Opinião

Falhar não é o fim. É apenas o começo!

Susana Duro, Senior Marketing Manager na Coca-Cola Europacific Partners

Estive recentemente numa formação onde passaram um vídeo que me marcou e me inspirou a escrever este texto.

Em 2023, após a eliminação precoce dos Milwaukee Bucks nos playoffs da NBA, Giannis Antetokounmpo foi confrontado com uma pergunta de um jornalista: “Consideras esta temporada um fracasso?” A resposta de Giannis foi inesperada, direta, humana e memorável:

“Meu Deus, perguntou a mesma coisa o ano passado, Eric. Ok, você consegue ser promovido todos os anos no seu trabalho? Não, certo? Então todo o ano de trabalho é um fracasso? Sim ou não? Não. Todo o ano trabalha à procura de algo, com um objetivo, certo? Que pode ser, ser promovido, poder cuidar da sua família, poder sustentar a sua casa, cuidar dos seus pais… trabalha por algo, não é um fracasso. São passos para o sucesso… Michael Jordan jogou 15 anos e ganhou 6 campeonatos. Os outros 9 anos foram um fracasso? É isso que me está a dizer?… É a pergunta errada. Não há fracasso no desporto. Existem dias bons e dias maus. Em alguns dias consegues ter sucesso, outros dias não. Uns dias é a nossa vez, outros dias não. O desporto é sobre isso, não se vence sempre. Outras pessoas vão vencer. Este ano outra pessoa irá vencer… voltaremos para o ano, tentaremos melhorar, construir bons hábitos, tentaremos jogar melhor…. Em 50 anos, de 1971 até 2022, não ganhámos o título, foram 50 anos de fracassos? Não, não foram. Foram passos para o sucesso e conseguimos vencer um título em 2021! Tomara que ganhemos outro!”

Giannis dizia que trabalham todos os dias para dar o seu melhor, para se tornarem melhores jogadores e melhores pessoas. Mas às vezes isso não é suficiente para ganhar o campeonato, mas isso não quer dizer que falharam. Cresceram, tentaram fazer a coisa certa. E no final, isso também conta. Se cairmos e não atingirmos o objetivo, tentamos outra vez no ano seguinte. Mas isso não apaga todo o esforço que foi feito.

Esta perspetiva é poderosa. Desafia a ideia de que o sucesso é apenas o resultado final. Este momento transcendeu o desporto. Toca-nos porque nos obriga a pensar: como olhamos para as nossas próprias falhas?

Vivemos numa cultura obcecada pelo sucesso imediato. Pelos resultados. Pelas métricas. Pelo “atingido vs. não atingido”. E o problema disto é simples: quando o único desfecho aceitável é a vitória, tudo o resto é rotulado como fracasso. Não há espaço para o processo, para a aprendizagem, para a construção. Só para a entrega.

Na nossa vida profissional, quantas vezes evitamos correr riscos por medo de falhar? Quantas oportunidades perdemos por receio de não sermos perfeitos? Quantas ideias ficam na gaveta porque podem “não correr bem”? Quantas conversas difíceis adiamos porque podem gerar desconforto?

E quando algo corre mal, o dedo aponta rápido. Às vezes, o nosso próprio dedo. Temos pouca paciência para a falha dos outros. E ainda menos para as nossas.

Mas a verdade é que o fracasso é um professor valioso. Cada erro é uma lição. Cada queda é uma oportunidade de nos levantarmos mais fortes. Cada passo, mesmo os que parecem falhas, são partes essenciais da jornada.

Não devemos temer o fracasso. Devemos abraçá-lo, aprender com ele e usá-lo como combustível para o nosso crescimento. Giannis lembra-nos que o sucesso não é uma linha reta. É uma montanha-russa de altos e baixos, de vitórias e derrotas, de aprendizagens constantes.

Na liderança, nos negócios e na vida, não é sobre não cair. É sobre ter coragem de levantar e continuar a avançar. A melhorar. A tentar de novo, com mais consciência, mais clareza e mais intenção.

É preciso mudar a pergunta. De “e se falhar?” para “e se não tentar?”

Porque não arriscar é a única forma garantida de estagnar, de não aprender, de não evoluir. Não arriscar, é na realidade falhar.

