Hospital da Luz integra projeto com maior investimento de sempre para prevenir doença de Crohn

O projeto pertence a um consórcio que integra 21 centros clínicos e de investigação da Europa, América e Ásia dedicados às doenças inflamatórias do intestino.
É um dos maiores financiamentos de sempre para a investigação clínica: 38 milhões de euros para um projeto mundial para descobrir como prevenir e evitar, mas também tratar eficazmente a doença de Crohn, uma doença inflamatória intestinal crónica. O Hospital da Luz Learning Health é o parceiro português deste consórcio, sendo a plataforma nacional para o recrutamento de pessoas para o projeto
‘Mudar o futuro da Doença de Crohn’ – é assim que o INTERCEPT se apresenta. O projeto vai lançar um estudo observacional em grande escala e um ensaio clínico, no qual serão ‘testados’ biomarcadores para a identificação precoce da doença de Crohn e, a partir daí, estabelecer um score de risco para esta patologia. “O objetivo é que com uma simples análise ao sangue seja possível identificar indivíduos com alto risco de desenvolver doença de Crohn e trabalhar na prevenção e na gestão da sua doença numa fase muito precoce”, explica o Hospital da Luz em comunicado.
O ensaio vai recrutar cerca de 10 mil pessoas, familiares em primeiro grau de indivíduos com esta doença, em sete países europeus. Deste grupo, cerca de 80 pessoas identificadas com maior risco, participarão num ensaio terapêutico inovador para prevenir a progressão total da doença.
Joana Torres, médica gastrenterologista do Hospital da Luz Lisboa e especialista em doenças inflamatórias do intestino, é uma das líderes do INTERCEPT e irá coordenar o grupo que, dentro do consórcio, vai identificar e recrutar as 10 mil pessoas que integrarão a primeira fase do ensaio.
“Este projeto tem o potencial de transformar a maneira como abordamos a soença de Crohn. Nos últimos anos, temos assistido à publicação de dados que suportam o conceito de que a doença já existe muitos anos antes de ser diagnosticada, de acordo com os critérios clínicos habituais, e que é possível detetar vias inflamatórias alteradas no sangue de futuros doentes. Assim, a hipótese é que, se formos capazes de desenvolver biomarcadores que permitam um diagnóstico precoce, poderemos também intervir precocemente”, explica a especialista, acrescentando que “atualmente, cerca de 30 a 40% dos doentes são diagnosticados com dano estrutural irreversível a nível intestinal e cerca de 50% dos doentes não respondem às terapêuticas disponíveis. Intervir precocemente numa fase em que não existem ainda sintomas, e quem sabe lesões endoscópicas severas, poderia representar uma janela de oportunidade única para modificar o curso da doença”.
Joana Torres está, desde há vários anos, envolvida em alguns dos mais importantes projetos de investigação internacionais sobre doenças inflamatórias do intestino, nomeadamente doença de Crohn. É, por exemplo, uma das investigadoras do estudo GlycanTrigger, em colaboração com a Salomé Pinho – um projeto também com financiamento europeu, onde se pretende testar um suplemento alimentar no manejo de doentes com Doença de Crohn após cirurgia. É a investigadora principal do estudo clínico CROCO (CROhn’s Disease COhort Study) – um estudo multicêntrico internacional que tem o Hospital da Luz como promotor, envolvendo mais de 20 centros hospitalares da Europa e que tem como objetivo avaliar a progressão do dano intestinal num coorte prospetivo de doentes com doença de Crohn recentemente diagnosticada.
E já tinha sido financiada pela Organização Internacional para o estudo da Doença Inflamatória do Intestino (IOIBD, na sigla inglesa) com uma bolsa de 50 mil euros para a realização de um projeto de investigação sobre a influência de certos fatores ambientais (exposição a metais pesados) no desenvolvimento daquela doença.
O INTERCEPT é financiado pelo Innovative Health Initiative Joint Undertaking (IHI JU), tem um orçamento total superior a 38 milhões de euros para os próximos cinco anos e os seus resultados vão implicar uma significativa melhoria na qualidade de vida de milhões de pessoas com doença de Crohn. O projeto reúne 21 parceiros da Europa, América do Norte e Coreia do Sul.