas prateleiras das lojas, mas poucas se dedicam em exclusivo à inclusão. Conheça duas marcas de moda inclusiva que falam português.

Estar numa cadeira de rodas ou ter próteses ou paralisias acarreta um conjunto de necessidades que nem sempre as linhas de roupa desenhadas para as massas conseguem dar resposta.

O Brasil, que tem 45,6 milhões de cidadãos com algum grau de deficiência – o que representa erca de 24% da população total do país – , segundo o o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, está a ver nascer algumas marcas de roupas pensadas para pessoas com algum grau de deficiência.

Daniela Auler, mentora do Concurso Internacional de Moda Inclusiva, referiu ao Folha de São Paulo que “para as pessoas com deficiência, usar peças como calças de ganga é muito trabalhoso devido ao corte justo, ao tecido e ao tipo de abertura. Acaba virando um novo nicho para o mercado, porque é preciso ir buscar materiais tecnológicos”.

A Equal, marca liderada por Silvana Louro, de 56 anos, produz peças adaptas e comuns, vendendo-as exclusivamente online.

Depois de 30 anos dedicada à industria da moda, Silvana estava prestes a mudar de profissão quando, em 2013, começou a trabalhar com atletas paralímpicos com o objetivo de desenvolver o uniforme que a delegação fluminense iria usar nos Jogos Paralímpicos Escolares desse ano.

Foi aí que percebeu que as pessoas que se deslocavam em cadeiras de rodas sentiam dificuldades com as linhas de roupa convencionais, nomeadamente com as mangas, que lhes eram muito justas, e que as peças adaptadas que existiam não iam de encontro aos estilos, padrões e cortes da moda mais recente.

A estilista, que contou apenas com recursos próprios, conseguiu lançar a marca em julho de 2015. Começou por criar calças e saias de corte curvo para os que passam o tempo sentados, mas rapidamente alargou a oferta a crianças e portadores de Síndrome de Down.

Outra marca de moda inclusiva é a Lado B. Fundada por Dariene Rodrigues, uma fisioterapeuta de 39 anos, em 2013, especializou-se em calças e bermudas adaptadas. Como referiu, “desenvolvemos tudo de acordo com o que os nossos clientes precisam depois de analisarmos a parte tecnológica, quais os tecidos a usar, os aviamentos, se o fecho será com velcro, zíper ou botão”.

A marca comercializa em média 50 peças por mês via online e num espaço físico, numa clínica médica, no Brasil. Segundo a fundadora da Lado B, a expansão do negócio ainda não aconteceu por dificuldades em chegar ao seu público-alvo, que não tem conhecimento da marca e não está habituado a ter à sua disposição peças feitas por medida e, em certos casos, dependem de terceiros para a aquisição das suas roupas.

A empreendedora afirma estar a estudar o seu público e a estruturar uma forma de facilitar a aquisição das peças.

As crianças são outro do segmento na mira das estilistas brasileiras. A Equal comercializa roupa infantil adaptada, com uma linha totalmente em estilo desportivo para jovens e crianças em cadeiras de rodas, com paralisia cerebral, que usem sondas.

Também Daniela Barreiro, de 44 anos, está a investir neste mercado e conta lançar em setembro a sua marca de roupa Iuni, desenhada para crianças com deficiência. Segundo a mesma, a ideia surgiu a partir de conversas com um grupo de mães empreendedoras que tinham alguns filhos portadores de deficiência e que lhe disseram que ou tinham posses financeiras para mandar vir a roupa dos filhos do estrangeiro ou tinham de adaptar as roupas convencionais em costureiras.

Em Portugal a moda inclusiva também já dá que falar. Em maio passado Viana do Castelo foi palco de um desfile de moda inclusivo, com mais de 70 modelos num desfile de moda que pretendia assinalar os 45 anos da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM).

Já o final de 2016 tinha ficado marcado pelo I Desfile de Moda Inclusiva da Associação Nacional dos Amputados (ANAMP), que teve como objetivo lançar um novo olhar e soluções que facilitem o quotidiano das pessoas com deficiência.

Leia também: “Vigga: a start-up que promete mudar a indústria da roupa de bebé“.

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