Gulbenkian premeia liderança climática e trabalho com indígenas
![Cécile Bibiane Ndjebet, Bandi “Apai Janggut” e Lélia Wanick Salgado foram os três premiados](https://linktoleaders.com/wp-content/uploads/2023/07/Cecile-Bibiane-Ndjebet-Bandi-Apai-Janggut-e-Lelia-Wanick-Salgado-foram-os-tres-premiados.jpg)
Bandi “Apai Janggut”, Cécile Bibiane Ndjebet e Lélia Wanick Salgado são os premiados pelo reconhecimento no restauro de ecossistemas.
O Prémio Gulbenkian para a Humanidade 2023 distinguiu três personalidades inspiradoras, reconhecendo a sua liderança no restauro e na proteção de ecossistemas vitais.
Um dos vencedores é Bandi “Apai Janggut”, líder da comunidade indígena Dayak Iban Sungai Utik Long House, situada na floresta tropical de Kalimantan, na Indonésia. É conhecido como o “guardião” da floresta de Dayak Iban pelo seu combate ambiental, de quatro décadas, contra a desflorestação ilegal, a produção de óleo de palma e os interesses corporativos, conduzindo a sua comunidade na luta pelo direito à terra que habita.
De acordo com um estudo conduzido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em 2019, durante mais de 130 anos o povo da Dayak Iban tem gerido de forma sustentável a sua terra, tendo sempre negado ofertas de empresas privadas.
Em 1979, a empresa PT Benua Indah conseguiu uma licença para recolher madeira nas suas terras, mas foi recebida com resistência por parte da comunidade, guiada por Apai Janggut, que, 44 anos depois, continua a liderar o seu povo e a proteger a floresta.
Em 2020 o governo indonésio concedeu o direito de propriedade de 9 453,3 hectares à comunidade Dayak Iban, que atualmente está presente na aldeia Sugai Utik, Batu Lintang, no distrito Embaloh, na regência Kapuas Hulu, e em Kalimantan ocidental.
Uma das outras vencedoras do Prémio Gulbenkian para a Humanidade é Cécile Bibiane Ndjebet, natural dos Camarões, co-fundadora da Cameroon Ecology e presidente da Rede de Mulheres Africanas para Gestão Comunitária de Florestas.
Durante mais de 30 anos, Cécile lutou pela igualdade de género e o direito das comunidades à floresta e aos seus recursos naturais. Ao PNUD, disse que “as mulheres estão realmente a conduzir a restauração. Elas mantêm a floresta viva. Não podemos ter sucesso se trabalharmos isoladamente. O nosso trabalho é trazer todos a bordo.”
Cécile tem liderado os esforços para influenciar políticas de igualdade de género na gestão das florestas em 20 países africanos. É também membro ativo da UN Women Major Group e uma reconhecida advogada para o direito das mulheres à terra em várias redes globais. O seu trabalho inclui a mobilização das mulheres que, em zonas rurais, se dedicam ao restauro dos mangais ao longo da costa de Camarões, tendo conduzido à restauração de mais de 650 hectares de terra em degradação.
Em 2000, fundou a Cameroon Ecology, uma organização não governamental empenhada em promover a gestão dos recursos naturais, a governança local e o desenvolvimento económico. Em 2009, fundou a African Women’s Network for Community Management of Forests (REFACOF), uma rede regional de 17 países da África Central e Ocidental. É também membro de vários outros grupos multilaterais e de iniciativas focadas na conservação e restauro da floresta e na igualdade de género.
A outra vencedora do prémio foi Lélia Wanick Salgado, ambientalista, designer e cenógrafa brasileira.
Estudou arquitetura e planeamento urbanístico em Paris. O seu interesse pela fotografia surgiu em 1970 e, nos anos 80, começou a trabalhar na conceção e design da maior parte dos livros de fotografia de Sebastião Salgado, seu marido, e de todas as suas exposições. Um destes livros chama-se “Amazónia” e documenta cerca de 58 viagens que o casal fez à floresta tropical Amazónia entre 1980 e 2019.
No fim dos anos 90, Lélia e Sebastião criaram o Instituto Terra, uma organização não governamental dedicada à reflorestação, conservação e educação ambiental no Vale do Rio Doce, Brasil. A instituição, serve, também de programa de captação de recursos, criado para pessoas jurídicas (empresas de pequeno e médio porte), e localiza-se na floresta tropical da Mata Atlântica, já plantou quase três milhões de árvores e tornou-se uma referência mundial em termos de restauro dos ecossistemas e de recuperação e preservação ambientais.
O Prémio Gulbenkian para a Humanidade distingue pessoas ou organizações que contribuem com a sua liderança para enfrentar os grandes desafios atuais da humanidade – as alterações climáticas e a perda de biodiversidade. No valor de um milhão de euros, divididos equitativamente pelos três vencedores, Bandi, Cécile e Lélia poderão usar este dinheiro para consolidar os seus esforços ou apoiar novos projetos de restauro.
O prémio, que vai na quarta edição, tem como presidente do júri Angela Merkel, chanceler alemã entre 2005 e 2021. “O júri escolheu estas três personalidades como forma de reconhecer um trabalho de grande transformação no Sul Global, levado a cabo por comunidades que, apesar de serem as mais afetadas pelas alterações climáticas, foram as que menos contribuíram para as causar”, escreveu a chanceler, acreditando que os vencedores “vão continuar a inspirar outros e a desencadear futuras iniciativas climáticas positivas em todo o mundo.”