Opinião

A Guerra dos Donos

Ricardo Tomé, diretor-coordenador da Media Capital Digital

E, de repente, todos querem ser donos.  Tal como na famosa série da HBO, onde vários reis e rainhas lutam para assumir o trono de ferro e reclamar o reinado de Westeros, também pela nossa terra mágica, de repente, vários são os que se colocam em marcha e se dizem os donos do conteúdo.

Se o Netflix reclama, para já, o trono dos conteúdos, dado o pioneirismo e longevidade na área dos conteúdos próprios para digital, com um investimento na ordem dos 6 mil milhões de dólares para este ano (para lá do avultado investimento em infraestrutura tecnológica do seu OTT), logo a seguir os restantes reinos não parecem temer Reed “Lannister” Hastings. O Facebook de Mark “Baratheon” Zuckerberg está já em marcha, com acordos iminentes (ao estilo copy-cat do que fez o Snapchat) com a VoxMEdia ou o Buzzfeed, podendo investir em sitcoms, bem como em ficção de grande produção, até 3M de dólares por episódio (para se ter uma comparação, em Portugal raras são as produções que ultrapassam os 50.000 euros/episódio).

Mas esta guerra dos donos pelo conteúdo acaba de ficar mais animada. A Google, que já tem vindo a investir sobretudo no YouTube, reafirma que, para além das produções com Youtubers, investirá também fortemente em grande ficção, na mesma ordem de grandeza que o Facebook.

Jeff “Tyrell” Bezos e a sua Amazon, que já tinha entrado nos conteúdos escritos ao adquirir o Washington Post, tem também investido nos últimos 2 anos fortemente em conteúdos vídeo, com o intuito de proteger e potenciar o seu ecossistema em redor do Amazon Prime Video. Qual a dimensão das tropas? Perdão, do investimento? 4,5 mil milhões de dólares em 2017, de acordo com estimativas de analistas do JP Morgan, ou seja, a chegar perto do colosso Netflix.

Mas, tal como na famosa série da HBO, as coisas ficam sempre mais animadas com o passar do tempo. Seja com dragões e uma Khaleesi, seja com White Walkers. Neste caso, em vez do frio gélido, o novo velho player vem mesmo do sol da Califórnia: a Apple.

Depois de entrar na música em força, relançando o Apple Music com a aquisição da Beats e a integração de nomes fortes como Jimmy Iovine e Dr. Dre, chegou a vez do vídeo. Qual jogada ao modo PSG por Neymar, contrataram, de uma assentada, 2 pesos pesados na Sony Television Studios – Jamie Erlicht e Zack Van Amburg – e anunciaram que os mesmos terão, para começar, mil milhões de dólares para investir em produção original de ficção no primeiro ano. Nada mau.

Tal como em Game of Thrones, o inverno está a chegar para estas empresas que se digladiarão, com danos colaterais imprevisíveis para todas as tradicionais empresas de media. Felizmente para os espectadores, o inverno será verão, com futuros próximos anos repletos de séries, sitcoms, documentários e filmes originais de qualidade e em quantidade.

O trono de ferro, esse já tem dono.

O conteúdo. Sempre o rei.

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Ricardo Tomé

Ricardo Tomé

Ricardo Tomé é Diretor-Coordenador da Media Capital Digital, empresa do grupo que gere a estratégia e operação interativa para as várias marcas – TVI, TVI24, IOL, MaisFutebol, AutoPortal, etc. – com foco especial na área mobile (Rising Star, MasterChef, SecretStory) e Over-The-Top (TVI Player), bem como ativação de conteúdos multiscreen em todas as plataformas e realizando igualmente a ponte com o grupo PRISA nas várias parcerias: Google & YouTube, Facebook, Twitter, Endemol, Shine, entre outras. Foi, até 2013, coordenador da... Ler Mais..

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