Opinião
A vida por um fio…entre a incerteza e a possibilidade

E se, de repente, lhe fosse diagnosticada uma doença de gravidade avassaladora? O que faria a partir desse dia? Suponha que, por um desígnio cruel, a recuperação não pudesse ser assegurada. Nessa circunstância, conduziria a sua vida de um modo diferente?
E se, apesar de desfrutar de boa saúde física, a sua carreira carecesse de um verdadeiro sentido, sentir-se-ia igualmente à deriva, tal como alguém que perde a própria saúde?
No universo profissional, muitos colaboradores enfrentam pressões sufocantes que frequentemente aniquilam os sonhos, minando qualquer esperança de mudança. Vivem como sonâmbulos, um dia após o outro, sem espaço para “o luxo” de repensar o rumo da sua carreira.
Será esse o seu caso? Quando a saúde nos falta, somos obrigados a parar.
No entanto, e se pudesse escolher parar mesmo enquanto goza de saúde? Investir tempo em si mesmo, no futuro, nos projetos pessoais e profissionais. Agora! Pois apenas o agora é certo. O momento presente é inquestionável, enquanto o que o futuro reserva permanece uma incógnita. Entretanto, podemos, sim, moldar a nossa própria vida, direcionando a nossa trajetória profissional.
Mesmo quando a vida nos surpreende com golpes cruéis e a saúde fica comprometida, é possível adaptar-se, apreciar os momentos mais especiais e encontrar pequenos prazeres no quotidiano. Não é necessário resignarmo-nos à condição de doentes. À medida que os anos passam, a esperança de uma promoção ou a possibilidade de mudar de carreira pode começar a desvanecer-se, deixando-o cada vez mais enclausurado.
Mas será esse o único destino? Alguns argumentarão: “É a vida…”, “Não está fácil lá fora…”, “Se mudar de emprego, será o mesmo…” – são afirmações que, ao mesmo tempo, servem como escudo contra desilusões, mas não estarão elas a alimentar o conformismo e a sensação de impossibilidade?
Serão estes pensamentos verdadeiramente realistas? E, caso seja possível optar, qual a perspetiva que prefere adotar?
Imagine que alguém recebe um diagnóstico terminal. E se, diante dessa adversidade, essa pessoa decidisse não desistir, optando por procurar a alegria em cada momento e desfrutar o que a vida tem de melhor para oferecer? Será que adotar uma mentalidade mais construtiva faria dessa pessoa menos realista? Ou será que enfrentar uma situação extremamente adversa com uma perspetiva positiva simplesmente afetaria a realidade da pessoa?
Avaliar alguém que diz: “estou a ser realista e não utópico!” pode ser complexo. Habitualmente associamos ser realista a uma visão mais negativa. No entanto, ao definir o termo, podemos considerar alguém que possui uma atitude prática e que enfrenta a realidade, evitando que as abstrações ou fantasias influenciem o seu comportamento.
Mas como é possível ser realista e ainda assim construtivo? Através de um exemplo, vamos ver como é possível. Separemos os factos das probabilidades e do conceito de esperança/escolha.
Digamos que uma pessoa recebe a notícia: “Foi detetada uma doença grave e estima-se que tenha cerca de 3 meses de vida”.
Neste caso:
Facto: “O exame revela a presença de células malignas”.
Probabilidade: “Com base na experiência, a expetativa média é de 3 meses”.
Esperança/Escolha: “Estão sempre a descobrir novas terapêuticas, vou pesquisar. O que hoje é verdade pode não ser amanhã!”; “Vou aproveitar ao máximo cada momento, seja qual for o tempo que me resta”.
Ao abordar a situação dessa forma, a pessoa combina a aceitação realista dos fatos e probabilidades com a esperança e a escolha de agir construtivamente, procurando novas soluções e aproveitando a vida ao máximo, independentemente das circunstâncias. Isso ilustra como é possível manter uma mentalidade realista e, ao mesmo tempo, encontrar uma abordagem construtiva diante de adversidades.
Qual dos dois indivíduos possui uma maior probabilidade de encontrar a felicidade durante um processo de cura ou de desenvolvimento:
- aquele que percebe 0,1% de hipóteses de cura como uma grande esperança;
ou
- aquele que possui 97% de hipóteses de cura, mas desiste devido a focar-se nos 3% de possibilidade de insucesso?