Falhar não é confortável. Toca no ego, nas expectativas, às vezes no orgulho. Mas é também aí que se esconde a oportunidade de crescimento. A falha, quando bem aproveitada, é um terreno fértil para reinvenção. É onde percebemos o que ainda não sabemos. Onde ganhamos casca. Onde nos tornamos líderes melhores.

Giannis não desvalorizou a derrota. Ele recusou-se a deixá-la definir o seu valor. E nós devíamos fazer o mesmo. Porque quem não falha… é porque não está verdadeiramente a jogar. Esta cultura da exigência está-nos a roubar a coragem. A coragem de arriscar. De criar. De inovar. De dizer: “Não sei, mas quero aprender.” Porque não saber, não acertar à primeira, não entregar o número… é visto como fraqueza.

Mas a verdade é que quem não falha, não está a crescer. Está a repetir. Está a jogar seguro. Está a sobreviver, não a evoluir.

Olhemos para os exemplos.

Sara Blakely, fundadora da Spanx, foi rejeitada por dezenas de fabricantes quando apresentou a sua ideia. Foi ignorada, ridicularizada e aconselhada a desistir. Hoje, é multimilionária e construiu uma marca que mudou a indústria da moda íntima.

Steve Jobs foi despedido da empresa que fundou. E voltou anos depois para transformá-la na Apple que hoje conhecemos. A falha ensinou-lhe humildade, foco e visão.

J.K. Rowling ouviu “não” de 12 editoras antes de “Harry Potter” ver a luz do dia. Do desemprego e da depressão nasceu um dos maiores fenómenos literários da história moderna.

E nós? O que fazemos com as nossas falhas?

Guardamo-las com vergonha. Falamos pouco delas. E exigimos que os outros não tenham nenhumas. Em equipa, muitas vezes culpamos em vez de perguntar. Queremos certezas em vez de teste. Queremos perfeição em vez de processo.

Exigir sim, mas com humanidade

Não se trata de aceitar o erro como desculpa para o desleixo. Exigência é necessária. Rigor também. Mas exigência sem espaço para falhar é paralisante. E, pior ainda, estéril. Ninguém inova, cria ou transforma com medo de ser julgado à primeira queda.

Liderar — os outros e a nós próprios — é saber quando exigir mais… e quando dar espaço para falhar e aprender. É criar contextos onde as falhas são analisadas, sim, mas também acolhidas como parte do processo.

A resposta de Giannis não é só sobre desporto, é sobre mentalidade, é sobre persistência. E é, acima de tudo, um convite.  Um convite, a falhar mais cedo, a aprender mais rápido, a cair e a levantar com mais clareza sobre onde queremos chegar.

Se queremos equipas mais fortes, líderes mais humanos e organizações mais ágeis, temos de começar por aí: aceitar que falhar não é o fim. É apenas o início de algo melhor.

Portanto, da próxima vez que enfrentarmos um desafio ou uma derrota, lembremo-nos: não é o fim. É apenas mais um passo no caminho para o sucesso.


Susana Duro tem mais de 20 anos de experiência no desenvolvimento e implementação de estratégias de marketing para marcas líderes de mercado e um sólido percurso profissional construído em empresas nacionais e multinacionais de referência dentro do mercado de FMCG.

É licenciada em Marketing e Publicidade pelo IADE, pós-graduada em Retail Management e em Direção Comercial no Indeg/Iscte e mestre em Marketing pela mesma instituição. Iniciou a sua carreira de marketing na Henkel Ibérica como gestora de produto, passando depois para brand manager na Dan Cake. Em 2004 entrou para a Nestlé onde esteve durante 11 anos. Aqui desempenhou a função de brand manager da categoria de Culinários, de trade marketing manager na categoria de chocolates e de head of trade marketing na categoria de Cereais de pequeno-almoço. Em 2017 entrou para a Coca Cola Europacific Partners como responsável pela equipa de Customer Development do Canal Alimentar. Em 2022 foi convidada para assumir a função de National Account manager ficando com a responsabilidade de várias contas no canal Horeca Organizado. É também professora na pós-graduação em Gestão de Vendas do INDEG_ISCTE, onde leciona a disciplina de Comportamento do Consumidor.

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