Opinião
Inovação como farol, co-pilot e challenger do negócio

Num mundo empresarial cada vez mais complexo e incerto, é cada vez mais importante que a inovação surja como um farol e um co-piloto que ajuda a antecipar obstáculos e tendências, que cria opcionalidade e complementaridade, que desafia o negócio, e que permite que este esteja focado no curto prazo e em entregar os resultados, sem nunca perder a visão de longo prazo.
Muitas vezes existe uma tendência (talvez natural) de associar a inovação apenas a “fazer coisas novas” ou a questões tecnológicas. Sendo verdade que essa é, naturalmente, uma componente importante, ao dia de hoje a inovação desempenha (e deve desempenhar) um papel muito mais amplo, profundo e vital para as empresas, especialmente em contextos de incerteza e com necessidade de adaptação rápida. Não é apenas uma ferramenta, mas sim um mindset, uma abordagem que não olha apenas para o presente, mas projeta visões para o futuro. A capacidade de inovar não só permite que as empresas enfrentem os desafios imediatos, mas também desafia os dogmas estabelecidos e antecipa os obstáculos que estão à frente.
De acordo com um estudo da McKinsey, as empresas que incorporam a inovação enquanto prioridade e conseguem fazê-lo bem, conseguem gerar até 2.4 vezes mais retorno do que aquelas que não o fazem. Surpreendente? Nem por isso, quando pensamos no real papel da inovação. Nesse sentido, olho para a inovação de 3 perspetivas: enquanto farol, enquanto co-piloto e enquanto challenger.
Em primeiro lugar, a inovação deve funcionar como farol das empresas e do negócio. O papel do farol é orientar as embarcações, em particular durante momentos de tempestade ou nevoeiro – sempre que precisam de orientação, os marinheiros procuram o farol para “não perderem o Norte”. O papel da inovação não é muito diferente. É fácil para as empresas e em particular para os negócios ficarem presos numa mentalidade de curto prazo, concentrando-se apenas nos desafios imediatos e metas trimestrais. A prioridade é entregar o que temos que entregar e cumprir com os planos de negócios prometidos e exigidos pelas equipas de gestão e pelos acionistas. Isto por vezes leva a que possamos perder um pouco uma perspetiva de médio e longo prazo. Por outro lado, as equipas de inovação, ao não estarem (ou ao não deverem estar) presas no “dia-a-dia” e no curto prazo, ficam libertas para poder “sonhar” e para poderem investir tempo a entender para onde o mercado vai evoluir no médio/longo prazo, para onde a empresa pode e deve ir e acima de tudo para onde não deve ir.
Em segundo lugar, a inovação deve funcionar como co-piloto do negócio. Se pensarmos no que é o papel de um co-piloto, seja num avião, num rally ou em qualquer outra circunstância, percebemos que é exatamente isso que a inovação deve ser. Não só funciona como rede de segurança e numa lógica de “i got your back” e de complementaridade no curto prazo, mas tem também a responsabilidade de antecipar obstáculos futuros e ir providenciando ao piloto os melhores caminhos para lidar com esses desafios, não só oferecendo opcionalidade mas também permitindo assim que ele esteja totalmente concentrado no caminho e na condução. É também através da inovação que as empresas podem identificar tendências e obstáculos emergentes e preparar-se proativamente para esses mesmos desafios (por exemplo, testando diferentes soluções). Esta capacidade de antecipação – papel do co-piloto e da inovação – não só fortalece a resiliência das empresas, mas também as coloca na vanguarda do mercado, sempre mais prontas para liderar.
Em terceiro lugar, a inovação deve funcionar como um challenger das empresas. Muitas vezes as empresas e os seus negócios acabam por ficar algo estagnadas devido a dogmas estabelecidos, ou porque “sempre fizemos assim” ou porque a pressão de entrega é tão grande que acabam por não ter tempo de se questionarem a eles próprios. A inovação atua como um challenger desses dogmas, questionando o status quo e impulsionando a mudança. Gosto particularmente de uma frase atribuída a Henry Ford que sistematiza bem este ponto – “Se eu tivesse perguntado às pessoas o que elas queriam, elas teriam dito um cavalo mais rápido”.
Finalmente, e de alguma forma relacionado com todos os anteriores, a inovação surge como catalisador e impulsionadora de uma cultura mais aberta, mais criativa, mais dinâmica e mais preparada para reagir à mudança. Uma cultura de inovação não só atrai talento, mas também incentiva a colaboração e a troca de ideias. As empresas que cultivam uma cultura de inovação não só sobrevivem, mas prosperam, impulsionando o crescimento sustentável e diferenciando-se em mercados complexos.
Relembrando a frase de Charles Darwin, “não é a mais forte das espécies que sobrevive, nem a mais inteligente, mas sim aquela que é mais adaptável à mudança”. Para estarem capazes de rapidamente adaptar-se à mudança, todas as empresas precisam de um farol que lhes indique o caminho em tempos de incerteza, um co-piloto que lhes vá antecipando obstáculos e oferecendo opções para a sua resolução e um constante desafio às ideias pré-concebidas e ao status quo. E este é o principal papel da inovação.