É possível que concorde que será aquele que nutre a esperança, o que viverá com mais plenitude em cada momento. O foco aqui não está apenas no tempo de vida, mas sim na qualidade. Afinal, não é este o objetivo fundamental da existência: ser feliz na maior parte do tempo? Mesmo diante das adversidades, encontrar esperança para prosseguir?
E se lhe dissessem que tem apenas 1% de hipóteses de concretizar os seus sonhos, a carreira que idealizou? Desistiria, tentaria ou deixaria que o destino decidisse por si? Qual é a sua postura perante a vida? Muitas vezes não realizamos o que gostaríamos, simplesmente porque estamos convencidos que não é possível.
Relembrando a história do atleta britânico Roger Bannister: até 1954 os médicos e cientistas afirmavam que correr uma milha em menos de 4 minutos era impossível e qualquer um que tentasse tal feito perderia a vida.
No entanto, no dia 6 de maio de 1954 Roger Bannister desafiou o que era considerado impossível e sobreviveu. Um ano após ele quebrar esta barreira muitos outros atletas conseguiram o mesmo. A convicção inabalável de Bannister de que não há limites intransponíveis levou-o a criar a sua própria visão e, sem saber, inspirou inúmeros atletas a seguirem o seu exemplo.
Conheço pessoalmente uma história recente que ilustra um caso de sucesso notável. Esta narrativa é protagonizada por uma pessoa que ocupa um cargo de direção numa empresa, mas que nutria um inabalável sonho de se tornar uma pintora. Contudo, o receio de não alcançar o sucesso na área artística levou-a a optar por uma carreira de gestão e marketing. Embora estivesse bem e continuasse a prosperar nessas áreas profissionais, decidiu, durante a pandemia, explorar a sua verdadeira paixão – a arte.
Dedicando-se à pintura, criou alguns quadros e obras artísticas. Com o tempo, a qualidade do seu trabalho e a sua paixão pela arte tornaram-se cada vez mais evidentes. Numa série de conversas e eventos, a sua habilidade e talento foram notados por diversas pessoas, resultando num convite para realizar uma exposição que excedeu as suas expetativas. Seguiram outras exposições igualmente bem sucedidas.
Atualmente, esta pessoa mantém-se comprometida com a sua atividade profissional na empresa, ao mesmo tempo que cultiva o seu talento artístico com uma alegria infindável. Pinta revelando a sua autenticidade e profundidade como artista, transmite a sua alma e emoções em cada obra. A dualidade de atividades – carreira corporativa e expressão plástica – evidencia a coragem que demonstrou em certo momento da sua vida, superando os medos e as inseguranças que a impediam de se expressar plenamente. Com valentia, abraçou a sua paixão, contornando os riscos. Assim, vai caminhando e percebendo a cada passo para onde esta nova trajetória a conduzirá.
E se a sua escolha fosse procurar exemplos de sucesso na área que pretende desenvolver? A sua esperança aumentaria? E se identificasse colegas, amigos que alcançaram o trabalho que sempre desejou, seria uma ajuda? Que casos bem sucedidos são conhecidos por si? E que exemplos pode explorar e conhecer, de forma a inspirar-se? Que líderes admira? E por que razão? Quais as empresas e os projetos que anseia abraçar? O que os torna especiais aos seus olhos?
Caso aborde esses exemplos, descobrindo as histórias por trás deles, lendo biografias, por exemplo, evitará a confirmação das suas convicções prévias, as quais até hoje não o ajudaram a alcançar os seus maiores objetivos. Ao ouvir a narrativa dos seus colegas ou de quem admira, não procure encontrar a “sorte” naquelas pessoas, pois estará apenas a validar a desresponsabilização em relação à possibilidade de alcançar algo semelhante. Se acreditar que o seu amigo ou ídolo obteve sucesso apenas por sorte, não estará disponível para aprender quais foram os passos que ele deu até atingir o cargo, projeto ou negócio.
