Opinião
Fora do Molde: A metalomecânica portuguesa precisa romper paradigmas para competir globalmente
O futuro de Portugal no setor da indústria metalomecânica exige uma reflexão profunda sobre a nossa competitividade. Como podemos ser mais competitivos e mudar a nossa narrativa e adotar uma visão estratégica a longo prazo?
Acredito que a resposta reside na resiliência, inovação constante e, acima de tudo, numa mudança de mentalidade que promova a transformação e colaboração dentro das organizações.
Portugal já demonstrou uma grande capacidade de adaptação, especialmente em tempos de crise, como a pandemia. Contudo, para o setor da metalomecânica continuar a crescer no panorama internacional, é crucial investir na digitalização e na Indústria 4.0. O uso de tecnologias como o fabrico aditivo e a impressão 3D aumentará a eficiência, a personalização e a flexibilidade produtiva, posicionando as empresas portuguesas num mercado global cada vez mais dinâmico e competitivo.
Durante demasiado tempo, a indústria em Portugal foi vista apenas como um setor de mão de obra intensiva e de baixa sofisticação tecnológica. Esta perceção tem vindo lentamente a mudar, mas é necessário continuar a reforçar a narrativa de que o setor é uma referência de inovação e excelência técnica. Para isso, é necessário desenvolver uma abordagem mais sofisticada ao branding industrial, onde a comunicação da excelência portuguesa se baseia na inovação, na sustentabilidade e na capacidade de resposta rápida às necessidades dos clientes.
A internacionalização é outro fator essencial para o sucesso da indústria. Em 2022, as exportações deste setor atingiram um valor superior a 19 mil milhões de euros, representando 24% do total das exportações nacionais de bens. Os programas Programa Acelerar a Economia ou Internacionalizar 2030 são algumas das medidas políticas de incentivo à internacionalização, com o objetivo de aumentar o volume de exportações e a competitividade das nossas empresas. No entanto, a internacionalização não deve ser vista apenas como uma meta, mas sim como um processo estratégico. Adaptar-se às realidades dos novos mercados, personalizar ofertas e desenvolver parcerias locais são fatores críticos para garantir uma expansão eficaz e sustentável para o estrangeiro.
A adoção de uma visão estratégica a longo prazo depende também da capacidade de quebrar silos organizacionais e fomentar uma cultura de inovação colaborativa. Muitas empresas ainda operam de forma fragmentada, sem uma visão integrada entre departamentos como a produção, o marketing e o desenvolvimento de produto. Para que a inovação seja sustentável e eficaz, é necessário promover a colaboração interna e criar equipas interdisciplinares que possam trabalhar de forma ágil e alinhada com os objetivos estratégicos da empresa e apostar numa formação contínua. Em 2021, a indústria de processamento de metais em Portugal empregava 104.546 pessoas, destacando-se como um dos setores mais significativos em termos de força de trabalho (Fonte: Estatísticas de Portugal (2021)).
Em resumo, o futuro de Portugal no setor da indústria metalomecânica passa por uma abordagem integrada de inovação, resiliência e sustentabilidade. Para sermos mais competitivos, precisamos de adotar uma visão estratégica a longo prazo que abrace valorize a transformação digital, promova a colaboração interna, aposte no desenvolvimento de capital humano e fortaleça o branding industrial. Só assim conseguiremos afirmar-nos num mercado global exigente e consolidar o nosso lugar como um dos principais players da metalomecânica a nível internacional.
Pedro Miguel Costa, CEO do SynereGroup, é formado em economia, com pós-graduação em finanças e pós-graduação de engenharia e gestão industrial. Conta ainda com 12 anos de experiência no setor da banca e com uma vasta experiência na indústria de manufacturing. Conhecido por desenvolver soluções inovadoras e promover ambientes de trabalho colaborativos, oferece uma visão estratégica sobre as tendências no setor industrial e desenvolvimento de negócio internacional.