Entrevista/ “Grande parte do interior do país não tinha luz elétrica e ajudámos as aldeias do interior a ter eletricidade”

Mário Chaves, diretor-geral da Palissy Galvani

“Quando as novidades passavam a ser normais e entravam no mercado, começávamos a procurar outras. Isto está dentro da cultura da empresa desde o início. A Palissy Galvani foi, na verdade, uma start-up tecnológica em 1895”, afirma Mário Chaves, diretor-geral da Palissy Galvani, a empresa mais antiga de comercialização de material elétrico que celebra 130 anos.

Foi em 1895 que um grupo de sócios iniciava a história da mais antiga empresa nacional de comercialização de material eléctrico. Na altura, o seu dirigente, Guilherme F. Simões, tinha um plano de negócio simples, mas revolucionário para a época. Aproveitando a crescente divulgação e instalação da eletricidade, a Casa Palissy Galvani era fornecedora de material para diversas repartições do Estado, fábricas e casas particulares e, ao mesmo tempo, possuía pessoal habilitado para fazer instalações e montagem de luz eléctrica e telefones.

Em 1945 a empresa é comprada pelo seu maior fornecedor, Mário Chaves, pelo seu filho mais novo (com o mesmo nome) e pelo seu sogro , Francisco Pereira de Sousa. E não parou de crescer.  No último quartel do século XX a Palissy Galvani conseguiu um crescimento acelerado e uma maior especialização na área de produtos e serviços para a indústria. Nos anos 90 foram adquiridas novas instalações no Chiado, em Lisboa, para onde foi transferida a sede social da empresa. Após 115 anos no centro histórico da capital, a empresa passou, em 2029, a estar concentrada nas instalações que adquiriu na Granja, em Vialonga.

Atualmente, e após celebrar 130 anos, a Palissy Galvani que se mantém na mesma família há quatro gerações quer continuar a fazer história.

“São vários os setores que nos procuram, desde os distribuidores de material elétrico, setor ferroviário e naval e outras indústrias pesadas. Há também multinacionais que nos compram alguns produtos de materiais compósitos para aplicações industriais muito específicas. A Palissy Galvani tem também uma posição tradicional nas minas portuguesas. Para além destes setores, estamos também presentes na construção de túneis, nas indústrias de produção de motores elétricos e em algumas indústrias alimentares“, explica Mário Chaves, diretor-geral da Palissy Galvani, que quer “manter o modelo de negócio”, mas acrescentar “mais marcas de qualidade” ao seu portefólio.

Qual é o segredo do sucesso da Palissy Galvani?

A empresa não tinha praticamente mercado, quando nasceu, há 130 anos. O mercado evoluiu muito até chegar à fase atual e houve um nicho que se estabeleceu. E nós conseguimos estar sempre muito atentos às mudanças e adaptar-nos. Entravam coisas novas no mercado, analisávamos e, caso se justificasse, investíamos. A partir do momento em que o investimento já não justificava, a Palissy Galvani adaptava-se. Havia empresas que concorriam connosco e que faliram porque deixaram de ter o modelo de negócio apropriado. Somos uma empresa pequena, mas somos uma empresa de confiança. É esse o nosso segredo.

“Não vendemos luxo, nem vendemos barato, vendemos a qualidade técnica adequada”.

Se pudesse descrever a empresa num paragrafo, como descreveria?

Não vendemos luxo, nem vendemos barato, vendemos a qualidade técnica adequada.

Quais os marcos mais importantes da empresa?

São vários os marcos importantes da empresa ao longo destes 130 anos. Destaco naturalmente a criação da empresa, em 1895. Mas a nossa história na Palissy Galvani começou em 1945, quando a empresa foi comprada pelas famílias Chaves e Sousa. Um dos marcos importantes foi em 1957, quando a rã, a imagem de marca da Palissy Galvani, que estava no exterior das instalações do Chiado desde 1895 foi substituída por uma rã de bronze da autoria de Jorge Vieira. Alguns anos mais tarde, no final da década de 60, criámos uma ligação muito grande com a parte naval, com a criação dos grandes estaleiros. Antes disso já tínhamos uma ligação forte com os comboios, com a representação de marcas que ajudavam na reparação das novas locomotivas e na formação dos técnicos da CP (Comboios de Portugal).

O projeto de eletrificação rural, nos anos 80, também foi muito importante. Foi nesta altura que a EDP apareceu como uma empresa única nacional na distribuição de energia. Grande parte do interior do país não tinha luz elétrica e ajudámos as aldeias do interior a ter eletricidade. Nos anos 90, investimos também na indústria de cablagem automóvel. Vendemos este negócio quando ele começou a sair de Portugal para o leste Europeu.

No fim do milénio, mudámos as nossas instalações do centro histórico da cidade de Lisboa, no Chiado, e comprámos o sítio onde estamos agora, em Vialonga. A mudança foi feita em 1997, tendo transformado completamente a capacidade de logística da Palissy Galvani. Já em 2003, a Palissy Galvani conquistou outro marco importante: a certificação de qualidade que, fruto de muito trabalho e dedicação, mantemos até hoje. Certo é que continuamos a ter marcos importantes até aos dias de hoje. Recentemente, agarrámos novas oportunidades, como o material para zonas de risco de explosão e introduzimos novos produtos sempre que o nosso mercado assim o exige.