Visualize agora o seu trabalho sob uma nova perspetiva. Imagine que tudo é possível. Qual seria o trabalho dos seus sonhos? Feche os olhos e imagine-se imerso nesse ambiente ideal, explore os detalhes, as cores do espaço, o tipo de organização, as pessoas que o cercam, quem você é, como interage com os outros, como se sente ao realizar esse trabalho, etc.
Conseguiu sonhar? Então, será possível concretizar.
Quando somos profundamente abalados por um acontecimento, como a perda de um ente querido ou o diagnóstico de uma doença grave, a nossa mente transcende o seu “habitat natural” e questiona intensamente as nossas ações e o propósito da vida.
Uma poderosa energia ergue-se e desperta a ânsia de agir de maneira distinta. No entanto, à medida que os dias passam, esses pensamentos desvanecem-se e regressa ao quotidiano monótono e às lamentações habituais: “A minha vida não tem muito interesse”, “é sempre a mesma coisa”, “só sabem exigir”, “é igual em todas as empresas”, “se mudar ainda vai ser pior e mais arriscado, aqui pelo menos sei com o que conto”, “quando me reformar é que vou fazer o que sempre quis!”.
Estes e outros pensamentos invadem alguns colaboradores que vivem aprisionados com a ilusão de serem livres um dia. A sensação de finitude desvaneceu-se novamente. Será que só em situações extremas conseguimos a força para agir? Parece-me que há outras alternativas.
Não se resigne, dispomos apenas de uma só vida (ao menos que saibamos), aproveite-a plenamente e realize as aspirações fortalecendo-se interiormente. Ao concretizar os seus sonhos está a proporcionar uma valiosa ajuda a inúmeras pessoas que anseiam interagir consigo e desfrutar dos seus serviços ou produtos que criou com dedicação. Trabalhe com um propósito autêntico e experimente uma sensação de plenitude ao oferecer a sua contribuição não apenas em prol do seu próprio bem estar, mas também em benefício do bem-estar dos demais.
Não se deixe contaminar pela chamada “impotência aprendida”, uma terminologia adotada pelo psicólogo Martin Seligman a qual significa que a pessoa tem a crença de que não vale a pena reagir a problemas ou encontrar soluções alternativas, pois acredita que não há saída. Essa perspetiva negativa da vida é adquirida ao longo do tempo e acaba por impedir de se questionar sobre as convicções adquiridas. Tal estado pode estar associado a experiências traumáticas, onde a pessoa perde o controlo sobre o ambiente, tenta várias vezes sem sucesso e, por fim, esgota as suas forças, levando-a a concluir: “se não posso mudar, então para quê agir?”
O que poderá fazer para quebrar este ciclo negativo e repetitivo de impossibilidade?
- Estime-se! – Se a sua perspetiva é marcada pela visão de impossibilidade, é possível que se tenha privado a si mesmo do poder de descobrir novas trajetórias. Para superar a falta de autoestima, é fundamental recuperar esse poder. Como fazer isso?
Proponho o seguinte exercício prático:
Numa cartolina branca divida-a em quatro partes distintas:
- No primeiro quadrante, anote as suas conquistas ao longo da vida, sejam elas grandes ou pequenas (Exemplo: ler 2 livros num mês, abrir uma empresa, etc.);
- No segundo quadrante, liste as competências/características/ habilidades que utilizou para alcançar cada conquista (Exemplo: disciplinado, metódico, interesse genuíno nos assuntos, etc.);
- No terceiro quadrante, registe os seus recursos, ou seja, cursos, viagens ou outras experiências enriquecedoras;
- No quarto quadrante, represente as suas conquistas, a sua identidade e conhecimentos adquiridos, através de imagens, que podem ser recortes de revistas ou imagens da internet, que simbolizem cada aspeto mencionado.
- Reprograme-se! – Os pensamentos podem tanto restringir como impulsionar as ações, dependendo do tipo de conteúdo.
Proponho o seguinte exercício reflexivo:
- Pense num objetivo específico que deseja alcançar, mas que tem adiado. Que pensamentos emergem quando se recorda do motivo que o levou a adiar a sua concretização?
- Registe todos os pensamentos que surgem em relação a esse objetivo, elaborando uma lista o mais abrangente possível.
Classifique-os em categorias:
- Pensamentos potenciadores (são aqueles que inspiram e impulsionam a ação).
