“Os europeus precisam de começar a pensar que não terão acesso a uma pensão – pelo menos como está definida hoje – e a nossa missão é fazer dos investimentos e planos de poupança uma extensão para resolver esta questão”. Esta é uma das metas a que se propõe a Trade Republic, fintech que chegou a Portugal em outubro de 2022. Em entrevista ao Link To Leaders, Kintxo Cortés, Country Manager em Portugal, falou dos seus planos para o mercado nacional, uma das maiores apostas da fintech na Europa.

Nascida na Alemanha, em 2015, a fintech Trade Republic chegou a Portugal há três meses com um objetivo claro: “revolucionar a forma como os portugueses investem e poupam o seu dinheiro. A tecnológica construiu uma oferta financeira do zero, com um produto fácil de usar para que todos possam começar a pôr o seu dinheiro a render.

Através da sua plataforma de investimento com comissões zero, a Trade Republic oferece investimento em ações, derivados, cripto, bem como planos de poupança fracionados. Atualmente, está presente num total de 17 países europeus e chega a 340 milhões de pessoas. Além de Portugal está a levar os seus serviços para países como Bélgica, Estónia, Finlândia, Grécia, Irlanda, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Eslováquia e Eslovénia.

Kintxo Cortés, Country Manager da Trade Republic em Portugal, explicou ao Link To Leaders as suas expetativas para o mercado nacional, falou da adesão dos portugueses às fintech e também da forma como a inovação tecnológica está a mudar o setor bancário.

Revolucionar o mundo do investimento e a forma como as pessoas investem e poupam o seu dinheiro parece ser o mote assumido pela Trade Republic. Como se propõem concretizar essa tarefa?
Há três coisas em que estamos focados na Trade Republic. A primeira é assegurar que todos têm a possibilidade de investir com as comissões mais baixas possíveis. As comissões são realmente a chave para qualquer pessoa que invista a longo prazo. Se somarmos o custo composto da negociação com um corretor dispendioso, com o passar do tempo, há muitas vantagens que são retiradas ao investidor. Queremos realmente que os nossos clientes compreendam o poder do investimento a longo prazo e, por conseguinte, os custos são uma parte essencial do mesmo. Trabalhamos para que a Trade Republic seja a melhor opção do mercado.

A segunda é garantir que o acesso a todo o tipo de ativos é fácil e transparente, para que todos o compreendam e vejam exatamente o que está a ser retirado e quanto estão a pagar. Se analisarmos quanto poupa mensalmente uma família portuguesa, apercebemo-nos que não podem estar a investir cinco ou 10 euros por ativo, porque têm um salário médio de 1050 euros. Vão gastar cerca de 10% do salário a investir em comissões e, até agora, muitos agentes do setor não têm sido muito claros com os clientes sobre como funcionam as transações. E queremos ter a certeza de que todos os nossos clientes estão realmente a par de quanto pagam por tudo.

Por fim, estamos cá para garantir que todos na Europa têm a oportunidade de poupar facilmente porque pensamos que isso será essencial para todos os europeus e para todos os portugueses. Queremos ser a plataforma em que poupar se torna fácil e sem complicações. É por isso que temos uma experiência de utilizador (UX) tão simples, com um aspeto atrativo e acessível. E isso é algo que define o produto e os serviços que temos no mercado, algo fácil, rápido, ágil e simples. Queremos simplificar ao máximo o processo de investimento – removendo todas as barreiras para que as pessoas comecem a investir.

“Lançámos a plataforma em outubro e o mercado português já está no Top 3 dos países em que começámos a operar (…)”.

Chegaram ao mercado português em outubro. Como está a correr a aceitação à vossa proposta?
Estamos realmente satisfeitos com o lançamento em Portugal. Lançámos a plataforma em outubro e o mercado português já está no Top 3 dos países em que começámos a operar nesse mesmo momento, em termos de desempenho, número de clientes e na qualidade desses mesmos clientes. Por isso, estamos mesmo muito satisfeitos. Tem sido muitíssimo gratificante ver uma adesão inicial tão forte, diz muito sobre o quanto as pessoas valorizam a nossa proposta e significa que devemos continuar a investir no mercado tanto quanto possível.

Recentemente, anunciaram uma taxa de 2% nas contas de poupança. Como é que conseguem oferecer esta taxa de juro quando a banca tradicional anda na ordem dos 0%?
Sim. Como mencionei, a nossa missão é tornar a poupança e o investimento fáceis para todos e estamos realmente empenhados nisso. A oferta de uma taxa de juro de 2% é uma demonstração disso mesmo. Na Trade Republic, além de investir no mercado de capitais, oferecemos agora aos clientes uma taxa de juro de 2% sobre o seu saldo não investido, para que possam rentabilizar o seu dinheiro, mesmo antes de ser investido. E estamos a fazê-lo porque queremos mostrar ao mercado que estamos aqui para ajudar todos a poupar o máximo possível.

