Opinião

Liderança: AI, tecnologia

Carlos Rocha, economista e gestor

Tecnologia na liderança das pessoas? AI, AI, AI, (Artificial Intelligence ou Inteligência Artificial). Para a McKinsey Technology Council, a AI generativa entrou, em 2023, no grupo das tendências tecnológicas e já mostrou potencial para o impacto transformador nos negócios.

De facto, nos últimos anos, o ritmo acelerado de desenvolvimento da AI, como ChatGPT, Bing, Bard ou GitHub Copilot, produz um misto de atenção e otimismo, mas também de preocupações. Essas tecnologias podem ser utilizadas para gerar novos conteúdos tais como texto, imagens, música ou vídeo, ou para resolver problemas de classificação, previsão e controle, de modo a automatizar processos e a aumentar recursos para que se possam tomar as melhores decisões.

A sua popularidade também é assinalável: por exemplo o ChatGPT, lançado em novembro de 2022, alcançou, em apenas cinco dias, um milhão de usuários e, em apenas dois meses, segundo o Business Insider, ultrapassou os 100 milhões de utilizadores, consolidando a sua posição como aplicativo de consumo que mais cresce.

E a própria inteligência artificial vem sendo aperfeiçoada. O aprendizado de máquina (machine learning) pela recompensa/reforço (reinforced machine learning) utiliza, exatamente, os conceitos de recompensa em que o algoritmo é treinado através de uma série de tentativas e erros, sendo premiado ou penalizado com base nas suas ações, o que permite, cada vez mais tomar as melhores decisões. Desta forma, o algoritmo aprende a melhorar o seu desempenho.

Em termos de dimensão económica, o referido Council da McKinsey estima que a AI generativa possa representar até 4,4 bilhões (trillions) de USD em valor económico nos diversos usos.

Com tal crescimento e dimensão, cedo ou tarde, a inteligência artificial generativa chegaria à gestão de pessoas (RH). Seria uma questão de tempo, e agora? AI, AI, AI.

Quem substitui o quê?
Então a pergunta que se impõe é: será que vai roubar os empregos dos gestores de RH? Será que vai roubar os empregos dos maus gestores de RH? Bem, a própria inteligência artificial deve dar a resposta e, acreditando, na própria AI, em princípio não! Pelo contrário, vai libertar os gestores para outras tarefas que não as rotineiras, de seleção e triagem, marcação de entrevistas, etc.

A AI – embora ela própria possa carregar enviesamento – pode ser usada para ultrapassar alguns enviesamentos. Por exemplo, alguns especialistas defendem que, durante o processo de recrutamento, a AI generativa pode ajudar a ultrapassar o velho “problema” de super-estimar as credenciais em detrimento das competências, acelerando uma mudança de abordagem de credenciais (diplomas universitários) para uma abordagem das capacidades que os candidatos possuem suscetíveis de acrescentar valor à instituição. E isso será possível porque a AI procura palavras chaves nos currículos. Exemplificando, cerca de 60% dos trabalhadores dos EUA têm habilidades adquiridas com a experiência, mas carecem de diploma de ensino superior pelo que iniciativas como Tear the Paper Ceiling estão apoiando trabalhadores que têm experiência, mas não diplomas, aumentando a conscientização entre os empregadores e fornecendo recursos.

Onde já está a inteligência artificial
1-No recrutamento e seleção- Atualmente já não é segredo que a maior parte dos processos de recrutamento e seleção feitos on-line incorporam a inteligência artificial como forma de procurar nos currículos, informações mais adequadas ao cargo e assim poderem fazer uma triagem mais assertiva.

2-Na redação, no cinema –  em alguns setores, escritores começam a perder emprego por causa do ChatGPT, porque os clientes decidiram usar o ChatGPT em vez de contratar um redator. Os clientes já não estavam dispostos a pagar por direitos autorais por mais tempo. A greve dos 11.500 argumentistas em Hollywood tem também a ver com a sua substituição pelo AI na escrita dos guiões. Mesmo ao nível dos efeitos especiais, já se usa o deepfake para dobragens e rejuvenescimento de personagens. A AI já pode realizar uma variedade de tarefas não rotineiras, como codificação de software, escrita persuasiva e design gráfico.

3-Nos call-centers já é possível encontrar a  AI;

4-Nos escritórios de consultoria jurídica;

5- Na alta finança e na venda de seguros.

Os resultados
A consultora baseada nos EUA, Challenger, Gray & Christmas descobriu que a inteligência artificial foi a causa de 3,900 perdas de empregos dos 80.000 perdidos no mês de maio, ou seja 5%, e é a primeira vez que a inteligência artificial é citada como causa de perda de emprego. Já a McKinsey estima que 11,8 milhões de trabalhadores atualmente em ocupações com pouca procura podem precisar mudar de ocupação até 2030 e que as mulheres precisarão de mudar emprego 1,5 vezes mais do que os homens.

Para o caso de Portugal, um recente relatório da OCDE estima que, as profissões com maior risco de automatização representam cerca de 27% do emprego.

Assim não é de se estranhar que cada vez mais a AI irá substituir as pessoas em parte significativa das suas ocupações. Sempre foi assim com a tecnologia. A McKinsey estima que até 2030, as atividades que representam até 30% das horas atualmente trabalhadas na economia dos EUA poderão ser automatizadas. O próprio CEO da empresa dona do ChatGPT afirmou que a AI pode fornecer o “salto mais tremendo” para a qualidade de vida das pessoas, mas que seria “uma loucura não ter um pouco de medo da IA” e do seu potencial para criar problemas de desinformação ou choques económicos. A grande vantagem será sempre a capacidade de adaptação e as novas oportunidades que também surgem com as novas tecnologias. É uma grande oportunidade para aumentar a produtividade.

Aproveitar a tecnologia
Podemos ver a AI como uma oportunidade e assim explorá-la a nosso favor. O ChatGPT pode dar dicas sobre como se preparar para a entrevista, por exemplo, debruçando-se sobre as questões que são típicas de uma entrevista de emprego.

Segundo a McKinsey, uma vantagem é que já não precisa ser um cientista da computação para aproveitar a tecnologia e ela pode ser usada em todos os tipos de trabalhos. Para a empresa dona do ChatGPT, 80% dos empregos pode atualmente incorporar recursos e tecnologia de AI generativa.

Por exemplo, já pode utilizar AI generativa para mapear o desenvolvimento profissional que lhe ajude a “visualizar” o desenvolvimento da sua carreira com base nas suas capacidades, habilidades e competências e não apenas nos diplomas. É também uma questão de perspetiva.

Comentários
Carlos Rocha

Carlos Rocha

Carlos Rocha é economista e atualmente é vogal do Conselho de Finanças Públicas de Cabo Verde e ex-presidente do Fundo de Garantia de Depósitos de Cabo Verde. Foi administrador do Banco de Cabo Verde, onde desempenhou anteriormente diversos cargos de liderança. Entre outras funções, foi administrador executivo da CI - Agência de Promoção de Investimento. Doutorado em Economia Monetária e Estabilização macroeconómica e política monetária em Cabo Verde, pelo Instituto Superior de Economia e Gestão – Lisboa, é mestre em... Ler Mais..

Artigos Relacionados