- Pensamentos bloqueadores (são aqueles que retiram energia e fomentam a procrastinação, dificultando o progresso).
- Reescreva os pensamentos que identificou como “bloqueadores” e transforme-os em pensamentos “potenciadores”.
Por exemplo: “Quero criar um projeto, mas já há tantas pessoas a fazer algo semelhante…” transforma-se em: “Quero criar um projeto e, apesar de existirem muitos similares, vou encontrar características únicas que o diferenciem e me posicionem de forma exclusiva! Vou conectar-me com as pessoas certas obter ajuda e apoio.”
Ao transformar os seus pensamentos limitadores em potenciadores está a capacitar a sua mente para enfrentar os desafios e procurar soluções criativas, permitindo-se avançar em direção ao seu objetivo com mais confiança e determinação. Assumir o papel de autopoliciamento e cultivar a habilidade do autocoaching é crucial para assegurar que os padrões mentais estão de acordo com os resultados que deseja alcançar.
Os resultados positivos surgem para aqueles que acreditam em si mesmos e contam com o apoio de pessoas ao seu redor. Mas nem sempre aqueles que estão próximos são capazes de nos auxiliar da forma mais adequada, embora a sua intenção seja louvável.
Para isso, cerque-se de pessoas que já alcançaram o sucesso ou que estão a fazer esforços nesse sentido. A sugestão de Napoleon Hill é formar um grupo de influência com pessoas que tenham vivenciado ou estejam a atravessar experiências similares, visando expandir horizontes e alcançar resultados mais expressivos por via do apoio mútuo.
As pessoas que assumem um papel ativo na condução das suas carreiras têm objetivos e aspirações bem definidas, demonstrando proatividade e determinação na procura de novos desafios que satisfaçam as suas ambições.
Portanto, comprometa-se de forma proativa com o seu desenvolvimento pessoal, participando em cursos, processos de mentoria ou de coaching, seja com ou sem o suporte da empresa. Há muitas opções hoje em dia adaptadas a cada carteira.
Entenda que a sua resiliência e capacidade provêm do seu interior; o compromisso consigo mesmo deve ser a sua prioridade. Esta atitude assertiva não só atrai a atenção, mas também é percebida como um sinal de maior dedicação e motivação. Esta visibilidade pode trazer-lhe frutos não apenas na organização em que está inserido, mas também para o seu próprio crescimento pessoal e profissional, já que levará consigo esta valiosa competência para onde quer que vá.
Portanto, permita libertar-se de quaisquer limitações autoimpostas e abrace convictamente os seus sonhos, independentemente da sua condição de saúde! Avance, pois o tempo é um recurso valioso e não o conseguirá deter.
Procure viver plenamente, dedicando-se diariamente a cuidar do seu bem-estar físico e mental, e desfrute dos efeitos benéficos que terá tanto na esfera pessoal como profissional, fruto do seu compromisso de autotransformação.
As perspetivas são infinitas quando nos dedicamos a fazer de cada momento uma oportunidade valiosa e construtiva.
Agora é o seu momento de brilhar! Construa a sua jornada repleta de significado e êxito.
Com mais de 25 anos de experiência profissional em contexto organizacional, Inês Santos Silva trabalhou nas áreas de marketing e vendas em multinacionais, idealizou e liderou um projeto no âmbito dos Serviços de Apoio à Família. Desde 2009 tem-se dedicado à area da consultoria, coaching e formação organizacional de líderes e equipas empenhadas na sua transformacão pessoal e de carreira, bem como ao ensino sendo professora convidada no ISG e formadora na ECL.
Licenciada em Gestão pelo Instituto Superior de Gestão (ISG, 1997), Inês Santos Silva é pós-graduada em Comunicação e Psicologia Positiva, pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (FCH-UCP, 2021); certificada em Facilitating and Designing Workshops com a LEGO® SERIOUS PLAY® pela Rasmussen Consulting (The Association of Master Trainers, 2020); consultora especialista internacional em DiSC da Wiley pela Hiper-High Performance (H-HP,2017); trainer certificada em Points of You pela Egor em 2016; trainer em Programação Neurolinguística pela Internacional Association for NLP (IA-NLP, 2015); certificada em Coaching pela International Coaching Community (ICC, 2009).