Opinião

O Futuro veio a Lisboa

Hugo Vaz de Oliveira, head of Media & Partnerships da Beta-i

Ultrapassada que está a caótica semana do Web Summit, e todos os eventos paralelos a ela associada, é possível já fazer um primeiro balanço. Não tanto do seu impacto real, que será apenas visível nos próximos meses, seja por via dos deals fechados, de speakers que voltam a outros eventos, ou de empresas que decidem instalar-se em Lisboa, mas pelo menos das sensações que me deixou…

Notas da edição 2017
Diria que o mote lançado logo de início pelo físico Stephen Hawking, que defendeu que “a inteligência artificial pode ser a melhor ou a pior coisa da Humanidade”, de certa forma pairou sobre toda a conferência. Nesse sentido, foi muito interessante perceber que esta comunidade de techies nerds está também preparada, mais do que para fazer avançar a tecnologia a todo o custo, para a questionar.

De facto, muitas das palestras foram marcadas pelo seu foco nos desafios éticos, de supervisão e de sustentabilidade da tecnologia. Numa altura em que conceitos como os carros autónomos, chatbots, nanorobots cirúrgicos ou drones começam a ser cada vez menos ficção e mais realidade, importa perceber também que tipo de impacto todas essas evoluções podem ter na sociedade, e na forma como organizamos o trabalho, a privacidade, a saúde, etc…

Como sublinhou António Guterres, como pode a tecnologia ser uma força para o bem e um fator de confiança e um instrumento para resolver os principais desafios da humanidade, com enfoque nas alterações climatéricas e nas desigualdades?

Não diria tanto que foi uma surpresa, mas foi notório que o nível dos oradores e palestras subiu bastante em relação ao ano anterior, e, por consequência, o valor a retirar das várias interações ao longo do evento foi também maior, tanto como espectador, ou a nível particular, nos chamados 1×1. Referência também para a maior maturidade dos empreendedores e empresas portuguesas presentes.

Antecipando a edição de 2018
Fugindo ao comentário já gasto das questões logísticas, acessibilidades e outros fatores de natureza mais prática, diria que importa trabalhar e investir ainda na relação do Web Summit com a cidade de Lisboa, enquanto um todo.

Ouvindo as várias críticas, e lendo os vários articulistas que se opõem ferozmente a este tipo de evento, fica a impressão de que a grande maioria na verdade não percebeu o conceito, ou do que se trata. Sei que esta nossa tendência contra-corrente é algo de muito cultural, e numa altura em que a sociedade (não só portuguesa) se encontra tão polarizada e fraturada, se trata de algo quase impossível de contrariar, mas acredito que há um espaço ainda por preencher no que toca ao conhecimento do que de facto representa o Web Summit, especialmente para quem não pertence a “esta” realidade.

Ver fóruns repletos de pessoas inteligentes e normalmente bem informadas como o “Eixo do Mal” ou o “Governo Sombra” debater o Web Summit sem discutir no essencial aquilo que ele de facto representa, antes estando focados em questões paralelas ou menores, e de certa forma aderindo à moda do “sou contra porque todos são a favor”, deixa-me a certeza de que há aqui trabalho por fazer.

O Web Summit não é tanto uma montra de tecnologia e de gadgets, mas antes uma plataforma de networking e investimento, de ligação a redes internacionais de difícil acesso, de identificação de tendências. E isso nem sempre passa para fora…

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