Opinião
Brands&Ninjas, a plataforma que ajuda as marcas a auditar o ponto de venda

Chama-se Brands&Ninjas e é uma plataforma DaaS (data as a service), baseada em crowdsourcing, que recorre a uma comunidade de pessoas – que apelida de ‘ninjas’ – para avaliar a presença das marcas no ponto de venda, em tempo real. José Pedro Moura, CEO e um dos quatro fundadores, explicou ao Link To Leaders como nasceu o projeto, em que consiste e até onde querem chegar. Entretanto, estão a trabalhar numa próxima ronda de investimento.
Criada em Coimbra, em 2019, a Brands&Ninjas quer resolver o problema das marcas em auditar, em tempo útil, campanhas, promoções, preços ou stock em prateleira, nos pontos de venda. A start-up nasceu a iniciativa de quatro fundadores: José Pedro Moura com formação em Bioquímica, um doutoramento em Psicologia, e um empreendedor em série com dois exits no currículo; Tony Gonçalves (CTO), formado em Engenharia Informática pela Universidade de Coimbra; Hugo Varrúcio (CBDO), com mais 15 anos de experiência na distribuição alimentar e não-alimentar; e Miguel Antunes (CPO), mestre em Engenharia Informática pela Universidade de Coimbra e com um mestrado em Engenharia Informática e Redes pela Universidade de Bruxelas.
Com um investimento inicial da Core Angels Portugal, a start-up está incubada no Instituto Pedro Nunes e quer consolidar a sua presença em Portugal em vários setores, desde farmácias, balcões de bancos, gasolineiras, stands de automóveis, redes de outdoor, franchising, ao longo deste ano e, posteriormente, avançar para a expansão internacional.
Como define o core business da Brands&Ninjas?
A nossa missão é dar às marcas a possibilidade de auditar, em tempo útil, campanhas, promoções, preços ou stock em prateleira, nos pontos de venda. Com a Brands&Ninjas, as marcas conseguem reunir mais informação útil em pouco tempo, ajudando as suas equipas comerciais a controlar os seus objetivos e campanhas e, mais do que isso, a planear a atividade comercial de forma mais eficiente. A comunidade atual de ninjas consegue completar uma avaliação a nível nacional em 72 horas (valor de referência para uma auditoria a cerca de 800 lojas), conseguindo assim entregar métricas à marca de forma rápida e em tempo útil.
“As empresas gastam milhares de euros em campanhas e promoções para terem mais visibilidade e melhor posicionamento no ponto de venda (…)”
Como surgiu este projeto? O que vos motivou?
A ideia surgiu numa visita do Hugo Varrúcio, cofundador, ao supermercado. Depois de ver um linear (superfície de exposição e promoção do produto) com promoções cujos produtos não correspondiam ao que estava anunciado, o Hugo perguntou-se: “E se eu enviasse esta informação à marca? Não seria essa informação valiosa?” As empresas gastam milhares de euros em campanhas e promoções para terem mais visibilidade e melhor posicionamento no ponto de venda. E, com isso em mente, pensámos que seria útil desenvolver uma plataforma que permitisse fazer esta avaliação e comunicação com as marcas com simplicidade e eficácia. Falámos com o Tony Gonçalves e o Miguel Antunes, também eles fundadores de uma tecnológica de Coimbra, a RedLight Software, e avançámos para a criação da plataforma.
Apesar de estarem a apresentar-se ao mercado agora, a start-up está em testes desde 2019. Como correu essa fase? Enquanto empreendedores, que aprendizagem retiram desse período?
Quando começámos a testar, percebemos que o não cumprimento do que é contratualizado ou definido é muito maior do que prevíamos. Na verdade, são raras as campanhas que são cumpridas com o rigor esperado.
Estes são alguns dos resultados das primeiras missões: Missão Campanha A: Cerca de 70% das lojas não cumpria com o espaço extra contratado; Missão Campanha B: Em 35% das lojas não estava disponível um terço dos produtos que deveriam estar no linear; Missão Campanha C: Campanha não tinha sido implementada em mais de 35% das lojas.
Estes resultados mostram que muito do investimento das marcas em pontos de venda acaba por não resultar em vendas, não por ineficácia dos produtos ou das próprias campanhas, mas porque muitas das condições contratadas não são cumpridas.