“As pessoas que estão na Palissy Galvani têm muitos anos de casa, muito conhecimento acumulado, o que é fundamental para gerir esta complexidade”.

O que tem sido mais desafiante gerir na Palissy Galvani?

Acho que ninguém no seu perfeito juízo criaria uma empresa juntando diferentes nichos de mercado e isso traz dificuldades específicas de gestão. São mercados e clientes diferentes. A multiplicidade das áreas traz desafios relativamente aos Recursos Humanos, uma vez que é importante ter técnicos que trabalhem as diversas áreas. As pessoas que estão na Palissy Galvani têm muitos anos de casa, muito conhecimento acumulado, o que é fundamental para gerir esta complexidade.

A Palissy Galvani é conhecida pela diversidade das marcas e soluções que apresenta. Esse tem sido um dos vossos objetivos ao longo dos anos?

Desde o início da empresa que sempre foram seguidas várias áreas de negócio. Quando as novidades passavam a ser normais e entravam no mercado, começávamos a procurar outras. Isto está dentro da cultura da empresa desde o início. A Palissy Galvani foi, na verdade, uma start-up tecnológica em 1895.

Quais os setores que mais vos procura? E quais as soluções que mais comercializam?

São vários os setores que nos procuram, desde os distribuidores de material elétrico, setor ferroviário e naval e outras indústrias pesadas. Há também multinacionais que nos compram alguns produtos de materiais compósitos para aplicações industriais muito específicas. A Palissy Galvani tem também uma posição tradicional nas minas portuguesas. Para além destes setores, estamos também presentes na construção de túneis, nas indústrias de produção de motores elétricos e em algumas indústrias alimentares.

“Continuamos a estar numa área de infraestruturas, de produtos que têm a sua própria evolução e onde muitos continuam a ser usados com a mesma filosofia”.

O que mais mudou no mercado do material elétrico? E para onde caminhamos?

Há mudanças em duas áreas: na área industrial, na automação que é um setor onde não estamos, e na área da conectividade. Também há mudanças na área da digitalização, onde também não estamos presentes. Continuamos a estar numa área de infraestruturas, de produtos que têm a sua própria evolução e onde muitos continuam a ser usados com a mesma filosofia. Parte dos materiais que fornecemos estão relacionados com necessidades básicas que continuam a existir e com soluções sempre a melhorar.

A empresa está preparada para as exigências do mercado do futuro?

Nos tempos que correm, ninguém está preparado para nada. Agora estamos todos a equacionar esta nova fase da globalização e não globalização e a inteligência artificial. Estamos confiantes de que, pela variedade de soluções que temos, mesmo que aconteça alguma coisa, a Palissy Galvani não vai sofrer muito com isso. É difícil estar a fazer previsões, mas no geral temos de estar atentos à evolução de cada uma das áreas em que estamos inseridos. É preciso poder adaptar-nos e é isso que a empresa tem feito até ao momento. Ter produtos que não são de consumo normal dá-nos a vantagem de ter um valor acrescentado. Temos marcas que são boas no que fazem e que nos permitem continuar. Somos uma pequena empresa mas um parceiro fiável, os nossos clientes sabem que podem contar connosco.

“Há coisas que nós fazemos e que continuam a ser necessárias e que ainda vão ser usadas durante muito tempo”. 

A Palissy Galvani é representante de marcas internacionais de referência. Quais as vossas apostas para o futuro? Que novidades podemos esperar?

Temos a trabalhar connosco a quarta geração. Cinco a dez anos é um prazo difícil de prever nos tempos que correm. As transformações são rápidas. Há, por exemplo, quem questione a viabilidade da indústria automóvel. É muito difícil fazer previsões. Há coisas que nós fazemos e que continuam a ser necessárias e que ainda vão ser usadas durante muito tempo. Por muito que se altere o panorama, há coisas que não mudam rápido. Temos de estar atentos ao mercado e acompanhá-lo. Bolas de cristal não existem.

O que gostaria de fazer à frente da Palissy Galvani, mas ainda não teve oportunidade?

Temos construído um caminho muito bom. O que aparece no mercado representa sempre oportunidades. Acho que o que a Palissy Galvani tem construído ao longo dos anos é o que tenho como objetivo fazer à frente da empresa. Manter o modelo de negócio, acrescentando mais marcas de qualidade.

Como vê a empresa dentro de cinco anos?

Tudo acontece muito rápido, há coisas que mudam automaticamente e outras que não se alteram. Acima de tudo, espero que daqui a cinco anos a Palissy Galvani continue uma empresa sólida e de confiança. Porque isso é sinal de que o nosso trabalho continua a ter resultados.

 

Respostas rápidas:
Maior risco: A desindustrialização de Portugal.
Maior erro: Esforço insuficiente no rejuvenescimento da equipa.
Maior lição: Gostar do que se faz.
Maior conquista: 130 anos a ser uma empresa de confiança.

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