Opinião

Investimentos em start-ups brasileiras voltam a crescer em meio a desafios globais

Daniela Meirelles, empreendedora e business advisor

O ecossistema de start-ups do Brasil continua a provar a sua resiliência e inovação, mesmo diante dos desafios globais. O terceiro trimestre de 2023 não foi exceção, com desenvolvimentos e marcos notáveis que mostram a vibração e o potencial do cenário de start-ups brasileiro.

Agosto foi o mês com maior volume de investimentos de venture capital em start-ups brasileiras em 2023. Segundo relatório divulgado pela plataforma Distrito, foram aportados US$ 327,2 milhões em 40 rondas de investimentos, contra US$ 261,2 milhões registados no primeiro mês do ano. Em julho, os aportes haviam somado apenas US$ 59,6 milhões. O volume total de aportes de start-ups brasileiras nos primeiros sete meses deste ano chega a US$ 841,6 milhões em 254 rondas de investimentos.

O estágio seed concentrou a maioria dos deals, representando 70% das rodadas realizadas durante o mês. Os setores que mais receberam capital foram fintechs (US$ 149,7 milhões), hrtechs (US$ 85 milhões) e indústria (US$ 45 milhões). Entre os destaques de captações, a Gympass levantou US$ 85 milhões numa ronda Série F. Maior distribuidora de combustíveis no Brasil, a Vibra anunciou um novo aporte financeiro, de R$ 10 milhões, na EZVolt, start-up que oferece infraestrutura de abastecimento de carros elétricos para pessoas físicas. O novo investimento foi realizado pelo “Vibra Ventures”, fundo de investimento da Vibra com foco em start-ups de energia, mobilidade, logística, fintechs e retalho. Os eletropostos, atualmente instalados em condomínios, supermercados e shoppings, vão-se espalhar pelos postos de gasolina da companhia, os tradicionais da bandeira Petrobras. A ideia é eletrificar primeiro 9 mil quilómetros de estradas no nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, até Brasília, onde se concentra a incipiente frota de carros elétricos de passeio do país.

A agtech iRancho recebeu um investimento de R$ 7,2 milhões do BB Ventures, fundo de CVC do Banco do Brasil administrado pela MSW Capital. Auxiliar pecuaristas na gestão dos negócios, como apoio ao controle de insumos e redução de custos, com foco em aumento de produtividade, é o objetivo da start-up. MyCareforce, plataforma de banco de talentos para profissionais de enfermagem, captou R$ 4 milhões da M4 Ventures e da Caixa Capital, valor que se soma aos R$ 6,3 milhões levantados em julho com Shilling, Portugal Ventures, Demium e investidores-anjo. A start-up, criada em 2021 em Portugal, usará o capital para iniciar a operação no mercado brasileiro. O foco é facilitar a contratação de profissionais da área por hospitais, clínicas, laboratórios e residenciais senior, principalmente para plantões.

A Prosper Tech Talents, edtech focada na formação de profissionais de tecnologia, anunciou nesta segunda-feira (4/9) a captação de um investimento de R$ 1,5 milhão. A ronda foi liderada pela Din4mo Ventures, 2.5 Ventures e Gran Capital e também reuniu investidores-anjo. O Fretadão, plataforma de gestão de transporte fretado para empresas, recebeu um aporte de R$ 50 milhões liderado pela EXT Capital, gestora criada a partir de um spin-off da DOMO Invest. Fundada em 2015, para fazer a gestão da mobilidade para as empresas e reduzir custo com transporte dos funcionários, a start-up encerrou o segundo semestre de 2023 com aproximadamente 25 mil pessoas utilizando seus serviços diariamente, contra cerca de 20 mil no final de 2022. A plataforma já está presente em 16 Estados brasileiros e possui a expetativa de que até ao final de 2023, o aluguer dos novos veículos seja responsável por 15% do crescimento na receita.

A Nomad recebeu um investimento de US$ 61 milhões liderada pela Tiger Global Management em ronda Série B, atingindo o valuation de R$ 1,8 bilhão. Atualmente, a fintech oferece a abertura de conta bancária nos Estados Unidos para brasileiros e possibilita a realização de investimentos internacionais, além de oferecer um cartão de débito que pode ser utilizado em mais de 180 países.

A Caliza, desenvolveu uma API para que bancos e fintechs ofereçam aos seus utilizadores finais – pessoas físicas e jurídicas brasileiras – a possibilidade de fazer investimentos ou transferências em dólar. A start-up levantou cerca de R$ 30 milhões (US$ 5,3 milhões) em 2021 e recentemente assinou contratos para captar mais US$ 1 milhão com novos investidores. O captable é um mix de gestoras globais e brasileiras, com a presença de Better Tomorrow Ventures, Abstract Ventures, Fontes by QED, Quona Capital, Valor Capital Group e investidores-anjo, como fundadores de Loft e Rappi.

A start-up 3D Biotechnology Solutions (3DBS) cria tecidos de pele, barreira intestinal e fígado para medicina regenerativa e testes da indústria, substituindo o uso de cobaias animais. Até ao momento, a 3DBS captou cerca de R$ 2 milhões a partir da linha de fomento PIPE, direcionado para pesquisa científica e tecnológica em micro, pequenas e médias empresas. A start-up iniciou as conversas com investidores institucionais para captar outros R$ 2 milhões, visando a internacionalização, aumento da infraestrutura laboratorial e da equipa para ampliar a produção dos tecidos mimetizados.

A greentech Earth Renewable Technologies (ERT) fabrica bioplástico feito de cana de açúcar, que se decompõe em 180 dias após o uso. O material pode dar origem a sacolas, garfos, copos, canudos e embalagens em geral, sendo uma excelente alternativa às sacolas de plástico que podem durar até 450 anos para se decompor. Em 2022, a ERT recebeu US$ 15 milhões de clientes XP Private, e este ano, a Positivo liderou uma rodada no valor de R$ 80 milhões. A greentech pretende dobrar a faturação deste ano em relação a 2022 e ter uma fábrica em Manaus (AM). A Raízs se tornou a primeira foodtech a atingir o breakeven. Após uma reorganização interna, no início deste ano, a empresa apostou nas vendas B2B, que já apresentam 60% de crescimento ao mês.

A ver o que nos reserva o último trimestre de 2023.

Fonte: Revista PGN, Distrito

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Daniela Meirelles

Daniela Meirelles

Daniela Meirelles é empreendedora, business advisor, mentora de start-ups e palestrante (Branding, Empreendedorismo e Liderança). Foi fundadora da DBRAND, consultora de branding, marketing e inovação; fundadora/CEO da Yuppy, start-up de media, marketing e eventos; mentora nos programas Startup Rio, Startup Weekend e Founder’s Institute; palestrante; e também atua na organização do II Chapter da Singularity University, no Rio de Janeiro. Tem 15 anos de experiência em marketing, branding e desenvolvimento de novos negócios. Desenvolveu inúmeros projetos para pequenas, médias e... Ler Mais..

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