Opinião

Internacionalizar para crescer

Alexandre Meireles, presidente da ANJE*

A internacionalização é um assunto recorrente no debate público, mas não deve ser encarada como um mero chavão do “economês”. Na verdade, o mercado doméstico português é estruturalmente exíguo, pelo que, quaisquer que sejam os níveis de procura interna, as empresas nacionais devem procurar comercializar os seus bens e serviços no exterior, internacionalizar os seus investimentos ou mesmo abrir escritórios, sucursais ou unidades de produção em mercados estratégicos.

O crescimento, quando não a sobrevivência, das nossas empresas depende muito da atitude global que revelarem. Contudo, a maioria das PME nacionais ainda não dispõe de competências para a internacionalização, sobretudo numa economia global extremamente volátil como a que resulta da crise pandémica.

Para operarem no mercado externo, as empresas devem possuir recursos organizacionais, humanos e financeiros adequados à estratégia de internacionalização que pretendem implementar. Depois, convém que as PME tenham capacidade inovadora e tecnológica. Importa ainda que disponham de know-how para avaliar os mercados, criar parcerias no exterior e obter financiamento. Fundamental é também que as empresas tenham quer capacidade de aquisição de matérias-primas, quer capacidade produtiva adequada às exigências dos mercados. Por fim, as empresas devem ser capazes de adaptar os seus canais de comunicação e venda aos clientes no exterior.

A questão da internacionalização tem motivado a discussão sobre quais os mercados estratégicos para as empresas portuguesas. Relativamente a isto, sou da opinião de que o mercado comunitário ainda é aquele que mais oportunidades oferece às empresas portuguesas, mercê da moeda única e da livre circulação de bens, serviços, pessoas e capitais. Importa, porém, não esquecer as potencialidades dos países emergentes, tendo em conta os recursos financeiros de que dispõem, as necessidades de desenvolvimento que ainda revelam e o crescente poder de compra das suas populações.

Dito isto, cabe a cada empresa avaliar que mercados externos melhor se adequam às suas competências para a internacionalização. Antes de mais, as PME devem inteirar-se da situação económica e política do país de destino das exportações. Depois, importa saber se os bens ou serviços das empresas têm procura nos países para onde se deseja exportar e se são competitivos face à concorrência. Por outro lado, é indispensável conhecer as condições legais de acesso ao mercado pretendido: regime geral de importação, regime de investimento estrangeiro e quadro fiscal do país. Convém ainda estudar as condições de distribuição dos bens ou de prestação dos serviços a exportar.

No caso de projetos inovadores ainda em desenvolvimento, a inserção em ecossistemas empreendedores internacionais constitui um importante passo para a entrada no mercado global. Isto significa que, do ponto de vista da internacionalização, as start-ups tecnológicas têm muito a ganhar se passarem por processos de incubação e aceleração em hubs internacionais, onde podem adquirir conhecimento, testar produtos/serviços, criar redes de contactos, estabelecer parcerias ou obter financiamento.

Em qualquer caso, a ligação às comunidades autóctones é fundamental para o sucesso da internacionalização. A proximidade aos clientes e a integração nos mercados quebra barreiras (fronteiriças, culturais, linguísticas, etc.) à atividade das empresas, concorrendo para o sucesso dos negócios. Por isso recomenda-se a criação de parcerias com players locais ou mesmo a abertura de filiais lideradas por gestores locais, com conhecimento do mercado e contactos estratégicos.

*Associação Nacional de Jovens Empresários

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Alexandre Meireles

Alexandre Meireles

Alexandre Meireles foi presidente da Direção Nacional da ANJE-Associação Nacional de Jovens Empresários até julho de 2024. Natural de Amarante, é licenciado em Engenharia Eletrotécnica, no ISEP, e tem o Curso Geral de Gestão da Porto Business School. A sua carreira profissional está ligada a diferentes setores de atividade, entre os quais restauração e saúde. No período de 2009 a 2011 foi energy division coordinator no grupo Mota-Engil, e depois dessa experiência abraçou a atividade empresarial. Alexandre Meireles é cofundador... Ler Mais..

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