Opinião

Exportar valor made in Portugal

Carlos Sezões, presidente da Plataforma Portugal Agora

A estrutura da economia portuguesa melhorou na última década? Sim! Fruto do engenho e vontade de empresários e gestores portugueses e de vários investidores internacionais, o grande vetor de mudança assentou, como sabemos, nas exportações.

Fazendo uma análise de “ciclo longo”, as exportações representaram já 50% do PIB em 2022, quando contavam apenas 28% em 2008. Vamos por partes. Temos fatores que, nas últimas décadas nos impulsionaram – desde a localização de Portugal, na encruzilhada de três continentes, permitindo-lhe ser uma plataforma giratória para o crescente comércio internacional, ao acesso ao mercado da União Europeia, sem barreiras tarifárias e aduaneiras. O investimento direto estrangeiro impulsionou as exportações, com o estabelecimento de operações para atender a mercados globais. Por fim, tivemos a capacidade de desenvolver clusters industriais, numa ótica de ecossistema, aumentando a eficiência, promovendo a inovação e a colaboração. As indústrias automotive e aeronáutica são exemplos práticos.

Tal permitiu-nos alavancar setores de exportação de notável sucesso, incluindo têxteis e vestuário, calçado, produtos agrícolas, vinho, produtos químicos, metalomecânica e equipamentos industriais. Ou, mais recentemente, a eletrónica, as tecnologias de informação e a indústria farmacêutica. Isto para além dos serviços, nos quais se destaca o turismo.

O que nos bloqueia para ir mais além? Qualquer índice de competitividade apontará fatores que, como País, não controlamos (como as atuais taxas de juro elevadas), outros que poderemos influenciar (a falta de talento qualificado, em áreas como ciências, engenharias e tecnologias) e outros que controlamos, mas nos quais não temos feito um grande trabalho (a elevada carga fiscal sobre as empresas, a burocracia e o acesso a financiamento).

Qual deveria ser a nossa próxima meta nas exportações? Ultrapassar a fasquia de 60% do PIB – como fazem algumas economias abertas europeias, de média dimensão, como os Países Baixos, a Suíça ou a Áustria. Como conseguir esse feito? Para além de endereçar alguns dos fatores mencionados direi, de forma direta: aportando valor! Decompondo o conceito de valor, direi que o faremos com maiores doses de política de produto, de inovação tecnológica e de marca. E sim, falo das marcas nacionais, que devemos robustecer, com foco na economia global, mas também da “marca Portugal”.

No produto, há que conferir maior diferenciação e qualidade para subir na cadeia de valor (algo que fizemos bem no calçado, nos vinhos ou na indústria automotive e aeroespacial). Na inovação, podemos estar na linha da frente de tecnologias emergentes como blockchain, IoT (internet of things), impressão 3D ou realidade aumentada e virtual – exportando produtos e serviços inerentes a clusters de elevado crescimento, como a transição enérgica, os cuidados de saúde, as indústrias criativas ou as designadas smart cities. E reinventarmos alguns modelos e cadeias de valor, alinhadas com as directrizes de sustentabilidade ambiental e social.

Como fazer? Pensando estrategicamente (coisa que fazemos pouco em Portugal) e passar da estratégia à ação, envolvendo todos os stakeholders (empresas, associações empresariais, estado, universidades ou centros de investigação) que “façam acontecer”.

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Carlos Sezões

Carlos Sezões

Carlos Sezões é atualmente Managing Partner da Darefy – Leadership & Change Builders, startup focada na transformação organizacional/ cultural e no desenvolvimento do capital de liderança das empresas. Foi durante 10 anos Partner em Portugal da Stanton Chase, uma das 10 maiores multinacionais de Executive Search. Começou a sua carreira no Banco BPI em 1999. Assumiu depois, em 2001, funções de Account Manager do portal de e-recruitment e gestão de carreiras www.expressoemprego.pt (Grupo Impresa). Entrou em 2004 na área da... Ler Mais..

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