Portuguesa Immunethep ataca problema global de saúde

Conheça a Immunethep, uma start-up portuguesa que recebeu financiamento da fundação de Bill Gates e que está a travar um problema que anualmente custa quase 50 mil milhões de euros aos sistemas de saúde.
A Immunethep é uma start-up portuguesa que tem como objetivo travar as infeções bacterianas. O primeiro produto – que está em desenvolvimento – é uma vacina que contra cinco infeções deste género que atacam a espécie humana de uma forma mais crítica.
O projeto nasceu de uma análise feita pela empresa Venture Catalysts à propriedade intelectual produzida na Universidade do Porto. A tecnologia em causa, que tinha potencial aplicação no combate a diferentes infeções bacterianas, foi desenvolvida por um grupo de investigação do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).
Desta análise, resultou a parceria entre Pedro Madureira, atual chief scientific officer (CSO) do projeto e membro da equipa de investigação, e a Venture Catalysts, que posteriormente originou a Immunethep.

A Immunethep é uma spin-off da Universidade do Porto. Fonte: FMUP.
A start-up portuguesa está a atacar problemas que custam quase 50 mil milhões de euros aos sistemas de saúde e que, segundo Madureira, matam mais de 50 mil pessoas na Europa e Estados Unidos.
Sendo este um problema grave no atual estado, as estimativas para daqui a 30 anos pioram o cenário. Como nos conta o CSO do projeto, “devido à escassez de novos agentes terapêuticos e ao rápido aumento da resistência a antibióticos destas bactérias, estima-se que, em 2050, esta seja a principal causa de morte à escala global – 1 morte a cada 3 segundos – com perdas na riqueza mundial que superam os 100 biliões de dólares anuais [≈ 80 mil milhões de euros]”.
Visto que este problema ainda não tem solução, a Immunethep está a desenvolver imunoterapias contra cinco das principais infeções bacterianas que afetam a espécie humana. A tecnologia por trás desta nova resposta ao problema baseia-se na descoberta do mecanismo utilizado por várias bactérias para suprimir a resposta do sistema imunitário do hospedeiro/ doente. Desta forma, em vez de bloquear diretamente as bactérias, a vacina desenvolvida pela Immunethep anula o mecanismo de infeção.
Os resultados pré-clínicos, realizados em animais, “apresentam uma eficácia impressionante para as várias bactérias sem a existência de efeitos secundários, nomeadamente não tendo impacto sobre o microbioma[1] do hospedeiro, como acontece com os antibióticos”, explica-nos o CSO.

As bactérias que a Immunethep pretende combater são resistentes à generalidade dos antibióticos existentes. Fonte: RawPixel.com .
A Immunethep é mais um exemplo de uma start-up portuguesa a atacar problemas globais. A existência deste projeto já mereceu a atenção de magnatas como Bill Gates, que, em outubro do ano passado, concedeu uma bolsa para o projeto acelerar a sua investigação através da fundação que tem em conjunto com a sua mulher, a Bill & Melinda Gates Foundation.
Também a Portugal Ventures – que tem especial interesse em iniciativas da área de ciências da vida – apostou no projeto. Em outubro de 2015, o veículo público de investimento entrou na Immunethep. “O investimento da Portugal Ventures serviu para a empresa realizar os ensaios pré-clínicos para o seu primeiro produto, a vacina, o que permitirá agora realizar uma nova ronda de financiamento para iniciar os ensaios clínicos em humanos”, adiantou-nos Madureira.
Até ao final de 2018, os objetivos da Immunethep passam por finalizar uma nova ronda de financiamento (série A) de 15 milhões de euros. Com isto, o CSO explica-nos que pretende “avançar para ensaios clínicos de fase 1 com a vacina e terminar a investigação e desenvolvimento de ensaios pré-clínicos com os anticorpos monoclonais”, esclarece Pedro Madureira.
[1]Microbioma: Comunidade de microrganismos que partilham o interior de um organismo vivo.