Opinião
Médico 4.0 e a importância da gestão médica
Na conjuntura atual da sociedade em que uma nova revolução industrial ocorre bem debaixo dos nossos olhos, onde vivenciamos ativamente a transformação na forma como comunicamos e interagimos através do desenvolvimento da internet e das redes sociais, é necessário que o médico e demais profissionais de saúde se capacitem em áreas historicamente menosprezadas nos seus estudos académicos: a gestão médica e empresarial.
As grandes universidades de vanguarda do meio médico como a Escola de Medicina da Harvard University, University of Michigan, Leeds University, Newcastle University e London Medical School já disponibilizam disciplinas de empreendedorismo médico nos seus currículos. Antes famosas pela excelência em medicina, são hoje consideradas celeiros de inovação, tecnologia e empreendedorismo médico.
Atualmente são mais de 15 programas académicos em escolas de medicina dos Estados Unidos que desenvolvem cursos de inovação, empreendedorismo, liderança, tecnologia, sistemas de saúde e negócios em medicina. Para citar apenas um exemplo, desde 2005 é possível entrar na Faculdade de Medicina de Harvard e obter um diploma duplo: M.D., MBA (Doutor em Medicina e Mestre em Administração de Negócios), através de uma parceria com a Harvard Business School.
A medicina está em constante transformação e estas instituições de ensino estão atentas à transformação global que vivemos. Tendo em conta a exigência da nova ordem mundial do mercado que transforma rapidamente o planeta, novos programas são desenvolvidos constantemente para responder às necessidades e às novas exigências académicas e profissionais do médico moderno, e dos profissionais de saúde.
Desta forma, os profissionais que ainda não estão preparados para essas mudanças estão a sofrer muito para se estabelecer financeiramente, emocionalmente e profissionalmente nas mais diversas especialidades médicas.
Hoje em dia, os pacientes estão mais bem informados sobre os seus direitos, mais exigentes por eficiência, qualidade de atendimento e respeito. A população exige médicos mais qualificados, seguros dos seus atos, que oferecem melhores tratamentos, terapêuticas mais modernas e atualização profissional daquele que o atende.
Um outro exemplo das mudanças tecnológicas que estamos a viver é a telemedicina. As consultas virtuais via Skype ou aplicações médicas já são uma realidade bem consolidada nos Estados Unidos. Conforto e conveniência para o paciente, rapidez, agilidade, segurança, menor custo efetivo total, ausência de limitação territorial para atendimento.
Podemos enumerar diversas outras vantagens da telemedicina e os jurássicos conservadores que rejeitam a tecnologia devem estar cientes de que o mundo está a mudar e se as novas legislações não se adaptarem às mudanças, mais obsoleto ficarão quando o assunto é atendimento médico (aqui está um bom recado ao Conselho Federal de Medicina e aos seus conselhos regionais que precisam de estar em constante evolução e transformação para permitir e incentivar a capacitação da classe médica).
Colegas, se for necessário deixar o romantismo de lado, foi-se o tempo em que o médico vestia a sua bata branca e atendia os seus pacientes sem se preocupar com prontuários eletrónicos, contas a vencer, fluxo de caixa, finanças, administração hospitalar, leis trabalhistas, erro médico, código de ética médica, tecnologia da informação, ah, e o tal de “Dr. Google”!
Hoje o médico não tem mais o glamour de antigamente e é alvo de gozo, sendo comparado a “sal”, barato e facilmente disponível. Acabou o respeito e o próprio médico engolido pela sua arrogância e prepotência deve assumir a mea culpa, entender que precisa de evoluir e se transformar!
Portanto, vivemos um tempo de mudanças e evolução, as razões supracitadas são apenas alguns exemplos que explicam o porquê que a procura de médicos e profissionais da saúde por programas de MBA para gestão médica aumentou 400% no último ano, bom sinal! Afinal, já dizia o naturalista Sir Charles Darwin:
“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”.