Opinião
Inteligência Artificial na avaliação psicológica: empreendedores procuram-se

A inteligência artificial (IA) está a transformar a abordagem à saúde mental, criando oportunidades para inovação e empreendedorismo no setor.
Um estudo recente sobre o chatbot DEPRA destaca o potencial da IA na deteção precoce da depressão, uma condição que afeta aproximadamente 264 milhões de pessoas no mundo e que frequentemente passa despercebida devido a barreiras como estigma, custos e escassez de profissionais de saúde. Neste contexto, chatbots de conversação apresentam-se como soluções escaláveis, acessíveis e capazes de oferecer triagem inicial de forma anónima e eficaz.
A investigação realizada com DEPRA envolveu 50 participantes e utilizou questionários baseados em escalas clínicas reconhecidas, como IDS-SR e QIDS-SR. Os resultados revelaram que 32% dos participantes estavam saudáveis, enquanto 22% apresentavam sintomas muito severos de depressão. Esta capacidade de estratificação clínica, baseada em inteligência artificial, demonstra o valor da tecnologia na identificação precoce de perfis de risco, permitindo que intervenções médicas sejam mais ágeis e direcionadas. Em acréscimo, a taxa de satisfação com o chatbot atingiu 79%, sugerindo que os utilizadores se sentem confortáveis ao interagir com sistemas digitais em vez de consultas presenciais.
Do ponto de vista do empreendedorismo, estas descobertas evidenciam um mercado em expansão para soluções de IA na saúde mental. Aplicações de triagem automática podem ser integradas em plataformas de telemedicina, empresas de seguros de saúde e programas de bem-estar corporativo, reduzindo os custos associados à identificação e tratamento de transtornos mentais. A procura por soluções digitais de suporte psicológico está a crescer rapidamente, com estudos apontando que 70% dos utilizadores preferem plataformas móveis de saúde mental em detrimento de consultas presenciais. Ainda, o aumento do investimento em startups focadas em saúde digital tem impulsionado um mercado global avaliado em mais de 108 mil milhões de dólares, com projeções de crescimento contínuo de 19% ao ano.
A acessibilidade e escalabilidade destas soluções são fatores determinantes para a sua adoção global. DEPRA foi integrado no Facebook Messenger, permitindo um alcance massivo e simplificando a experiência do utilizador. Este modelo pode ser replicado em outras plataformas, como WhatsApp ou aplicações empresariais, tornando-se uma ferramenta complementar no diagnóstico precoce e na orientação para apoio clínico. No entanto, desafios regulatórios e questões éticas, como a privacidade dos dados e a transparência dos algoritmos, continuam a ser barreiras à adoção em larga escala, sendo necessário um enquadramento jurídico robusto para garantir a segurança e eficácia destas tecnologias.
O sucesso da IA na saúde mental dependerá da colaboração entre empresas tecnológicas, profissionais de saúde e entidades reguladoras para garantir que estas soluções sejam seguras, eficazes e integráveis nos sistemas de saúde existentes. Um maior investimento permitirá uma personalização ainda maior dos serviços, oferecendo recomendações individualizadas e melhorando a precisão dos diagnósticos, oportunidades para os empreendedores que as queiram colher.
Tiago Cunha Reis, Ph.D., é doutorado em Sistemas de Bioengenharia pelo programa MIT-Portugal, tendo desenvolvido o seu doutoramento no Hammond Lab (MIT, EUA). Com foco nas necessidades de translação médica, o então engenheiro é agora aluno de Medicina. Reconhecido por sua paixão pela humanização da tecnologia em saúde e por melhorar ferramentas de diagnóstico e prognóstico, Tiago Cunha Reis possui um amplo histórico de prémios, publicações e nomeações internacionais em sociedades científicas europeias. Fomentador de conhecimento aplicado, fundou uma start-up focada em sensores e inteligência artificial, a qual expandiu internacionalmente antes de ser adquirida no final de 2022.