Opinião

Kondratiev, conheces a onda da Internet? E a da IA?

Rui Ribeiro, diretor-geral da IPTelecom

Há dias, numa rede alumni de alunos, após a partilha de uma primeira entrevista de Jeff Bezos de 1997, a reação de um dos alumni foi “Isso é que foi aproveitar a oportunidade na altura certa. Nem todos têm essa visão. Respect!”.

A discussão foi por aí, onde os mais velhos do grupo da rede alumni explicaram que na altura das “’.com’ tudo era possível”… algo que os alumni mais novos não compreenderam …

Com este contexto, procuro enquadrar a importância de entender a história do mercado empresarial (e não só), em particular a realidade do que são “séries longas”, de forma a se entender a realidade do presente e as expetativas de futuro, para não nos deixarmos levar facilmente, e sem uma análise crítica, do que são movimentos de comunicação, uma vez que em muitas situações “a história repete-se”. Até porque, de um modo geral, a humanidade evolui repetindo erros globais antigos, porque nos esquecemos do passado e com isso deixamo-nos levar por muitas emoções.

Várias teorias económicas debruçam-se sobre este tema. Destaco a teoria de Kondratiev, a qual explica que a partir da primeira revolução industrial se assiste a diversos ciclos económicos, de 45-60 anos, constituídos pelas seguintes fases: expansão, colapso, depressão e melhoria. A primeira onda de Kondratiev começou no final do século XVIII, impulsionada pela Revolução Industrial, e durou até o final do século XIX. A segunda onda começou no início do século XX, e foi impulsionada pela eletrificação e pela produção em massa. A terceira onda, que começou no final da década de 1940, foi impulsionada pela revolução da informação, que levou ao surgimento da televisão, dos computadores e da internet.

Mas tal como todas as teorias, vamos evoluindo e, idealmente, melhorando-as. Algumas que aprecio, evoluíram esta teoria de Kondratiev explicando que cada novo ciclo é mais curto que o anterior. Tal situação reflete a velocidade que temos sentido nos mercados e que traduz a pressão direta das inovações tecnológicas nestas últimas décadas.

Voltando ao Jeff Bezos, e analisando o que se passou de lá até aos nossos dias, o final dos anos 90 do século XX foi pleno de emoções. Vivia-se um período onde “Tudo ia para a Internet” ou “se o projeto tem qualquer coisa de Internet terá futuro”! Biliões de dólares eram investidos (o Euro ainda não tinha iniciado a sua circulação) por fundos, por empresas e indivíduos, em qualquer projeto que tivesse qualquer coisa a ver com Internet.

Mas o que aconteceu com a viragem do século XXI? O pedido de retorno efetivo, por parte dos diversos investidores, tendo em conta que houve fantásticos planos de negócios tendo por base as folhas Excel. Aí percebeu-se que muitos desses projetos não eram mais que ondas inócuas ou “balões cheios de ar” que facilmente rebentaram. Deu-se o fenómeno “Internet Boom”, ficando apenas poucas, mas consistentes empresas como a Google e a Amazon.

Mais recentemente, vivemos a onda das criptomoedas (para simplificar o conceito), resistindo apenas os principais projetos. Vivemos agora a onda da Inteligência Artificial. Neste momento, tudo o que mexe e tem as palavras mágicas “Inteligência Artificial” há um fenómeno de “descoberta de uma Coca-Cola no deserto”. Importa ter uma análise crítica sobre o que é apresentado, pois certamente muito do que existe sofrerá também de muitos defeitos e algumas virtudes. É fundamental aprender com a história e saber conhecer, estudar, aprofundar e testar para aferir o grau de maturidade e potencial do que é apresentado?

Neste novo ciclo económico da quinta revolução industrial, que irá provavelmente até 2035, depois do deslumbramento que estamos a assistir com o ChatGPT (ponto claro de viragem tecnológica e humana), assistiremos a várias desilusões de projetos que não mostraram a devida consistência ou modelo de negócio para, por fim, aparecerem as atuais e novas “Googles e Amazons” das próximas décadas. Demonstrar e conhecer consistência, honestidade e sentido efetivo de oportunidade em entender o mercado trará a diferenciação e a vantagem competitiva de futuro. Poderá ter vários erros, mas conhecendo o passado e os seus ciclos, saiba construir e identificar estes projetos, pois andam por aí vários projetos que “dão uma mão cheia de nada”!

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Rui Ribeiro

Rui Ribeiro

Atualmente é professor da Universidade Lusófona e consultor de Transformação Digital, tendo tido várias atividades profissionais, entre as quais Head of Consulting & Technology na Auren Portugal, diretor-geral da IPTelecom, diretor comercial da Infraestruturas de Portugal S.A., diretor de Sistemas de Informação na EP - Estradas de Portugal S.A. e Professional Services Manager da Sybase Inc. em Portugal. Na academia é diretor executivo da LISS – Lusofona Information Systems School, e docente da ULHT. Rui Ribeiro é doutorado em Gestão... Ler Mais..

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