Temos sentido os entraves típicos do percurso de uma start-up, mas como empreendedores experientes, não são obstáculos que nos surpreendam.
Como está a correr a implementação do projeto agora? Muitas entraves nesta experiência de empreendedorismo?
Até agora, está a superar as expetativas. A verdade é que, mesmo em fase piloto, conseguimos trabalhar com marcas como a Delta Cafés, a The Navigator ou a Sonae MC. Temos sentido os entraves típicos do percurso de uma start-up, mas como empreendedores experientes, não são obstáculos que nos surpreendam.
Contam com alguma parceria ou investidor nesta fase de arranque?
Não é por acaso que dois dos nossos fundadores são também fundadores de uma tecnológica reconhecida internacionalmente – a Redlight Software. Para nós, o trabalho com a Redlight é chave no desenvolvimento da plataforma, no sentido de termos tecnologia que nos permita escalar.
Em termos práticos como vai funcionar a vossa plataforma?
Através da plataforma, as marcas definem o que querem que seja avaliado no ponto de venda (exemplo: ilha com promoção de 50% do produto X) e constroem missões para os ninjas, indicando-se também o valor a ser pago por cada missão. Cada missão consiste no envio de uma ou várias fotografias (da ilha, por exemplo), sempre georreferenciadas e com timestamps, assim como respostas a perguntas fechadas. À medida que as missões vão sendo realizadas, a plataforma faculta às marcas os dados estatísticos, em tempo real. Para além dos dados estatísticos disponíveis automaticamente na plataforma, as marcas podem ainda fazer download de um ficheiro mais exaustivo com todas as métricas recolhidas durante as missões.
Quanto aos ninjas, a aplicação está disponível para os sistemas operativos iOS e Android, estes podem consultar as missões disponíveis perto de si. As missões são de curta duração (podem variar entre os 2 e os 15 minutos), consumindo assim muito pouco tempo a cada ninja. Por cada missão completa e aceite pela marca, os ninjas recebem um valor, através do seu perfil, na aplicação móvel. O valor de cada missão pode variar, sendo o mínimo três euros.
“A comunidade de ninjas é um dos nossos grandes poderes. Temos uma comunidade extensa e espalhada por todo o país – o que é essencial para fazer uma auditoria eficiente à presença das marcas num elevado número de pontos de venda”.
Qual o papel que a vossa comunidade de “ninjas” tem neste processo de avaliação das marcas nos pontos de venda?
A comunidade de ninjas é um dos nossos grandes poderes. Temos uma comunidade extensa e espalhada por todo o país – o que é essencial para fazer uma auditoria eficiente à presença das marcas num elevado número de pontos de venda. Isto é crítico porque enquanto que numa loja grande, mesmo que haja rutura de stock ou que determinada campanha não esteja assinalada no linear, o cliente pode escolher um produto alternativo da mesma marca, numa loja pequena, o cliente acaba por optar por um produto da concorrência. Embora esse facto faça destas lojas pontos críticos para a operação, é impossível chegar a todas elas com equipas comerciais limitadas e para quem esta tarefa não é prioritária.
A tarefa de confirmação dos termos das promoções e posicionamento no linear cabe, regularmente, às equipas comerciais internas ou a empresas que o fazem em regime de outsourcing. Essas equipas dependem de um número finito de pessoas e, por isso, são limitadas geograficamente, e em termos de horários e trabalho, estando longe de ser uma solução em tempo real. É por isto que muitas das marcas não conseguem avaliar os seus investimentos e o seu verdadeiro posicionamento no ponto de venda: porque é fisicamente impossível irem a todos os pontos de venda, sobretudo aos mais pequenos, e cobrir todas as freguesias e bairros, em tempo útil de avaliar as campanhas contratadas. É aqui que entram os nossos ninjas que passam por um breve processo de formação inicial, comum para todas as missões, que lhes permite que completem a missão de uma forma rápida e eficiente.
Qual o setor, ou setores, com mais lacunas na área do ponto de venda e nos quais acreditam poder ser uma mais-valia para as marcas?
A Brands&Ninjas vem dar resposta às marcas presentes nos mais variados pontos de venda, do grande retalho a farmácias, balcões de bancos, gasolineiras, stands de automóveis, redes de outdoor ou mesmo redes de franchising.