Por outro lado, os bancos estão a ficar com parte do que partilham com os clientes. Normalmente, essa é a razão pela qual o juro mais elevado é de 1,25% em Portugal. Estão a tomar parte das receitas que estão a gerar com os juros, e estão a partilhar apenas parte delas. Pelo contrário, estamos a partilhar tudo, essa é a diferença.

Posicionam-se como uma fintech que quer reformular a indústria bancária e tornar o investimento mais acessível e fácil para todos. Os portugueses já estão suficientemente familiarizados com as potencialidades das fintechs ou ainda demasiado “presos” à banca convencional?
Se olharmos para diferentes segmentos da população, vemos que as fintech estão a assumir o panorama português muito rapidamente e já existem empresas muitíssimo bem sucedidas a operar no país. Pode passar despercebido, mas os jovens valorizam muitas das características e funcionalidades que as fintechs estão hoje a oferecer com sucesso, como as baixas comissões, condições fáceis de entender, transparência, entre outros. Esta diversidade de players é muito positiva para todos, uma vez que eleva os padrões para toda a indústria, mas a mudança já está definitivamente a acontecer e está a ser muito rápida. Não tenho qualquer dúvida que Portugal também faz parte desta mudança.

Globalmente, o que é que está a marcar a inovação bancária e financeira nos dias de hoje?
Penso que todos os segmentos da banca, ou pelo menos os maiores, estão hoje a sofrer alterações. Na verdade, tudo está a ser alvo de inovação, hoje em dia. Penso que as corretoras têm marcado uma tendência realmente forte no setor bancário nos últimos três anos, mas há muitos outros como os cartões, o mobile banking e os empréstimos que estão a evoluir à velocidade da luz. Eu diria que tudo está a ser remodelado, reimaginado e repensado. E sinto que este momento está a ser impulsionado por algumas start-ups na Europa como a Trade Republic.

Uma das tendências que está hoje a marcar a inovação na banca e nos serviços financeiros é a crescente adoção de tecnologias digitais e móveis na banca. Isto inclui a utilização de aplicações móveis, plataformas de poupança e carteiras digitais. Esta mudança é impulsionada pela crescente procura de acessibilidade por parte dos clientes, bem como pela necessidade dos bancos e corretores de se manterem competitivos num mercado cada vez mais digital.

Há também um interesse crescente no investimento sustentável e de impacto, já que mais pessoas procuram alinhar os seus objetivos financeiros com os seus valores sociais e ambientais.

Outra tendência é a emergência de ativos digitais e de criptomoeda, que ainda se encontra nas suas fases iniciais. Está a ser utilizada para transações, armazenamento de valor e como alternativa à moeda tradicional. Também pode ser vista como uma forma de os investidores diversificarem as suas carteiras.

“(…) a tecnologia – juntamente com as mudanças de comportamento dos jovens – vai ter um papel fundamental nessa transformação”.

E para onde caminha o futuro da banca e das finanças e qual o peso que as tecnologias terão nesse mesmo futuro?
É difícil de prever, uma vez que a indústria está a ser reformulada por vários elementos. O que é certo é que a tecnologia – juntamente com as mudanças de comportamento dos jovens – vai ter um papel fundamental nessa transformação.

Na minha opinião, existem alguns ingredientes interessantes que já estão a ser utilizados para construir o futuro da banca, tais como protocolos de criptomoeda, open banking, pagamentos ou o ajustamento de produtos bancários a segmentos de clientes de nicho com necessidades especiais (tais como crianças, imigrantes, entre outros.). A banca tem evoluído muito nos últimos 25 anos, mas prevejo que os próximos cinco irão superá-los em termos de avanços. Muitas instituições terão de se adaptar a todas estas mudanças, sendo que muitas não conseguirão acompanhar e muito provavelmente terão de desaparecer.

Atualmente, a Trade Republic está presente em 17 países europeus, chegando a 340 milhões de pessoas. Até onde vão as vossas ambições?
Acreditamos fortemente que o fosso das pensões é um dos maiores desafios que a geração mais jovem terá de enfrentar durante os próximos anos e décadas – a par com as alterações climáticas. Assim, a nossa ambição é ajudar o maior número de pessoas possível a preparar-se para isso. Os europeus precisam de começar a pensar que não terão acesso a uma pensão – pelo menos como está definida hoje – e a nossa missão é fazer dos investimentos e planos de poupança uma extensão para resolver esta questão.

Quais os planos para Portugal e Espanha este ano? Mais apostas em Portugal ou em Espanha?
Portugal representa uma das nossas maiores apostas na Europa e o nosso objetivo é garantir que oferecemos o melhor produto do mercado e que ajudamos o maior número possível de pessoas a prepararem-se para um dos maiores problemas que a população europeia irá enfrentar – o fosso das pensões.

Este ano, queremos apostar no crescimento da nossa presença nos mercados espanhol e português; no aumento da sensibilização para a necessidade de começar a poupar e investir, independentemente da capacidade de poupança ou idade de cada um; e em ajudar o maior número de pessoas possível a ter níveis básicos de literacia financeira.

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