Opinião
Inteligência Artificial não é ficção científica!

Na eterna luta entre homem e máquina, a ficção e Hollywood, em particular, fizeram-nos acreditar que a IA é composta por máquinas dotadas de uma inteligência superior, mais ou menos sanguinárias, que se não forem vencidas têm como objetivo geral a aniquilação de todos ou a subjugação da espécie humana!
Por seu lado, Sillicon Valley, e alguma da indústria das TI, apresenta uma versão muito diferente. Conta-nos que a IA é, afinal, composta por máquinas prestáveis, que tudo sabem e tudo nos dizem, e que mais ou menos vão resolver todos os nossos problemas.
Mas afinal, o que é IA?
Uma definição geral, e básica, para Inteligência Artificial seria a capacidade de qualquer dispositivo apreender o seu meio ambiente e de tomar ações para maximizar a sua hipótese de sucesso no desempenho da sua tarefa, interpretando e aprendendo com os dados que recolhe ou lhe são fornecidos. Ora, esta definição, muito mais tranquilizadora do que as anteriores, de certa forma desapaixonada, é na realidade o que podemos esperar da IA.
Não sendo este um tema novo, não deixa de ser paradoxal que grande parte dos algoritmos e técnicas usados pelos sistemas que hoje consideramos inteligentes tivessem sido desenvolvidos há décadas! A novidade não é tanto o aparecimento das técnicas, mas sim o aparecimento da capacidade de as utilizar!
Essa capacidade de disponibilizar agora ao mercado esta tecnologia é, na minha opinião, mais transformadora do que revolucionária. Não tendo muitas dúvidas da sua capacidade de transformação, vamos assistir nos próximos tempos a uma generalização do seu uso. E em múltiplas áreas: na saúde; no ambiente; na banca; na administração pública; na indústria passando pelas cidades; e até pelo mundo rural e floresta. Na verdade, vamos conhecer novos serviços e novos produtos que recorrem a IA, a redes neuronais profundas, a visão assistida por computador, etc., para realizar diversas tarefas, simples ou complexas, que hoje são asseguradas quase em exclusivo por nós, humanos
A automatização de tarefas dentro das organizações vai alterar as suas estruturas. Não sendo consensual que o número de pessoas que as organizações precisam tenda a diminuir (até ao momento temos assistido a um aumento das estruturas para lidar com o IA, e não o contrário), é consensual que as pessoas inseridas nessas estruturas terão de permanecer em constante aprendizagem.
Isto à medida que as suas funções tendem a tornar-se cada vez mais complexas. Dos tradicionais serviços de atendimento, que paulatinamente começam a incorporar máquinas como assistentes virtuais, e onde o diálogo é estabelecido entre homem e máquina diretamente; aos sistemas de análise de risco, que hoje de forma automática nos atribuem um teto de crédito ou estimam as nossas melhores possibilidades de investimento; passando para aos sistemas avançados de vigilância, que conseguem detetar incêndios e prever a sua evolução. Estamos a transformar a forma como vivemos e trabalhamos.
Enfim, um manancial de novas aplicações que nos deve encher de esperança, mas que necessariamente nos deve manter vigilantes para que esta “parceria” não se torne num filme de Hollywood. Ou seja, temos que ter e manter a prioridade nas pessoas, na ética e na necessidade absoluta de nos colocarmos no centro deste desenvolvimento. Assumindo-nos como os principais atores e beneficiários de um futuro que agora estamos a criar fora da ficção!
Acredito num futuro colaborativo homem + máquina.
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Emanuel Serrano é membro da Comissão Executiva da COMPTA, ocupando ainda diversos lugares de destaque dentro do mais antigo grupo tecnológico nacional. Na verdade, é presidente e administrador da Compta Business Solutions e administrador da Bee2Fire, uma empresa especializada na deteção antecipada de incêndios com recurso a AI (Inteligência Artificial).
Possui formação em Eletrónica e Telecomunicações, pelo Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, em Empreendedorismo e Gestão de Empresas, pelo Instituto Superior de Economia e Gestão – ISEG/IFEA, tendo ainda realizado o Programa Avançado de Gestão para Executivos (PAGE), na Universidade Católica de Lisboa. Detentor de uma carreira profissional sempre ligada ao setor das TI (Tecnologias de Informação), Emanuel Serrano desempenhou várias funções de gestão, tendo liderado inúmeros projetos de transformação digital em tantos outros setores de atividade que são hoje referências quer no mercado nacional, quer internacional. Tem sob a sua responsabilidade o disruptivo departamento de R&D do grupo COMPTA, equipa responsável pela criação e desenvolvimento da oferta de produtos próprios, assentes em tecnologias emergentes como IA ou IoT (Internet das Coisas), para os mais distintos setores: Smart Cities, Energia, Ambiente, Investigação Criminal ou Deteção de Incêndios.