Geograficamente estão a começar por onde?
Embora sejamos uma start-up com sede e equipa de desenvolvimento em Coimbra, estamos presentes em todo Portugal continental, regiões autónomas da Madeira e dos Açores, com a nossa comunidade de ninjas.
“O nosso objetivo não é substituir as equipas comerciais ou de outsourcing que estão a trabalhar para determinada marca, mas sim dar informação de suporte em tempo útil que reforce e otimize as suas funções (…)”
A Brand&Ninjas vai substituir as equipas comerciais ou de outsourcing das marcas ou assume um papel complementar a estas?
O nosso objetivo não é substituir as equipas comerciais ou de outsourcing que estão a trabalhar para determinada marca, mas sim dar informação de suporte em tempo útil que reforce e otimize as suas funções, controlando melhor os seus objetivos e campanhas e planeando a sua atividade comercial. Por exemplo, depois de um dos nossos ninjas identificar as lojas com incumprimentos, nas suas missões, a equipa comercial pode sinalizar os espaços onde o seu acompanhamento é prioritário.
Além da plataforma para marcas, também criaram uma solução white label para ajudar os grupos de retalho a gerir o cumprimento da comunicação de promoções e comunicação. Com funciona esta vertente?
Esta solução tem como objetivo ajudar os grupos de retalho ou as redes de franchising a gerir o cumprimento da comunicação de promoções e comunicação. Neste modelo, a resposta às missões é dada, não pelos ninjas, mas pelos próprios colaboradores da organização cliente, que controlam o cumprimento dos parâmetros de comunicação e/ou presença de produtos definidos.
Como estão as marcas/empresas a reagir à vossa proposta de valor?
Muito bem. Na verdade, as marcas que têm trabalhado connosco têm evoluído no número de missões, uma vez que percebem o valor e agilidade que traz às equipas e a quem está a gerir a presença dos produtos nos mais variados pontos de venda. A tendência é que o budget para novas missões aumente ao longo do tempo, dobrando mesmo o valor, no caso de alguns clientes.
“(…) as empresas gastam milhares de euros em campanhas e promoções para terem mais visibilidade e melhor posicionamento no ponto de venda”.
Numa fase de tanta contenção económica, estarão as empresas preparadas para investir numa solução como a vossa plataforma DaaS?
Como disse, as empresas gastam milhares de euros em campanhas e promoções para terem mais visibilidade e melhor posicionamento no ponto de venda. No entanto, quando se prova que a pouca eficiência das mesmas tem a ver com incumprimento, o investimento na nossa plataforma tem-se tornado mais do que justificado. Por outro lado, o setor do retalho terá sido um dos menos afetados pela crise, tendo algumas marcas do setor crescido em 2020.
Quais as vossas expetativas quanto à aceitação do produto?
Até ao momento, estamos muito satisfeitos com a adesão à solução e temos conseguido bons resultados. A partir do momento em que chegamos ao contacto com os potenciais clientes, conseguimos rapidamente implementar um piloto que lhes permita avaliar o retorno da utilização da plataforma.
Do ponto de vista de negócio, quais os pilares estratégicos do projeto?
A tecnologia e a comunidade. Por um lado, ter uma base tecnológica que permita uma comunicação rápida dos resultados das missões e a tradução desses dados em informação estatística útil que suporte as decisões dos nossos clientes. Por outro lado, a comunidade, uma rede presente de norte a sul do país e do litoral ao
interior e ilhas, que nos permite chegar a pontos de venda críticos para as marcas.
“(…) vamos começar a trabalhar com reconhecimento automático de imagem (…)”.
Tecnologicamente, como pensam fazer evoluir a plataforma?
Em breve, vamos começar a trabalhar com reconhecimento automático de imagem, tornando as missões ainda mais rápidas e de simples execução.
Que as metas que têm definidas para este ano em termos de negócio?
Pensamos dar os primeiros passos na internacionalização em 2022.
Começaram com um investimento inicial da Core Angels Portugal. Alguma ronda de financiamento em agenda para o médio prazo?
Sim, continuamos a trabalhar numa próxima ronda de financiamento que nos permita partir para internacionalização, no próximo ano.