O conceito Metaverso tem estado, cada vez mais, na linha da frente das conversas do mundo digital, não só pelas apostas estratégicas de muitas empresas, de onde se destaca a empresa de Mark Zuckerberg que mudou o nome para ‘Meta’, mas também com o aparecimento de alguns casos de criação de primeiras lojas de relação com clientes e de transações digitais ou aquisição de terrenos digitais em cidades, etc.
Não é um conceito novo, se nos recordarmos por exemplo do que há uns anos foi o epifenómeno SecondLife, nascido há quase 20 anos e que por aí ainda anda. A principal diferença da nova geração Metaverso é que a atual maturidade tecnológica já cria mundos muito mais realisticamente imersivos, aproximando muito mais as sensações humanas ao mundo digital.
Mas a tecnologia não é tudo, razão pela qual a aplicabilidade do conceito cria ainda muitas dúvidas. Um dos casos de uso mais falados para o Metaverso é o da possibilidade de aprendizagem com aulas imersivas, tendo-se por exemplo aulas de História estando ao lado de Júlio César a ver as suas conquistas ou numa caravela com o Infante D. Henrique à descoberta de novos mundos.
Nesta fase há ainda mais perguntas que respostas. A questão base é: será que os mundos físicos e digitais se unem através deste conceito?
A realidade é que os primeiros passos estão a ser dados, colocando o mundo físico transportado para novas realidades virtuais de elevado potencial, onde as novas gerações, muito mais nativas digitalmente, estarão certamente ligadas de alguma forma.
Contudo é ainda no mundo físico que vivemos e comemos, razão pela qual não é fácil compreender como interligamos com um mundo 100% virtual. Estaremos nós a caminhar para um modelo como vimos no filme Matrix, onde os humanos passam a estar como que vegetais agarrados a uma cadeira e transportados na íntegra para o mundo virtual?
Em que medida é compreensível que estejamos nos últimos anos a criar modelos inclusivos de sociedade no mundo físico, aceitando cada um como é (baixo, alto, gordo, magro, hétero, homo, bi, etc.) e ao mesmo tempo o gordo cria um avatar magro, um hétero se torna homo, um baixo se torna alto. No mundo físico as pessoas não são mesmo o que gostavam de ser e veem no mundo virtual uma forma de se reverem? É o mundo virtual que lhes dá a autoestima e sensação de poder e controlo, por terem uma máscara irreconhecível?
Poderá uma empresa ser sustentável quando num mundo físico não tem resultados financeiros e no mundo virtual ser um sucesso enorme de negócio? Onde está a ligação?
Dar nota ainda de um outro tópico: no mundo digital tudo o que fazemos é registado. A produção de dados, de tudo o que fazemos e, cada vez mais, do que também pensamos é armazenado. Tal gestão integral dos nossos dados passa a estar fora da “nossa massa cinzenta” e a ser gerida por outras massas cinzentas (ou massas artificiais) que nos irão conhecer cada vez mais e melhor, influenciando-nos diretamente à distância de um piscar de olhos. Será que existirão regulações e leis imparciais, aptas a garantir o livre arbítrio?
Naturalmente que estes são alguns riscos, num mundo novo de oportunidades e de novas eficiências de tarefas pessoais e profissionais, capazes de criar relações, novas comunicações e novas transações. O Metaverso é ainda um bébé a dar os primeiros passos, e por isso um “bébé” ainda imaturo que terá ainda muitas quedas. Mas, é já um bébé com muitas atividades, muitas formas, muitos vidas paralelas que quando tiver a maturidade de andar e “chegar à universidade” pode de facto mudar todo o planeta Terra físico … e mental da população.
Muita poeira ainda está por assentar …